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Depois de passar para a administração privada, o Aeroporto Internacional de Porto Seguro vem crescendo rapidamente

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h29.

A iniciativa privada, como se sabe, tem uma incrível capacidade para injetar novo fôlego na gestão de empresas públicas. Um dos exemplos mais recentes está no setor de transportes. O Aeroporto Internacional de Porto Seguro -- o único desse porte no país administrado por uma empresa privada -- passou por mudanças notáveis desde 1999, quando sua gestão foi assumida pela Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico (Sinart), grupo baiano que atua na administração de aeroportos e estacionamentos e no setor de hotelaria. A Sinart realizou melhoria na infra-estrutura, instalou novos equipamentos de incêndio e investiu no tratamento de esgoto e lixo. Além disso, ampliou os serviços. Na ala de desembarque, o posto da alfândega funciona 24 horas por dia, e não apenas durante a chegada e a partida dos vôos, como ocorria antes. Isso teve reflexo no número de aviões que vêm do exterior e pousam em Porto Seguro. No início de 2000, as aeronaves só vinham de Buenos Aires e Montevidéu. Hoje, o aeroporto recebe passageiros também de Lisboa, Amsterdã, Paris e Milão. O resultado foi o aumento no fluxo de turistas para a região. Desde a privatização, o movimento mais do que dobrou -- passou de 300 000 para mais de 700 000 pessoas por ano --, o que faz de Porto Seguro um dos principais aeroportos do Nordeste.

Em 2001, o aeroporto baiano recebeu um certificado de qualidade máxima, conferido pela Embratur. O documento é uma espécie de ISO dos aeroportos. Como qualquer empresa, um aeroporto precisa dar lucro. Para isso, é vital a busca da eficiência. Aqui entra uma das principais vantagens da administração privada: a agilidade. A contratação de mão-de-obra ou o início de uma obra não dependem de concursos públicos nem de longos processos de licitação. Recentemente, o aeroporto precisou adquirir novas portas com detectores de metais. O intervalo entre a decisão de comprar as portas e sua efetiva instalação foi de 45 dias. "Sob o comando do governo, esse processo duraria no mínimo três meses, por causa da burocracia", afirma Carlos Roberto Rebouças, superintendente da divisão de aeroportos da Sinart e que trabalhou por quase 20 anos na Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero).

Até o início dos anos 90, o aeroporto de Porto Seguro estava sob a responsabilidade da prefeitura municipal. Com o aumento do fluxo de turistas para a região, o governo baiano resolveu assumir a gestão. Mas por pouco tempo. Em 1994, abriu licitação para que uma empresa privada cuidasse da parte administrativa. Na linguagem dos juristas, foi feita uma "concessão onerosa de bem público". Traduzindo: o governo se afastou da administração, deixando a tarefa a cargo de uma empresa privada, que paga cerca de meio milhão de reais ao ano pelo uso do aeroporto.
 

Grandes negócios
Esse modelo de administração ainda é novidade no Brasil. Mas lá fora esses empreendimentos têm sido cobiçados por grandes grupos. No final da década de 80, a Inglaterra foi a pioneira na privatização dos aeroportos, colocando à venda os dois principais de Londres -- Heathrow e Gatwick. Outros países seguiram os passos dos ingleses, como Dinamarca, Áustria e Itália. Em 2002, o aeroporto Kingsford Smith, de Sydney, foi adquirido por 3 bilhões de dólares por um consórcio de empresas liderado pelo Macquarie Bank, um dos maiores bancos australianos. "A privatização ao redor do mundo resultou no aumento do volume de cargas e de passageiros. Além disso, trouxe uma lucratividade maior, enquanto os custos operacionais se tornaram mais baixos", afirma Robert Poole Jr., ex-consultor do Departamento de Transportes dos Estados Unidos.

Os resultados da gestão privada
Mudanças que ocorreram no Aeroporto Internacional de Porto Seguro depois que os terminais de passageiros e cargas foram privatizados
 
Antes
Hoje
Destino dos vôos internacionaisArgentina e UruguaiArgentina, Uruguai, Portugal, Holanda, Itália e França
Alfândegaaberta 8 horas por diaaberta 24 horas
Tráfego de passageiros por ano300 000700 000
Instalaçõesnão havia detectores de metais nem raio Xalém de detectores e do raio X, existem áreas climatizadas e painéis de plasma

Com tantas vantagens, a questão que surge é: por que mais aeroportos não são privatizados no Brasil? Um dos motivos é que o controle dos negócios mais rentáveis está com a Infraero -- que, por razões óbvias, não quer perdê-lo. Outro motivo é que, por enquanto, a iniciativa privada não se mostra disposta a investir em aeroportos pequenos, menos lucrativos. Há dois anos, houve uma tentativa de transformar o aeroporto de Ribeirão Preto, no interior paulista, no maior terminal privado internacional de carga e descarga do país. Por falta de interessados, o projeto ainda não decolou.

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