EXAME Agro

Apoio:

LOGO TIM 500X313

Indústria e centro tecnológico: os planos da Bahia para se tornar a nova fronteira do agro nacional

Agronegócio baiano representa 21,1% do PIB do estado, 53,4% do total das exportações e quase um terço dos empregos gerados

Vista área de parte da fazenda de laranja e tangerina da Agrocitrus, empresa do norte da Bahia

Vista área de parte da fazenda de laranja e tangerina da Agrocitrus, empresa do norte da Bahia

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 11 de novembro de 2024 às 10h53.

Última atualização em 11 de novembro de 2024 às 16h05.

SALVADOR* — A Bahia será uma grande fronteira agrícola do Brasil nos próximos anos, diz à EXAME o secretário de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) do estado, Wallison Tum. "A Bahia é o estado com maior potencial de crescimento do agronegócio brasileiro, já que tem clima, recursos hídricos em abundância, além de terras e áreas a serem exploradas e cultivadas", afirma Tum.

O anúncio faz parte de uma ofensiva do estado, que pretende se consolidar como um dos principais produtores de grãos do país, ao lado de gigantes já consolidados como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.

De acordo com o secretário, entre os planos do governo estadual está a instalação de uma indústria de processamento de suco de laranja, que deve iniciar operações na Bahia em 2025, conforme revelado com exclusividade à EXAME.

O estado também prepara um pacote de incentivos fiscais para atrair empresas processadoras de suco de laranja que atualmente compram a fruta de agricultores baianos.

Além disso, a iniciativa vai ampliar parcerias com entidades como a Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb) e o Sebrae Bahia, para qualificar e profissionalizar o produtor, uma das principais dores do setor local.

Sem citar o nome da empresa, Tum aponta que a unidade disputava a localização com o Mato Grosso, mas a Bahia saiu vitoriosa. “É um grupo já consolidado, com um protocolo assinado. Será uma indústria de grande importância para o estado”, afirma.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a área destinada à colheita de laranja na Bahia atingiu 49,3 mil hectares no ano passado, praticamente estável em relação ao ano anterior.

De 2021 a 2023 a produção baiana saltou de 573 mil toneladas para 610 mil toneladas, um crescimento de 6,5%. Ainda é pouco:  É nos estados de São Paulo e Minas Gerais que se concentram 74,6% da produção de laranja no Brasil, região conhecida como 'cinturão citrícola'.

O governo estadual também deve aumentar os investimentos para o Prodeagro e o Fundeagro, os dois principais programas voltados ao desenvolvimento do setor algodoeiro na Bahia.

O Prodeagro deve receber R$ 60 milhões em 2025, enquanto o Fundeagro terá R$ 28 milhões, representando um aumento de 50% e 47%, respectivamente, em relação a 2024. Para este ano, o governo estadual destinou R$ 77,7 bilhões ao Plano Safra 2023/2024.

"As pessoas estão saindo dos grandes centros, estão vindo para o interior, porque o agro está gerando emprego e renda. O agro está oferecendo oportunidade de trabalho e qualidade de vida no interior do estado. A Bahia está recebendo produtores do Brasil inteiro", afirma Tum.

Agro baiano

O agro na Bahia tem uma longa trajetória. No oeste do estado, especialmente em Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, concentram-se as produções de algodão, soja e milho.

A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil, com uma área plantada de 345.431 hectares — Mato Grosso lidera a produção nacional, com 70% do total de pluma. Em Ilhéus, no litoral sul, destacam-se as plantações de cacau.

No oeste baiano, a cidade de São Desidério ocupa o segundo lugar no ranking nacional, com uma produção agrícola avaliada em R$ 7,7 bilhões, especialmente de grãos. Formosa do Rio Preto está em sétimo, com R$ 5,7 bilhões. Entre os 100 municípios mais ricos do agronegócio brasileiro, sete estão na Bahia, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

O potencial agrícola da Bahia foi destacado pela Embrapa em 2019, quando o órgão anunciou que o estado integraria o território conhecido como Sealba, uma área que abrange partes de Sergipe, Alagoas e Bahia.

O termo Sealba é um acrônimo das iniciais desses três estados, representando uma região de 171 municípios com condições favoráveis de solo e clima para a produção agrícola, principalmente de grãos. Desses municípios, 69 estão em Sergipe, 74 em Alagoas e 28 no nordeste da Bahia.

A área é comparada a um "novo Matopiba", região formada pelo estado do Tocantins e partes de Maranhão, Piauí e do oeste da Bahia, que passou por uma forte expansão agrícola a partir da segunda metade dos anos 1980, especialmente no cultivo de grãos.

O critério principal para delimitar a região foi a ocorrência histórica de chuvas de maneira recorrente com volumes iguais ou superiores a 450 mm entre abril e setembro, condição que possibilita o cultivo de grãos e citros, com destaque para a produção de laranjas nas cidades baianas de Porto Real e Esplanada.

Para Humberto Miranda, presidente da Faeb, a localização do estado é um grande diferencial para impulsionar o agro. "Temos Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Somos um estado que, apesar de estar no semiárido, nós temos um potencial hídrico fantástico e temos a maior área que corta o Rio São Francisco no Brasil. E por último, nós temos gente", diz Miranda à EXAME.

O agronegócio baiano representa 21,1% do Produto Interno Bruto (PIB), 53,4% do total das exportações e cerca de um terço dos empregos gerados no estado, segundo a Seagri. Com 762,6 mil propriedades rurais, a Bahia possui o maior número de propriedades do Brasil, de acordo com o Censo Agropecuário.

Para a safra 2024/25, a previsão é de uma produção de 13,1 milhões de toneladas de grãos, um crescimento de 5,5% em relação à safra anterior, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Mão-de-obra e infraestrutura no agro

Um dos principais desafios para o desenvolvimento do agronegócio na Bahia, de acordo com entidades do setor, é a mão de obra, que necessita de capacitação e qualificação. Segundo o secretário de Agricultura, na região do Vale do São Francisco — um dos polos produtores de frutas como maracujá (do qual a Bahia é o maior produtor, com 253,9 mil toneladas), manga e goiaba — o déficit de trabalhadores chega a 5 mil.

"Nosso foco é capacitar a população local, identificando a vocação da região para implementar projetos que agreguem valor ao que já é produzido. Em vez de deslocar a mão de obra, estamos levando as indústrias até as regiões onde há força de trabalho disponível", afirma Tum.

Para mitigar essa carência, uma das iniciativas é a criação de um centro tecnológico através de uma fazenda-modelo. O projeto, uma parceria entre cinco empresas para a construção de um centro tecnológico na região de Jacobina, no interior do estado, deve iniciar em janeiro de 2025 e entrar em operação em 2026. O anúncio foi feito durante a coletiva da E-Agro, feira de inovação realizada entre os dias 7 e 9 de novembro.

"O centro será um local de pesquisa e implementação de tecnologia para a formação e qualificação de mão de obra, mas precisará ser lucrativo para poder ser replicado como política pública", afirma Miranda.

Avaliado em R$ 2 milhões, o projeto será conduzido inteiramente pela iniciativa privada e funcionará como uma unidade demonstrativa de práticas de recuperação de solo e cultivo de produtos nativos do semiárido.

Além da mão de obra, a falta de infraestrutura é outro grande gargalo do estado. Segundo o presidente da Faeb, a escassez de energia elétrica e conectividade impede o avanço do agronegócio baiano. Embora a Bahia conte com vias de escoamento importantes, como os portos de Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus, a malha rodoviária do estado permanece um grande obstáculo.

"Ainda enfrentamos estradas em condições muito ruins, resultando em desperdícios de até 10% a 12% durante o transporte. Imagine perder 12% de um produto apenas no deslocamento. Temos um desafio crucial na infraestrutura de conectividade, que é essencial não apenas para o agronegócio", observa Miranda.

Para Franklyn Santos, diretor-técnico do Sebrae Bahia, as ações do setor público e privado devem focar em produtividade e agregação de valor na produção baiana.

"Estamos trabalhando há 10 anos para que o produtor entenda a importância de não só aumentar a produtividade na atividade rural, de se profissionalizar e melhorar a gestão, mas também de agregar valor ao longo da cadeia", diz Santos.

*O repórter viajou a convite da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb)

Acompanhe tudo sobre:AgronegócioAgriculturaSojaMilhoSetor de suco de laranjaBahiaMinistério da Agricultura e PecuáriaAlgodão

Mais de EXAME Agro

Uma história de reconstrução: como o agro gaúcho se prepara para 2025, segundo Eduardo Leite

La Niña deve chegar ao Brasil durante o verão; entenda o que é e como o país pode ser afetado

Preço do café dispara e atinge maior valor em 50 anos: saiba por que a queda pode demorar

Na onda dos fundos para o agro, São Paulo lança FDIC de R$ 50 milhões com a Rio Bravo