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27% das paulistanas têm medo de sofrer violência sexual

Entre os homens, o percentual é de 7%, conforme revela a pesquisa Viver em São Paulo: Mulheres

Dia da Mulher: "O medo das mulheres é uma marca na cidade" (Nacho Doce/Reuters)

Dia da Mulher: "O medo das mulheres é uma marca na cidade" (Nacho Doce/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 8 de março de 2018 às 17h57.

Três em cada dez mulheres que vivem na cidade de São Paulo (27% do total das entrevistadas) têm medo de sofrer algum tipo de violência sexual.

Entre os homens, o percentual é de 7%, conforme revela a pesquisa Viver em São Paulo: Mulheres. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, pela Rede Nossa São Paulo, com dados coletados pelo Ibope Inteligência.

"O medo das mulheres é uma marca na cidade", disse o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, ao comentar a pesquisa. "Temos uma cultura que leva a isso. Esse medo maior que as mulheres sentem tem a ver com uma questão prática, porque efetivamente elas estão sofrendo mais assédio. Elas sofrem mais [assédio e violência], então elas têm mais medo."

A pesquisa ouviu 428 mulheres maiores de 16 anos, residentes em São Paulo. As entrevistas foram feitas entre os dias 8 e 27 de dezembro do ano passado e a margem de erro é de 5 pontos percentuais para mais ou para menos.

Segundo a pesquisa, 33% das mulheres têm medo de sair à noite e 62% temem a violência de forma geral. Entre os homens, esses números atingem 25% e 54% dos entrevistados, respectivamente.

Crise e ambiente de trabalho

A pesquisa também demonstrou que as mulheres são as principais vítimas da crise econômica. Dos 18% de paulistanos que declararam estar desempregados, universo que poderia atingir cerca de 1,76 milhão de pessoas na cidade, mais da metade (58%) são mulheres.

"A crise econômica atinge mais as mulheres que os homens. Isso acontece porque existe um comportamento machista nas tomadas de decisão das empresas", disse Abrahão.

Uma entre cinco mulheres (19% do total das entrevistadas) revelou que já sofreu algum tipo de preconceito ou discriminação no trabalho simplesmente por ser mulher.

Filhos

Entre as que são mães, 43% declararam que ficam mais com o filho do que a outra pessoa que cuida dele. Três em cada dez mulheres (27%) disseram ainda que cuidam dos filhos sem ajuda de ninguém. "Por muito que estejamos avançando e que muitas mulheres tenham sido incorporadas nos espaços de trabalho e muitas delas estudem, a luta, no privado, no âmbito do lar, ainda é muito precária. Temos que avançar muito mais", disse a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para Esther, a pesquisa divulgada hoje demonstra que a luta das mulheres se dá tanto no âmbito público quanto no privado. "No público, com as mulheres que têm dificuldades para ter equiparação salarial e que sofrem assédio tanto no trabalho quanto no transporte público. Mas [a pesquisa] fala também que a grande maioria das mulheres cuida dos filhos sozinha em casa."

Segundo a socióloga, isso reforça que o feminismo ainda é uma luta necessária no país.

"O feminismo, a luta da mulher, é algo emergencial. Fico preocupada quando dizem que feminismo é vitimismo. O primeiro passo na luta feminista sempre é dar visibilidade a nossos problemas porque durante muito tempo ficamos caladas. Fomos silenciadas pelo patriarcado. Temos que falar, falar muito alto e ocupar espaços de fala. E o segundo passo é a educação do cotidiano: falar com os homens, com as colegas, com as amigas, com os filhos. E, por fim, a luta pela representatividade."

Transporte público

Uma em cada quatro mulheres que moram em São Paulo (25% do total) disse que já sofreu algum tipo de assédio no transporte coletivo - a maioria delas pertence às classes A e B e tem curso superior. No entanto, Isso não significa que elas sejam as maiores vítimas, afirmou Esther Solano. "Na verdade, as mulheres de classe mais alta denunciam muito mais. Não é que elas sejam mais vítimas. Imagine uma mulher da periferia, acostumada a ser violentada pela polícia, como ela vai denunciar [o assédio] na polícia?", questionou Esther. "A subnotificação em regiões periféricas, onde há violência policial, é muito mais baixa", acrescentou.

Para Abrahão, os números da pesquisa iver em São Paulo: Mulheres demonstram também que há muito ainda a ser feito para diminuir as desigualdades e a discriminação contra as mulheres. "Temos desafios para as empresas, temos desafios para o Poder Público, e temos um desafio cultural para que caminhemos na redução do machismo que aparece na sociedade."

Abrahão disse que os caminhos para vencer os desafios passam por uma mudança na política das empresas. "As empresas podem avançar muito no caminho da diversidade, valorizando a questão da igualdade de gênero e também de salários."

Segundo o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, o Poder Público também pode fazer muito. Ele citou a questão dos assédios e disse que as mulheres podem promover campanhas para que se desenvolva uma formação sobre tais comportamentos.

"Estimular as mulheres a denunciar essa questão, abrir espaço para elas denunciarem isso com mais tranquilidade. E, por fim, a questão da formação nas escolas de uma cultura que seja menos machista", exemplificou.

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