Rio é a vitrine da falência dos municípios brasileiros
Um alívio pode vir de uma PEC aprovada ontem pela Câmara que libera R$ 59 bilhões em quatro anos para as cidades brasileiras
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 07h07.
Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às 07h46.
São Paulo — A crise sem fim do Rio de Janeiro é um caso limite da crise que se espalha pelos municípios brasileiros. Assim como no Rio, o cenário combina, em maior ou menor monta, incompetência na gestão com os efeitos devastadores da renitente crise econômica e fiscal da União. Este deve ser um dos grandes temas das eleições municipais de 2020 .
Os dados de municípios são defasados — os mais recentes, de 2017, mostram que eles receberam 20% da receita disponível do setor público, ante 20,2% no ano anterior.
Com menos dinheiro, as cidades investem menos — os investimentos caíram de 60 bilhões de reais de média anual entre 2010 e 2014 para 27 bilhões de reais em 2017. Mas as despesas com pessoal e os encargos sociais não param de crescer: avançaram 2,6% em 2017, para 282 bilhões de reais. A crise fica mais aguda nas despesas mais concentradas na esfera municipal, como saúde e educação, duas das tragédias mais acentuadas no Rio de Janeiro.
A PEC Paralela da reforma da Previdência , concebida para incluir estados e municípios na reforma das aposentadorias, pode trazer um alívio gradativo às contas municipais. Mas o projeto foi desfigurado pelo Senado, mirando a inclusão de novas categorias, como os guardas municipais, em lugar de se ater à sua pauta original. O texto deve ser apreciado pela Câmara no início de 2020.
Um alívio pode vir de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada ontem pela Câmara. A proposta amplia os recursos repassados às cidades por meio do Fundo de Participação dos Municípios, com recursos do imposto de renda e do imposto sobre produtos industrializados. De acordo com a proposta, o aumento do repasse será escalonado nos próximos quatro anos, começando em 0,25% em 2020 e chegando a 1% em 2023. No total, a proposta deve liberar 59 bilhões de reais aos municípios nos próximos quatro anos.
Em 2020 o Congresso deve se debruçar sobre o superpacote de reforma do estado do ministro da Economia, Paulo Guedes, que prevê, entre outras medidas, o fim de municípios com menos de 5.000 habitantes. Seria uma medida drástica para mudar resolver o drama de cidades inviáveis economicamente.
Não é, claro, o caso do Rio de Janeiro, vítima de uma enorme incompetência na gestão. A cidade suspendeu ontem os pagamentos para todos os fornecedores e do décimo terceiro salário para os servidores para “ajustar o caixa”. Ainda ontem, o secretário de Fazenda do Rio, Cesar Barbiero, afirmou que a saúde financeira do município está “melhor que a minha”. A reportagem de EXAME não tem mais detalhes sobre o estado de saúde do secretário, mas recomenda, ao menos, exames nos olhos para ver o que acontece em sua volta.