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A diferença de palanques entre Bolsonaro e Haddad

Desmobilização em estados que já decidiram seus governadores e "neutralidade" de partidos importantes favorece onda conservadora

Bolsonaro e Haddad: Ontem (26) os dois candidatos trocaram acusações e intensificaram as críticas mútuas (Ricardo Moraes/Amanda Perobelli/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 15h32.

Última atualização em 16 de outubro de 2018 às 18h23.

São Paulo – A disputa de segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) está marcada por uma diferença importante na quantidade de palanques estaduais e municipais.

O caso do Nordeste, única região do país em que Haddad venceu no primeiro turno, é emblemático: em sete dos nove estados, a eleição de governador já foi decidida no primeiro turno.

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Isso significa desmobilização de parte importante da estrutura do PT e de seus candidatos nestes lugares, segundo relatório da consultoria política Arko Advice.

O único estado do Brasil em que o PT tem palanque próprio no segundo turno é o Rio Grande do Norte, onde a senadora Fátima Bezerra liderou a corrida com 46,17% dos votos válidos.

O PSL de Bolsonaro está com palanque próprio em Roraima, com Antônio Denarium, e em Rondônia, com Marcos Rocha.

Os dois candidatos ficaram em segundo lugar e disputam com o PSDB. Em ambos os estados, Bolsonaro teve mais de 62% dos votos no primeiro turno.

O PDT de Ciro Gomes declarou "apoio crítico" a Haddad em plano nacional, mas 3 dos seus 4 candidatos a governador já contrariaram a decisão declarando apoio a Bolsonaro: Amazonino Mendes no Amazonas, Juiz Odilon no Mato Grosso do Sul e Carlos Eduardo no Rio Grande do Norte.

"Neutralidade"

Vários partidos preferiram não se posicionar oficialmente no segundo turno, liberando seus correligionários para apoiar o seu candidato de escolha, mas a dinâmica favorece Bolsonaro.

O PSB federal, por exemplo, declarou apoio a Haddad, mas liberou os diretórios do Distrito Federal e de São Paulo para fazer suas escolhas.

O cálculo é que não se poderia constranger o atual governador Márcio França, que despontou para o segundo turno, em um estado onde Bolsonaro teve 53% dos votos. Ele se declara neutro.

O PSDB também declarou neutralidade, mas o apoio a Bolsonaro já foi explicitado pelos candidatos João Doria em São Paulo e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul - ambos líderes nas pesquisas.

O Partido Novo também está oficialmente neutro, mas destacou sua oposição ao PT em comunicado. E Romeu Zema, que lidera em Minas Gerais pelo partido, já tem posição:

"Não que eu concorde com todas as coisas que o Bolsonaro fala, há muitas que não sou a favor. Mas a parte econômica se assemelha muito com o que o Novo prega, e não posso apoiar o PT depois de tudo que fizeram com o país. Sou mais anti-PT", disse em entrevista para EXAME.

O mesmo vale para os partidos do centrão que estavam com Alckmin no primeiro turno. Com fraca identidade ideológica, eles tendem a gravitar para onde está a força política: com Bolsonaro.

A consultoria Prospectiva fez um levantamento com base na tendência de apoio de diretórios estaduais dos partidos do centrão em alguns estados-chave.

Depois, cruzaram com o número de prefeituras desses partidos e a quantidade de eleitores governados por elas.

O resultado: a influência municipal daria a Bolsonaro um universo potencial de 20 milhões de votos, contra 14 milhões de Haddad.

Christopher Garman, cientista político e analista para as Américas da consultoria política Eurasia, não acredita que esta desigualdade seja um grande fator de influência:

“Tem a ver com a demanda do eleitor, não com palanques. A mensagem de mudar a política é muito forte e Bolsonaro é quem está alinhado com isso”.

(Colaboração de Ana Paula Machado)

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