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5 casos de racismo que chocaram o Brasil

Incidente mais atual ocorreu no último fim de semana em frente a uma loja da Animale, em São Paulo

Fachada da loja da Animale na Oscar Freire - onde episódio de discriminação aconteceu (Reprodução/Facebook/Jonathan Duran)

Daniela Barbosa

Publicado em 2 de abril de 2015 às 14h51.

São Paulo – Episódios de racismo são recorrentes no Brasil – alguns vêm à tona, mas a grande maioria não.  O caso mais recente aconteceu no último fim de semana, após um menino de 8 anos ser expulso da calçada de uma loja da grife Animale, na Rua Oscar Freire, em São Paulo, por uma funcionária do próprio estabelecimento.

O pai da criança , um americano erradicado no Brasil, Jonathan Duran, por meio de relato no Facebook, fez um desabafo afirmando que “em certos lugares em São Paulo, a pele do seu filho não pode ter a cor errada”.

Em nota, a Animale, por sua vez, disse que “repudia qualquer ato de discriminação e o evento está sendo apurado internamente". Para Duran, o posicionamento chega a ser frustrante.

“A loja quer colocar toda a culpa na funcionária, dando a impressão que esse tipo de situação não acontece da porta para dentro”, afirmou o estrangeiro em entrevista à EXAME.com.

Segundo Duran, ele e sua família nunca havia vivido nada semelhante, por isso, em um primeiro momento, o choque com a situação foi inevitável. “Mas até esperávamos que um dia pudesse acontecer”, disse.

Processar a grife ainda não foi totalmente descartado por Duran, que na próxima semana encontrará representantes da marca para discutir  a situação. “A severidade da lei é até razoável neste tipo de situação no Brasil, mas dá trabalho e pode expor ainda mais a criança”, afirmou o americano.

Para Duran, divulgar o fato é um de seus objetivos, uma vez que sua história pode servir como exemplo para que episódios como esse não voltem a acontecer.   Outros casos semelhantes também chocaram o país recentemente. Veja a seguir alguns deles:

Expulso de uma loja BMW

No início de 2013, por meio de uma denúncia feita no Facebook, um casal do Rio de Janeiro chamou a atenção do país após o filho, de 7 anos na época, negro e adotado, ter sido vítima de preconceito racial em uma concessionária da BMW.

O casal e o filho foram todos à loja Autokraft, na Barra da Tijuca, para olhar um automóvel. No local, o garoto ficou em um espaço separado assistindo a um desenho animado na televisão, enquanto eles foram encaminhados pela recepcionista ao gerente de vendas da loja.

A discriminação aconteceu quando o menino foi procurar os pais e se aproximou deles. Um gerente da loja se dirigiu a ele dizendo que não poderia ficar no local. “Aqui não é lugar para você. Saia da loja",  teria dito o funcionário da concessionária ao garoto.

Indignados com a situação, os pais da criança criaram a página no Facebook  “Preconceito racial não é mal-entendido” e o episódio ganhou repercussão nacional.

Após quase dois anos do ocorrido, o caso foi encerrado no ano passado e a concessionária da BMW Autokraft foi condenada por danos morais.

Caso do goleiro Aranha

Um simples jogo de futebol pela Copa do Brasil, em agosto do ano passado, foi cenário para outro episódio de racismo. Depois de ver seu time perder por 2 a 0 do Santos, a gremista Patrícia Moreira da Silva foi flagrada por câmeras chamando Aranha, goleiro do time rival, de macaco.

Patrícia não foi a única a ofender o goleiro, outros torcedores do Grêmio também o insultaram. Na época, Aranha chegou a declarar que ficou chateado com a situação.

"Já estou dando o recado para ficarem espertos na próxima partida aqui. Tem leis sobre isso, existe campanha no futebol para combater isso, e a gente sabe que o torcedor usa de várias maneiras para desestabilizar o adversário. Dói muito, mas tive de fazer minha parte e reagir", afirmou o goleiro, que pediu para um câmera filmar os insultos.

Depois de identificada, a torcedora do Grêmio foi ameaçada de morte e estupro e teve a casa apedrejada e queimada. Patrícia admitiu que insultou o jogador e viu seu time ser expulso da Copa do Brasil por ofensas racistas.

No futebol, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, é comum episódios de racismo.

Na última quarta-feira,  Elias, do Corinthians, bateu boca com Gonzalez, do time uruguaio Danubio, e saiu reclamando de racismo por parte do lateral do time adversário.

Também no ano passado, um caso envolvendo o brasileiro Daniel Alves ganhou repercussão por aqui. O jogador ironizou um ato racista comendo uma banana atirada no campo em uma partida entre Barcelona e Villarreal, depois que o atleta do time catalão virou a partida garantindo a vitória para o Barcelona.

PM precisou se despir

Também no ano passado, Edson Lopes, um cabo da Polícia Militar, foi vítima de um episódio de racismo em um supermercado de Vitória, no Espírito Santo.

O policial afirmou na ocasião que foi obrigado a se despir para provar aos seguranças do estabelecimento que não estava roubando dois vinhos comprados minutos antes do ocorrido.

Por ser negro e estar usando bermuda e chinelo, Lopes declarou na ocasião que os seguranças o confundiram com ladrão.

Australiana denunciada duplamente

Um ano atrás, uma australiana que vive no Brasil foi denunciada duplamente por racismo pelo Ministério Público do Distrito Federal. Louise Stephanie Garcia Gaunt teria se recusado a ser atendida por uma manicure negra em um salão de Brasília.

A estrangeira também é investigada por destratar duas funcionárias terceirizadas da  Companhia Energética de Brasília (CEB), empresa onde a estrangeira trabalha.

Louise ainda ironizou os episódios durante interrogatório alegando que teria sido criada em ambiente estrangeiro e não foi acostumada a ter relação com pessoas negras.

São Paulo – Na última quinta-feira, a rede de lojas de departamento Riachuelo foi alvo de denúncias por racismo , ao publicar uma campanha em que uma mulher negra servia uma branca. Porém, este não foi o primeiro caso. Marcas como Nivea , Dove , Bombril e Microsoft já protagonizaram episódios assim e tiveram que se desculpar perante aos consumidores. Relembre, a seguir, outras campanhas acusadas de promover o racismo:
  • 2. Riachuelo

    2 /8(Reprodução/Youtube)

  • Veja também

    A Riachuelo causou polêmica nas redes na tarde de ontem ao divulgar a campanha para o Dia Internacional da Mulher. Nela, uma mulher negra serve uma branca. Com o conceito “O dia da mulher brasileira”, o filme de trinta segundos traz uma modelo branca como principal, seguida dos braços, mãos e sombras de uma mulher negra colocando acessórios da Riachuelo - como colares e sapatos - nela. A reação dos internautas nas redes sociais foi tão negativa que a marca retirou o vídeo da campanha do Youtube horas após a publicação.
  • 3. Microsoft

    3 /8(Getty Images)

  • Em 2009, a Microsoft pediu desculpas publicamente ao ter o nome de sua marca envolvida em uma denúncia de racismo. Ao publicar uma campanha global, a marca utilizou três modelos, sendo um deles negro. A polêmica foi gerada porque, apesar de ter âmbito mundial, a empresa de softwares substituiu o personagem negro por um branco para divulgar a peça na Polônia . A troca, no entanto, ocorreu apenas no rosto dos personagens, pois as roupas e as mãos permaneceram as mesmas, o que gerou comentários negativos por parte dos internautas que perceberam a gafe.
  • 4. Duloren

    4 /8(Divulgação/Duloren)

    Em 2012, a marca de lingerie Duloren teve que tirar de circulação uma campanha publicitária a pedido do Conar . O fato se deu, pois o anúncio trazia uma mulher negra vestindo lingerie ao lado de um militar desacordado sem o quepe. Ao lado da foto, o slogan “Pacificar foi fácil, quero ver dominar”, gerou polêmica entre os internautas, que consideraram a ação racista e machista.
  • 5. Bombril

    5 /8(Divulgação)

    A Bombril recebeu uma denúncia da Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial em 2012, pela campanha “Mulheres que Brilham”. A polêmica ocorreu, pois o logo da marca estava sobre os cabelos de uma caricatura de mulher negra, o que acabou remetendo o produto da empresa aos cabelos crespos. Apesar da denúncia não ter sido acatada pelo Conar , a Bombril alterou a imagem da campanha para evitar outras confusões.
  • 6. PepsiCo

    6 /8(Bloomberg)

    No ano passado, a PepsiCo retirou uma campanha do refrigerante Mountain Dew do ar depois de ter sido acusada de racismo e de banalização da violência contra a mulher. A peça era um vídeo de um minuto, que retratava uma mulher indo à delegacia denunciar uma agressão. No local, o policial pediu para que a moça identificasse os agressores entre um grupo de suspeitos que estavam enfileirados. Entre os suspeitos, estavam homens negros e um bode. Para piorar a situação da marca, o bode ameaçou atacar a mulher no vídeo novamente, caso ela o denunciasse para a polícia. A PepsiCo pediu desculpas pelo anúncio e afirmou assumir total responsabilidade por qualquer ofensa causada pela propaganda.
  • 7. Dunkin Donuts

    7 /8(Reprodução)

    A marca de rosquinhas Dunkin’ Donuts pediu desculpas publicamente no segundo semestre de 2013, após ser acusada de racismo pela organização Human Rights Watch. De acordo com a organização, a peça publicitária, que era composta por uma mulher negra com lábios brilhantes segurando uma rosquinha preta, era chocante e racista. Após polêmica, a empresa tirou a campanha de circulação.
  • 8. Veja, também, 10 marcas que bombaram nas redes sociais com o Oscar

    8 /8(Reuters)

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