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3 sinais de que o Brasil está perto de um colapso de energia

Desafiador é pouco para definir o atual cenário energético no Brasil. Hoje, risco de racionamento de energia é maior que 50%. Se não chover, quadro pode piorar

Linhas de transmissão de energia: risco de racionamento de energia é maior que 50%. Se não chover, quadro pode piorar (Thinkstock)

Talita Abrantes

Publicado em 4 de novembro de 2015 às 17h13.

São Paulo – Desafiador. Foi assim que o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, definiu hoje o atual cenário do sistema energético brasileiro. Mas, diante das projeções feitas por analistas consultados por EXAME.com, é possível concluir que o governo foi, no mínimo, eufemista.

Para os especialistas, se o índice de chuvas não atingir a média histórica até abril e o nível dos reservatórios das hidrelétricas não voltar a subir, o racionamento de energia pode, sim, voltar a fazer parte da rotina dos brasileiros.

A PSR Consultoria projeta que o risco de restrições no abastecimento elétrico no país já ultrapassa os 50%. Ou seja, se não bastasse a torneira seca, uma multidão de brasileiros pode ter que aprender a conviver com a falta de eletricidade na tomada.

“O problema que a gente tem hoje não é causado pela péssima hidrologia e, sim, por um estresse estrutural do sistema”, afirma Luiz Augusto Barroso, diretor-técnico da consultoria PSR e pesquisador associado do Instituto de Investigación Tecnológica da Universidad Pontificia Comillas (Espanha).

O governo, por enquanto, descarta  o risco de novos apagões e planeja lançar um programa de eficiência energética em até 3 meses - quando termina o período de chuvas. Segundo especialistas, o volume pluviométrico vai definir o risco de racionamento. Por enquanto, o cenário é desalentador. Veja as evidências disso:

1 – Os níveis dos reservatórios estão em seu pior nível desde o ano 2000

Em 2001, o Brasil viveu o pior racionamento de energia de sua história. Foram nove meses de restrições no abastecimento que renderam uma economia de 20% da energia consumida. Naquela época, falhas no sistema de transmissão e o baixo nível dos reservatórios conduziram o país para uma medida tão drástica.

Catorze anos depois, os reservatórios do sistema elétrico nacional estão operando com cerca de 30% de sua capacidade. Ou seja: praticamente a metade do nível registrado cinco meses antes do racionamento de energia. Em janeiro de 2001, os níveis dos reservatórios das elétricas estavam com um volume de 60% do total.

“Desde 2011, os reservatórios não conseguem recuperar o nível do ano anterior. É um claro indicativo de que a nossa capacidade de geração hídrica não está acompanhando nosso consumo”, afirma Jenner Ferreira, especialista em políticas de energia do IBECON (Instituto Brasileiro de Economia e Finanças).

No ano passado, os reservatórios das hidrelétricas nacionais registraram os piores níveis dos últimos 14 anos em quatro meses – segundo levantamento da instituto. E ao que tudo indica teremos o pior janeiro desde o ano 2000. Veja o gráfico abaixo:

(EXAME.com/Ibecom)

Pelo menos duas hidrelétricas já estão em situação crítica. Ontem, a Usina de Três Marias, na cabeceira do Rio São Francisco, estava operando com 10,34% da capacidade total de seu reservatório. Das seis turbinas, apenas uma estava em operação.

Já a Usina de Furnas tinha seis das suas oito turbinas funcionando. Operando com 9,8% da capacidade do seu reservatório, é possível que outras turbinas sejam desligadas nos próximos dias.

Isoladamente, contudo, uma usina com um volume baixo no reservatório não tem o poder de comprometer drasticamente o abastecimento de todo o país. “Como o sistema é interligado, se uma usina está vazia, ela pode ser compensada por outra. A eletricidade não é impactada diretamente”, explica Luiz Barroso, da consultoria PSR.

Além disso, diferentemente de 2001, hoje, o Brasil dispõe de um parque de termoelétricas para compensar a baixa produção das usinas hidrelétricas. Mesmo assim, o nível atual dos reservatórios é preocupante. Na semana passada, o ministro de Minas Energia afirmou que se eles chegarem a 10% da capacidade, o racionamento pode ser inevitável.

A estimativa do ONS é de que as chuvas que devem chegar nos reservatórios das hidrelétricas em fevereiro serão de cerca de 52% da média histórica.

2 - As termoelétricas estão operando em sua capacidade máxima

Construídas com o propósito de aliviar o sistema, as termoelétricas hoje operam em sua capacidade máxima. “O fato de despachar energia continuamente das termoelétricas mostra a fragilidade, indica que o Brasil já está usando a sua reserva de proteção contra um caos”, afirma Alexandre Moana, diretor-técnico da Abesco.

Movidas a diesel e carvão, as termoelétricas correspondem hoje a mais de 20% do total de energia produzida no país. Há quatro anos, o valor não chegava a 15% do total produzido. Veja o gráfico produzido pela Ibecom a pedido de EXAME.com.

(EXAME.com/IBECON)

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O problema: além de mais danosas ao meio ambiente, a energia produzida pelas termoelétricas tende a ser mais cara do que a gerada pelas hidrelétricas. E este valor pode ser repassado para as tarifas.

“Os projetos das usinas são muito antigos e não são exemplos de modernidade. Elas demandam um tempo de indisponibilidade em cima do projeto original. Quanto mais ela estiver operando agora, maior o risco de falhas”, afirma Ferreira.

3 – O apagão da semana passada

O apagão que deixou 10 estados mais Distrito Federal com menos energia elétrica foi, provavelmente, a prova mais contundente de que o cenário não é favorável para o setor.

No meio da tarde da segunda-feira (19), o sistema não suportou o pico na demanda nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Ou seja, basicamente, naquele momento, muitos aparelhos estavam ligados na tomada e o sistema não teve condições de suportá-los.

“O país deu um estímulo brutal para o consumo, mas não criou a infraestrutura para este consumo”, afirma Moana. Conclusão: se o racionamento de energia se concretizar de fato, a expectativa é que o PIB nacional retroceda até 1,5% neste ano, segundo o banco Credit Suisse.

São Paulo - No Brasil de hoje é impensável que pessoas ainda vivam sem energia elétrica . No entanto, segundo dados do IBGE , 1,5% dos brasileiros não têm luz em casa. Parece pouco dada a imensidão do país, mas isso significa que 2,7 milhões de pessoas - o que equivale a toda a população de Salvador (BA) - vivem no escuro.Apenas 170 cidades brasileiras têm fornecimento de energia elétrica em todas as casas de seus moradores. Nos outros 5.394 municípios, uma parcela da população vive no escuro, segundo dados do Censo 2010 - o mais recente sobre o assunto.A situção é pior em 7 cidades que, segundo números do IBGE, têm menos da metade de seus domícilios com fornecimento de energia elétrica. Nelas, 25.437 pessoas vivem sem luz em suas casas. Além da falta de energia, estas 7 cidades têm em comum o fato de terem menos de 10 mil habitantes e um Índice de Desenvolvimento Humano ( IDH ) baixo. Uiramutã, em Roraima , é a que tem as piores condições. Na cidade, que fica nas fronteiras da Venezuela e da Guiana,70% da população não têm luz em casa. A cidade é a que possui amaior proporção de indígenas no país.  Veja nas fotos como é a situação nestas cidades.
  • 2. Uiramutã (RR)

    2 /7(Divulgação/ Prefeitura de Uiramutã)

    Uiramutã (Roraima)70,7% das casas não têm energia elétrica
    População da cidade8.375
    Pessoas sem energia elétrica em casa6.118
    Total de domicílios na cidade1.444
    Domicílios sem energia elétrica1.022
    Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)0,453 - muito baixo
  • 3. Dom Inocêncio (PI)

    3 /7(Divulgação/ Governo do Piauí)

    Dom Inocêncio (Piauí)55,3% das casas não têm energia elétrica
    População da cidade9.245
    Pessoas sem energia elétrica em casa5.188
    Total de domicílios na cidade2.557
    Domicílios sem energia elétrica1.415
    Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)0,549 - baixo
  • 4. Capitão Gervásio Oliveira (PI)

    4 /7(Divulgação/ Governo do Piauí/ Paulo Barros)

    Capitão Gervásio Oliveira (Piauí)54,3% das casas não têm energia elétrica
    População da cidade3.878
    Pessoas sem energia elétrica em casa2.117
    Total de domicílios na cidade1.144
    Domicílios sem energia elétrica622
    Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)0,553 - baixo
  • 5. São Lourenço do Piauí (PI)

    5 /7(Divulgação/ Facebook São Lourenço do Piauí)

    São Lourenço do Piauí (Piauí)54% das casas não têm energia elétrica
    População da cidade4.427
    Pessoas sem energia elétrica em casa2.405
    Total de domicílios na cidade1.297
    Domicílios sem energia elétrica701
    Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)0,595 - baixo
  • 6. Dirceu Arcoverde (PI)

    6 /7(Divulgação/ Facebook Prefeitura de Dirceu Arcoverde)

    Dirceu Arcoverde (Piauí)50,4% das casas não têm energia elétrica
    População da cidade6.675
    Pessoas sem energia elétrica em casa3.412
    Total de domicílios na cidade1.866
    Domicílios sem energia elétrica941
    Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)0,561 - baixo
  • 7. Veja quais são as campeãs de desperdício de água

    7 /7(Flickr)

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