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"Houve uma mudança completa em 48 horas", diz Bolívar Lamounier

"Sem tirar o mérito de Jair Bolsonaro, eu diria que por trás de 70% dos votos de hoje está o sentimento anti-PT", diz cientista político

"Votação reflete um desejo da sociedade de um murro na mesa", diz cientista político (Laílson Santos/Divulgação)

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de outubro de 2018 às 20h17.

Última atualização em 7 de maio de 2019 às 14h46.

São Paulo - O cientista político Bolívar Lamounier vê que o resultado parcial das eleições de hoje mostram um profundo sentimento de repúdio da sociedade brasileira à política tradicional, aos partidos políticos e, especialmente ao Partido dos Trabalhadores, cujos candidatos tiveram votações abaixo da média.

Veja e entrevista realizada na noite deste domingo:

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Que país surge das urnas?

Houve uma onda muito forte contra o centro políticos e em especial contra o PT, partido que vem sofrendo derrotas acachapantes. Além de ficar atrás de Jair Bolsonaro na eleição nacional, chama a atenção a má votação de ícones do partido, como a da ex-presidente Dilma Rousseff em Minas Gerais e de Eduardo Suplicy em São Paulo, ao Senado.

É impressionante ver que Suplicy, que foi senador por 26 anos, deve ficar de fora do Senado. Sem tirar o mérito de Jair Bolsonaro, eu diria que por trás de 70% dos votos de hoje está o sentimento anti-PT.

O que está por trás desse sentimento?

São vários fatores. Há o desemprego alto, a recessão deixada por Dilma, mas especialmente a estratégia do ex-presidente Lula de se sobrepor às leis, à Constituição, e decidir ser candidato à presidência mesmo assim.

É também o caso de Dilma, que deveria ter tido seus direitos políticos cassados. Além disso, essa votação reflete um desejo da sociedade de um murro na mesa, de não compactuar mais com práticas políticas que levaram o país a ter escândalos sucessivos de corrupção.

Como saem desta eleição os partidos tradicionais, como PT e PSDB?

Muito chamuscados. O PT de Haddad e o PSDB de Alckmin não inspiram confiança no eleitor. O eleitor queria essa mensagem e nenhum dos dois conseguiu isso. Os partidos não souberam interpretar sentido de mudança, de conter as arbitrariedades na política.

 

Foi uma eleição de surpresas?

Com certeza. Veja no Paraná, onde o ex-governador Roberto Requião, do MDB, praticamente caudilho no estado vai perdendo a corrida ao Senado. Em Minas Gerais, o NOVO vai tendo um feito notável ao colocar Romeu Zema no segundo turno. É o mesmo caso do Rio de Janeiro, com uma reviravolta profunda ao ter Wilton Witzel em primeiro lugar.

Houve uma revoada completa de votos nas últimas 48 horas. É o clima da sociedade brasileira, que pede mudança de comportamento e reformas. Infelizmente os partidos tradicionais não entraram nessa sintonia.

Como fica a agenda reformista?

Caso vença uma eleição de maneira completamente inesperada, Bolsonaro terá condições se colocar gente de prestígio na economia. Além disso, terá trégua por alguns meses. Se conseguir dar foco à economia e deixar as questões morais em segundo plano, conseguirá ter credibilidade com investidores.

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