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Cinco histórias extraordinárias

Camila Almeida As Olimpíadas costumam ser palco de histórias incríveis, protagonizadas por atletas corajosos. Em 1936, em plena Segunda Guerra Mundial, Berlim sediou os Jogos Olímpicos, numa tentativa de Hitler de divulgar a ideologia nazista. Foi vencido pelo americano negro Jesse Owens, que levou quatro medalhas de ouro no atletismo. A brasileira Aída dos Santos, […]

REFUGIADOS: a nadadora síria Yusra Mardini vai realizar o sonho de disputar as Olimpíadas pela time de refugiados / Alexander Hassenstein / Getty Images
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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2016 às 19h36.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h26.

Camila Almeida

As Olimpíadas costumam ser palco de histórias incríveis, protagonizadas por atletas corajosos. Em 1936, em plena Segunda Guerra Mundial, Berlim sediou os Jogos Olímpicos, numa tentativa de Hitler de divulgar a ideologia nazista. Foi vencido pelo americano negro Jesse Owens, que levou quatro medalhas de ouro no atletismo.

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A brasileira Aída dos Santos, nas Olimpíadas de Tóquio, em 1964, foi a única mulher brasileira da delegação. Cruzou o mundo sem técnico, tênis ou uniforme e garantiu o quarto lugar no salto em altura. Resultado feminino que só foi superado com o ouro de Sandra e Jacqueline, no vôlei de praia, em 1996.

Em Sidney, 2000, o nadador africano Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, saltou sozinho na piscina para nadar a bateria eliminatória, após seus dois concorrentes terem queimado a largada. O país havia sido convidado para participar dos 100 metros livre e, Eric aprendeu a nadar em janeiro daquele ano. Conseguiu terminar a prova solitária, no dobro do tempo. Foi ovacionado.

Nestas Olimpíadas, não será diferente. Alguns atletas, ao entrarem na disputa por medalhas, já vão fazer história. Conheça cinco personagens olímpicos que vão revelar muito mais que talento no Rio 2016.

Ibtihaj Muhammad: o hijab americano
Esgrima, EUA

Pela primeira vez, uma mulher muçulmana vai disputar uma medalha pelos Estados Unidos vestido um hijab, a vestimenta típica do islã. A esgrimista Ibtihaj Muhammad, 30 anos, foi até cotada para ser porta-bandeira da delegação americana. Muhammad tem ascendência africana, mas nasceu em Nova Jersey. Como muçulmana, sempre foi incentivada a praticar esportes para se envolver mais na escola. Porém, os longos trajes longos para jogar vôlei ou softball atrapalhavam a garota. Até que sua mãe viu uma dupla de esgrimistas duelando: vestidos da cabeça aos pés. Perfeito. A trajetória dela até as Olimpíadas destoa da maioria dos esgrimistas americanos. Normalmente, são jovens ricos, que desde muito novos viajam o mundo participando das competições que garantem a classificação. Um esporte caro. Muhammad, criada no subúrbio e praticando o esporte na escolha, nunca imaginou que seria atleta de alto nível. Para bancar as viagens, ela criou sua própria linha de roupas e recebe uma bolsa do Comitê Olímpico americano. Com o sabre, ela é a nº 2 nos Estados Unidos e nº 8 no mundo, num esporte que, até 2004, não era considerado olímpico por ser considerado muito violento para mulheres. Pena que seu hijab não fica à mostra quando ela veste a máscara e entra na pista.

Jerry Tuwai: da periferia para o ouro
Rugby, Fiji

Jerry Tuwai, 27 anos, é morador de um bairro pobre e com altos índices de criminalidade – um dos piores de Fiji, um conjunto de ilhas com 900.000 habitantes na Oceania. O atleta vem de uma família humilde, que acredita que o sucesso de um dos cinco rebentos é um misto de sorte, fé e boa criação. Quando pequeno, treinava com coco, em vez de bola, e o gramado era substituído pelos pedregulhos do morro. Foi chamado para o time oficial aos 19 anos, pelo treinador Ben Ryan – que não conta com muitas opções – e não saiu mais. Até o ano passado, não tinha nem eletricidade em casa. Agora, briga pelo ouro. Os atletas de Fiji disputam os jogos olímpicos desde 1956, mas nunca ganharam uma medalha. Agora, o esporte do coração do país tem um time vitorioso, com grandes chances de ouro, no ano em que o esporte voltou às Olimpíadas (o rugby havia sido banido em 1924 por ser muito violento, e ressurge na sua versão com sete jogadores). Apesar de os fijianos serem fortes no rugby tradicional, é na versão dos sete jogadores em que se destacam de verdade – são os atuais campeões da World Rugby Sevens Series.

Yusra Mardini: do mar Egeu para a piscina
Natação, Síria

A nadadora Yusra Mardini, de 18 anos, tinha grandes chances de se tornar um destaque da Síria pelo esporte. Mas, em vez de investir na carreira, precisou escapar da guerra civil. Em agosto de 2015, junto com sua irmã Sarah, saiu de Damasco para chegar à Turquia. De lá, numa tentativa de chegar à Grécia, entraram com outras 20 pessoas numa embarcação clandestina. No meio do gelado Mar Egeu, o barco virou. E apenas elas e outros dois jovens sabiam nadar. Por três horas, puxaram o barco com uma corda até chegar à costa grega. Yusra, que hoje vive na Alemanha, vai poder disputar as Olimpíadas antecipadamente. Ela vinha se preparando para Tóquio, em 2020, mas foi convocada para participar pelo time de refugiados, que conta com outros nove atletas. É a primeira vez que um time de refugiados é formado, e os atletas foram escolhidos pelo Comitê Olímpico Internacional, para apoiar os atletas de alto nível que ficaram completamente desestabilizados pela crise. Yusra vai disputar nas modalidades 100 m livres e 100 m borboleta. A dolorosa travessia pelo mar Egeu – dela e de outros milhões de refugiados – será simbolicamente vencida na piscina.

Martine Grael: medalhas de pai para filha
Vela, Brasil

Para Martine Grael, 25 anos, velejadora brasileira, o esporte é a tradição de uma família apaixonada pelo mar. Ao todo, já são seis atletas olímpicos e sete medalhas. Filha do iatista Torben Grael, que já levou dois ouros, uma prata e dois bronzes olímpicos. Martine é a favorita da família para ser a próxima no pódio. Seu irmão, Marco, também disputa os jogos este ano. Os dois são da mesma classe: 49er. As outras duas medalhas da família são mérito de Lars Grael, que conquistou dois bronzes velejando na classe Tornado. A tradição da vela na família é tão antiga que, antes dos irmãos Torben e Lars se tornarem destaques no esporte, seus tios Axel e Eric Schmidt já disputavam Olimpíadas. E representaram o Brasil pela primeira vez na Cidade do México, em 1968. Hoje, Martine já é a atual campeã mundial em sua categoria, ao lado da parceira Kahena Kunze. Graças à esta família, de ascendência dinamarquesa, o Brasil passou a ser um tradicional campeão velejador. Segue o barco – e os bons ventos.

Rúben Magnano: um argentino pelo Brasil
Basquete, Brasil

Fora da quadra, há um argentino que pode levar o Brasil ao pódio. Rubén Magnano, treinador da seleção masculina de basquete desde 2010, elevou o time a um outro nível, e chega, pela primeira vez, com chances de levar uma medalha olímpica. Magnano se consagrou ao classificar a seleção para disputar os Jogos de Londres, em 2012, após 16 anos de hiato. Ficaram em quinto – e foram eliminados pela seleção argentina. No Pan-Americano de Toronto, em 2015, conquistaram o lugar mais alto do pódio. O currículo do treinador dispensa comentários. Em 2004, a seleção argentina de basquete foi campeã olímpica sob seu comando. Agora, os brasileiros têm aproveitado desse talento – e o basquete nacional passou a ter importância. Magnano, frequentemente, critica a formação de base dos atletas e a falta de investimento no esporte. Um argentino revolucionando um esporte brasileiro. Ainda bem.

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