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De volta ao Senado, Aécio renuncia ou assume presidência do PSDB?

Suspenso das atividades parlamentares desde 18 maio, o tucano voltou nesta terça-feira ao Senado

AÉCIO NEVES: senador defendeu sua trajetória política ao retomar as atividades legislativas / Ueslei Marcelino/ Reuters

AÉCIO NEVES: senador defendeu sua trajetória política ao retomar as atividades legislativas / Ueslei Marcelino/ Reuters

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 4 de julho de 2017 às 17h33.

Última atualização em 4 de julho de 2017 às 19h52.

Brasília - Abatido e com o cabelo mais branco do que o de costume, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) discursou na tarde desta terça-feira em sua volta ao plenário do Senado. Suspenso das atividades parlamentares desde 18 maio, Aécio defendeu sua história na vida pública, relembrando diversos fatos desde que tornou-se político. O discurso atraiu senadores, deputados e o ministro Aloysio Nunes (PSDB), candidato a vice na chapa presidencial de 2014, mas o plenário estava longe de estar cheio. Pelo contrário, a maioria dos presentes era formada por assessores e jornalistas.

“Não cometi crime algum, não aceitei recursos de origem indevida”, disse. “Fui vítima de uma armadilha de um criminoso confesso”, repetindo o discurso comum do governo contra o empresário Joesley Batista. Também como o presidente Michel Temer, Aécio criticou o Ministério Público. O tom, porém, foi menor.

Aécio reafirmou a linha de defesa que vinha tornando pública, ao dizer que o dinheiro recebido era decorrente da compra de um apartamento. O senador foi acusado de receber 2 milhões de reais de propina do Grupo J&F — ele foi gravado por Joesley Batista pedindo o dinheiro em uma conversa cheia de palavrões — e afastado do cargo pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, em maio. A volta de Aécio ao Senado foi autorizada pelo ministro do Supremo Marco Aurélio Mello no dia 30 de junho, após redistribuição do caso dentro do tribunal. Para o magistrado, não caberia à Corte afastar um senador eleito. Por conta da decisão, Marco Aurélio foi citado diversas vezes no discurso de Aécio.

Ao final do discurso, Aécio foi aplaudido timidamente, mas foi abraçado por vários dos presentes. O prestígio parece longe do que já foi.

Aécio exalou confiança aos colegas em seu discurso, mas sabe que a sua situação não é confortável. A acusação ainda é grave e, em uma pesquisa recente, do Pulso Brasil, ele apareceu como a terceira personalidade política mais rejeitada do país, atrás apenas do presidente Michel Temer e do ex-deputado Eduardo Cunha. No entanto, com o risco da prisão praticamente descartado, deve voltar a participar das articulações políticas entre o governo e seu partido, o PSDB.

De imediato, a tarefa de Aécio é não deixar os tucanos saírem da base do governo. Mesmo fora do jogo por alguns dias, ele foi fundamental para que o partido permanecesse unido ao presidente, o que acabou salvando o mandato de Temer até aqui, já que uma debandada poderia ter deixado o governo inviável. Isso porque o senador está envolvido na mesma delação que balançou o presidente. Mais do que isso, Aécio teve sua irmã, Andrea Neves, e um primo, Frederico de Medeiros, presos na operação Patmos. O PSDB, principalmente os caciques do partido, não teria argumentos para explicar um abandono ao governo sem sacrificar um de seus principais expoentes.

Isso não significa que não haja descontentamento interno. A insistência em ficar próximo ao governo causou desconforto e criou um racha dentro da sigla, que dividiu-se entre os chamados “cabeças pretas” e os “cabeças brancas”, em uma alusão aos parlamentares mais jovens e mais velhos. Para os novos, o discurso é de que era preciso aproveitar a oportunidade para marcar um distanciamento do governo e dos casos de corrupção, que acabariam maculando também a imagem do PSDB. Esses parlamentares acreditam que têm mais a perder do que os caciques com a pecha de apoio a possíveis corruptos.

No entanto, entre os tucanos venceu a ideia de que até agora não há nada provado contra o governo. Assim, sob o argumento de que é preciso apoiar as reformas “pelo bem do Brasil”, os tucanos acabaram escolhendo o lado do governo, por mais que ainda sigam em cima do muro para caso um “fato novo” venha a aparecer.

“Temos conseguido convencer cada dia mais colegas da necessidade de sair do governo. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde”, diz o deputado Daniel Coelho, um dos líderes da ala não-grisalha da sigla. “Já somos maioria na Câmara e logo esse será o entendimento de todos”.

Ainda assim, embora desconversem, uma parte dos deputados de “cabeça preta” programa sua saída do partido a partir de agosto, quando o Congresso voltará do recesso. O clima de dúvida só aumenta o subsídio para essa partida.

Como fica o partido?

Para Aécio Neves, agora, o problema é outro. Ele precisa decidir — e logo — se renuncia à presidência do PSDB ou se reassume seu posto. Do jeito que está, como presidente licenciado, não deve ficar. Tasso Jereissati, que assumiu a presidência do partido interinamente com a licença do senador mineiro acha que está passando por um desconforto ficando na posição depois de o colega reassumir os direitos políticos. Tasso deve pressionar por uma decisão rápida. Ou Aécio reassume seu posto — o que embutiria um desgaste grande a imagem dele e do partido — ou encontra uma maneira de referendar a permanência de Tasso até maio do ano que vem, quando uma nova eleição deve ocorrer.

“Só a imprensa levanta a hipótese de Aécio voltar à presidência do partido. Nas reuniões, parlamentares só discutem sobre a melhor maneira de manter Tasso”, diz o deputado Daniel Coelho, ressaltando o “belo” trabalho de Tasso e do líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli, sem citar o líder do partido no Senado, Paulo Bauer.

Esse desgaste sobre Aécio vem tanto da oposição “batendo” na tecla de um acusado de corrupção comandar o PSDB como de fogo amigo, com deputados “cabeças preta” e apoiadores de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, tentando explorar a situação para obter mais influência na executiva nacional do partido, algo essencial para seu plano presidencial em 2018.

“Essa é uma avaliação [se retorna ou não] que deve ser feita por ele mesmo, à medida que achar que já conseguiu dar suas explicações e organizar politicamente. O direito dele é de voltar quando quiser. Ele se afastou voluntariamente e vai saber o melhor a fazer agora”, diz o deputado Caio Nárcio, do PSDB de Minas Gerais, mesmo estado do senador.

Um político da oposição, mas com bom trânsito em todos os partidos, disse a EXAME Hoje que a tendência é que Aécio não fique na presidência do partido e se concentre em sua defesa. Ele lembrou a pesquisa que aponta o senador como um dos nomes mais rejeitados de políticos no país e disse que Aécio é experiente o suficiente para não trazer ainda mais problemas para “casa”.

Ontem, o prefeito da maior cidade do país, João Doria, afilhado político de Alckmin, defendeu a saída do senador da presidência. “É hora de Aécio se afastar e permitir que o PSDB siga seu caminho”, disse. No entanto, se o político mineiro decidir reassumir, dificilmente alguém teria como impedi-lo. Por hoje, Aécio deu conta de se reapresentar no Senado. As batalhas, a partir de agora, serão diárias.

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