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Ações promovidas por criminosos são coordenadas, diz sociólogo

O sociólogo também comparou a resposta do crime no Rio ao observado na cidade de Medelín, na Colômbia

Policiais patrulham rua durante operação na Vila Cruzeiro, cinco dias após atos criminosos (REUTERS)

Policiais patrulham rua durante operação na Vila Cruzeiro, cinco dias após atos criminosos (REUTERS)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2012 às 16h13.

Rio de Janeiro - A reação das organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas, que vêm promovendo uma onda de ataques incendiando veículos no Rio de Janeiro, já era esperada depois que o governo estadual começou a ocupar comunidades em que esses grupos atuavam, com a implantação das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 

A avaliação é do sociólogo e especialista em violência Gláucio Soares, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj). Ele ponderou, no entanto, que ao contrário do que comumente acontece nesse tipo de resposta do crime, as ações estão sendo promovidas de forma generalizada, em várias partes do estado, e sob algum tipo de coordenação. 

De acordo com Soares, reações fortes já ocorreram em outras ocasiões. Ele citou o exemplo de São Paulo, em 2006, quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) também realizou ataques violentos em função da prisão e do deslocamento de seus líderes para presídios de segurança máxima em outros estados. Na época, detentos destruíram instalações de unidades prisionais, atearam fogo nos colchões, torturaram outros presos, agentes penitenciários e reféns. Também houve ataques a ônibus, que foram esvaziados e incendiados.

Para Soares, não é possível prever por quanto tempo a onda de incêndios a veículos será mantida. Ele acredita, no entanto, que o tráfico não tem a estrutura necessária para sustentar indefinidamente as ações.

“Evidente que não é ataque militar com forças fortemente armadas. Eles [os responsáveis pelos ataques] chegam onde não há policiamento e fazem isso de modo mais simples, utilizando coquetel molotov e produtos inflamáveis. Mas não é possível manter isso por muito tempo porque os custos dessas ações para o tráfico são muito altos, tanto em termos financeiros, como de material e de vidas”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.

O sociólogo também comparou a resposta do crime no Rio ao observado na cidade de Medelín, na Colômbia, cujo modelo de combate à criminalidade inspirou as ações do governo fluminense. No local, gangues também promovem violência para retomar o controle do narcotráfico. A cidade foi alvo de uma política baseada em pesada ofensiva militar contra guerrilheiros e paramilitares, reaparelhamento e renovação completa da polícia, além de projetos e intervenções sociais nos bairros pobres.

Gláucio Soares considerou que a cúpula da segurança pública do Rio está agindo de maneira adequada, investindo mais em inteligência policial, retomando áreas que eram dominadas pelo tráfico e fazendo investimentos sociais. Ele destacou, por outro lado, que a existência de mais de 900 favelas dificulta o combate à criminalidade.

Ele também considerou acertada a transferência dos presos que supostamente ordenaram os ataques a presídios de segurança máxima em outros estados. Ele defendeu, contudo, mudanças na legislação prisional que favorece o contato pessoal direto entre detentos e advogados ou parentes.

“Se fosse colocado um obstáculo intransponível como um vidro já seria possível reduzir as chances de que celulares e bilhetes, por exemplo, fossem trocados entre eles”, acrescentou.

Para a socióloga Edna Dell Pomo, do Núcleo de Estudos de Criminologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), as ações de combate à violência geradas pelo tráfico de drogas vão além da pacificação das favelas. Ela defende a intensificação da fiscalização nas rotas de entrada de droga e armamentos.

“Essa questão não vai ser resolvida apenas com UPPs. A grande questão é a origem, como elas chegam. Os traficantes dos morros cariocas são apenas a ponta. Para vencer essa luta é preciso esvaziar o tráfico”, acrescentou.
 

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