7 perguntas para o movimento Acredito, que mira eleição de 2018
Sem se ater a conceitos de esquerda e direita, movimento pretende lançar de 10 e 30 candidatos para o Legislativo nas eleições 2018
Talita Abrantes
Publicado em 25 de março de 2018 às 07h30.
Última atualização em 26 de março de 2018 às 19h21.
São Paulo – É em um espaço de coworking no Itaim em São Paulo (um bairro que viu florescer muitas empresas inovadoras) que a liderança nacional do movimento Acredito se reúne para organizar as bases de um projeto que visa renovar cerca de 10% do Congresso Nacional nos próximos dez anos.
Ele são majoritariamente jovens e, como bons representantes de sua geração, estão investindo em um movimento, segundo eles, sem muitas amarras em contraponto à estrutura rígida de uma boa parte dos partidos políticos.
“A gente está empreendendo na política. O empreendedorismo sempre é voltado para o desenvolvimento econômico, mas nós estamos empreendendo para o desenvolvimento social”, afirma Alessandra Monteiro, gestora de captação de recursos do Acredito que pretende tentar uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo pela segunda vez neste ano.
Sem se ater aos limites de esquerda e direita, o grupo prepara uma agenda programática para defender durante as eleições de 2018 e pretende lançar entre 10 e 30 candidatos para o Legislativo federal e estadual nas próximas eleições. As candidaturas devem ser lançadas em parceria com algumas siglas e serão definidas por um processo seletivo interno similar às prévias partidárias. Entenda:
Por que um movimento de renovação política?
José Frederico Lyra, coordenador nacional do movimento Acredito, conta que a formação do grupo remonta aos protestos de junho de 2013. A ideia, segundo ele, era transformar a indignação em ação política. “Vários de nós estavam atuando com algum projeto de impacto no Brasil, mas percebemos que, enquanto a gente não fosse para a política, sempre iríamos bater no teto dos tomadores de decisão”, afirma. Como outros movimentos, a proposta, segundo ele, é fazer uma renovação de pessoas no Congresso Nacional e assembleias legislativas, mas também trabalhar por uma “renovação de princípios, ideais e práticas” na política em um plano de 10 anos. A meta é representar 10% do Congresso Nacional até 2026.
Por que o foco no Congresso?
Dois motivos levaram o grupo a focar seus esforços no Congresso Nacional. O primeiro é o descompasso entre o perfil do Legislativo brasileiro e a população. “O Congresso não reflete a sociedade, não reflete as ideias e não é o que deveria ser em termos de um exemplo de práticas”, diz Lyra. A outra razão está relacionada à cultura política do brasileiro, que tende a focar mais no Executivo na hora de votar: “A gente quer quebrar esse ciclo. Se a gente quer renovar a política não é só presidente, você começa por todo o Legislativo”.
Quais são as metas para as eleições de 2018?
Para as eleições de 2018, a ideia do Acredito é ter entre 10 e 30 candidatos ao Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. O movimento também pretende fechar uma agenda programática em torno dos seguintes temas: reforma política, reforma da Previdência, educação, segurança pública, empreendedorismo e inovação. Para construir essas propostas, o Acredito pretende “olhar para as evidências”, para o que os especialistas afirmam, mas também escutar as pessoas que serão diretamente impactadas por eventuais mudanças. Até agora, só a agenda sobre reforma política está fechada.
Em outra frente, a meta é engajar a sociedade em temas atuais e coerentes com os valores defendidos pelo movimento. Como exemplo, em novembro, o grupo organizou um protesto contra uma escola no Ceará que negou matrícula a uma aluna transgênero.
“Em 2013, as pessoas se organizaram para ir às ruas, mas voltaram para casa desorganizados. A gente está organizando as pessoas, indo para as ruas e voltando para casa organizados, dando os próximos passos”, afirma Samuel Emílio, coordenador de engajamento do Acredito.
Por que não criar um partido?
“A gente não virou um partido primeiro porque a gente acha que os nossos valores e propostas cabem em mais de uma sigla. E, no meio dos mais de 30 que existem, por que criar mais um? Além da burocracia para fazer isso”, afirma Lyra. Por outro lado, Alessandra Monteiro, gestora de captação de recursos do Acredito, afirma que os partidos perderam a função de espaço de participação e formação política. “O que a gente faz é ressignificar esse espaço de participação, gerar a oportunidade de que pessoas que não se conectam com a política institucional também tenham a oportunidade de participar”, diz.
Qual será a relação com os partidos políticos?
A estratégia do Acredito para lançar candidatos neste ano é fechar parcerias com partidos políticos já existentes. Neste mês, o movimento anunciou uma parceria com o PPS e Rede e já tem conversas avançadas com outras legendas. Esses acordos, no entanto, não impedem que membros do movimento ingressem em outras legendas.
Na prática, a ideia, com essas parcerias, é manter a identidade e independência política dos integrantes do grupo dentro da estrutura dos partidos. “Como as candidaturas independentes ainda não estão legalizadas, o movimento está tentando construir uma ponte com os partidos para que novos líderes públicos tenham, minimamente, sua visão, posicionamento e, uma vez eleitos, mandato preservados”, diz Alessandra.
Segundo Lyra, haverá uma certa flexibilidade para os membros do Acredito caso as posições do partido e do movimento em termos de agenda não sejam conssonantes. Mas, de acordo com ele, alguns valores serão inegociáveis. “A gente não pode aprovar modelos que mantenham privilégios e aumentem a desigualdade, por exemplo”, diz.
Como o movimento é sustentado? Como impedir pressões de doadores sobre eventuais eleitos?
O Acredito é financiado por doações de pessoas físicas e de fundações por meio de projetos específicos. As doações são limitadas a 20% do orçamento vigente do movimento e serão divulgadas ao final de cada ano.
O Acredito já foi chamado de "MBL progressista", esse apelido é correto?
Os integrantes do movimento são categóricos ao afirmar que pretendem “virar a página da polarização radical”. “Enquanto alguns movimentos crescem com o embate, queremos ver o que nos une para além da esquerda e da direita. Se eu acho que o Brasil é desigual, eu tenho que necessariamente ser contra a privatização e achar que a Venezuela é uma democracia? Ou se sou a favor de um Estado eficiente, devo achar que ele tem que ser mínimo? Essas separações e dicotomias não são verdadeiras no mundo de hoje. Os conceitos da Revolução Francesa talvez não expliquem 2018”, diz Lyra.