O candidato à Presidência, Aécio Neves, durante entrevista coletiva à imprensa, no Rio de Janeiro (Marcos Fernandes/Coligação Muda Brasil/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2014 às 20h29.
São Paulo - O presidenciável do PSDB, Aécio Neves, terá de construir um discurso de fácil compreensão que afaste os temores de que ele possa acabar com o Bolsa Família e deve apostar no apoio do grupo de Eduardo Campos em Pernambuco para reduzir a vantagem da presidente Dilma Rousseff (PT) no Nordeste.
Segundo o coordenador da campanha de Aécio na região, o vice-governador de Alagoas, José Thomaz Nonô (DEM), o principal "bolsão de resistência" a Aécio no Nordeste está nas regiões que têm grande penetração do Bolsa Família, programa que o candidato do PSDB já prometeu por diversas vezes manter.
"Precisa de um discurso claro sobre a Bolsa (Família)", disse Nonô à Reuters. "Conseguindo isso, ele vence o último bolsão de resistência", avaliou.
Nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, quando os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra foram derrotados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por Dilma respectivamente, os temores de que vitórias tucanas significariam o fim do programa tiveram papel importante nas esmagadoras vitórias dos petistas na região, na avaliação do coordenador.
As regiões de maior presença do Bolsa Família no Nordeste são justamente aquelas em que há menor presença do Estado e, segundo Nonô, "a única coisa que chega é a bolsa" e que qualquer temor do fim do programa tem grande impacto.
"Precisa simplificar esse discurso", avalia. "Não precisa de nenhum discurso sofisticado, intelectualizado", acrescentou, lembrando que Aécio apresentou no Senado um projeto que transforma o Bolsa Família em política de Estado e que isso precisa ser levado à população.
No primeiro turno da eleição, Aécio teve 15,4 por cento dos votos válidos na região, enquanto Dilma venceu no Nordeste com 59,5 por cento e Marina Silva (PSB) teve 22,8 por cento dos votos válidos.
As primeiras pesquisas de intenção de voto para o segundo turno de Ibope e Datafolha mostram liderança folgada de Dilma no Nordeste: 59 a 32 por cento e 60 a 31 por cento, respectivamente.
Nonô reconhece que uma vitória de Aécio na região é bastante difícil, mas afirma que se o tucano chegar a um patamar de 40 por cento no Nordeste, será um resultado "excepcional".
Na avaliação do analista político da MCM Consultores Ricardo Ribeiro, no entanto, uma chegada de Aécio a esse patamar de votação entre o eleitorado nordestino seria "uma grande surpresa".
Ele aposta que o tucano permaneça na casa dos 30 por cento na região, que é o patamar próximo ao dos candidatos tucanos nas últimas eleições.
"Tem a Bahia. A Bahia é um grande buraco para ele (Aécio). É o maior colégio eleitoral (do Nordeste) e o PT mais uma vez confirmou ter força lá", disse. A Bahia tem 10,2 milhões de eleitores aptos a votar.
Contrariando as pesquisas de intenção de voto, o candidato petista do governo baiano, Rui Costa, se elegeu no primeiro turno e Dilma teve 61,4 por cento dos votos válidos no Estado no primeiro turno, contra 18,4 por cento de Marina e 18,3 por cento de Aécio.
Pernambuco
Com um cenário difícil na Bahia, Aécio pode ter chances no segundo maior colégio eleitoral da região, Pernambuco, com um eleitorado de 6,4 milhões de pessoas.
Dois fatores explicam o potencial de crescimento de Aécio em solo pernambucano: o espaço que ele tem para crescer depois de ter ficado com menos de 6 por cento dos votos válidos no Estado no primeiro turno e o apoio que ele receberá no sábado da família e do grupo político do ex-presidenciável do PSB Eduardo Campos, morto em agosto.
"O Eduardo Campos ainda está muito vivo para o eleitorado pernambucano... Lá ele ainda está discursando", disse Nonô.
O candidato de Campos ao governo pernambucano, Paulo Câmara, um desconhecido antes da eleição, venceu no primeiro turno com 68,1 por cento dos votos válidos, o candidato ao Senado, Fernando Bezerra, se elegeu com 64,3 por cento e o PT não elegeu sequer um deputado federal no Estado.
Além disso, Marina foi a presidenciável mais votada em Pernambuco, com 48,1 por cento dos votos, à frente de Dilma, que teve 44,2 por cento.
O resultado é em grande parte creditado ao empenho na campanha da família de Eduardo Campos, especialmente da viúva Renata, que vai formalizar apoio a Aécio no sábado.
"(Com o apoio do grupo de Campos) ele (Aécio) multiplica sua votação (em Pernambuco) por sete, na pior das hipóteses", avalia Nonô.
Para o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, o desempenho de Marina, com o apoio do grupo de Campos, incluindo do prefeito de Recife, Geraldo Julio, mostra que é possível Aécio vencer Dilma no Estado.
"Uma vitória de Aécio em Pernambuco interfere no resultado total de Dilma no Nordeste. Dilma precisa ampliar sua vantagem em outros Estados, como a Bahia, para superar uma votação que pode ser ruim em Pernambuco." (Edição de Alexandre Caverni)