Em busca do primeiro unicórnio do agro, Basf investe em ecossistema de inovação
Mirella Lisboa, gerente de inovação aberta da multinacional na América Latina, acredita que o intraempreendedorismo pode acelerar o desenvolvimento das agtechs
Repórter de Agro
Publicado em 26 de setembro de 2023 às 06h06.
Na era das startups, desenvolver uma tecnologia para o setor do agronegócio exige mais resiliência do que em outros segmentos, como indústria ou serviços. Isso porque, a imprevisibilidade de organismos vivos, do solo e todas as outras variáveis que permeiam a agropecuária dificultam a criação de um modelo padrão de soluções para as agtechs.
A afirmação é de Mirella Lisboa, gerente de inovação aberta da BASF na América Latina e responsável pelo Agrostart, iniciativa de aceleração de startups para o setor. Ela acredita que este seja um dos motivos de o agronegócio ainda não ter um unicórnio—startupsavaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrirem capital —para chamar de seu.
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A executiva voltou à multinacional alemã após ter saído para uma experiência de três anos no Cubo Itaú. Agora, ela busca a nova onda de inovação no agro e aposta no intraempreendedorismo para viabilizar um ecossistema construído por diversos atores da cadeia produtiva.
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Qual a diferença das startups do agro para outras?
Estamos falando de solo, que é organismo vivo, falando de chuva, de sol e tudo isso varia muito os indicadores, principalmente quando a gente fala startup de aplicação técnica, startups agronômicas. Isso faz com que o tempo para provar o modelo de negócio seja, muitas vezes, maior do que uma startup que está em outro tipo de vertical, em outra indústria. Ainda não temos um unicórnio por causa desse contexto de cultura, região e de tipo de tecnologia, e aí demora mais para essas startups conseguirem, de fato, mais dinheiro de investimento.
E o seu desafio de volta à Basf é ajudar a desenvolver um unicórnio?
Eu acho que grande parte da missão do AgroStart não é em volume de conexões, mas na relevância das conexões que a gente começou a fazer desde 2016, como o exemplo da Agrosmart, da Mariana Vasconcelos. Olha aí, oito anos depois, ela virou uma referência muito grande, porque criou uma comunidade de agricultores. Quando você fala do desafio de gerar um unicórnio, vai muito na linha deste acesso e mentoria, porque os empreendedores têm muita dificuldade de chegar no campo e ser aceitos, mas há diferença quando vai com o aval de uma Basf. Então, o grande desafio e o papel do AgroStart é continuar ajudando esses empreendedores com acesso a mercado. É isso que vai nos ajudar a apostar que uma dessas 15 startups que estão com a gente até hoje, quem sabe, se torne o primeiro unicórnio de fato.
Você fala de intraempreendedorismo para alavancar as agtechs. O que isso significa?
A startup parte de uma hipótese e o nosso programa de intraempreendedorismo traz uma metodologia, o design de ideação, desenvolve várias ideias de como resolver aquela hipótese, e ‘prototipa’ uma solução para validar com o cliente. A gente aqui tem um espaço de teste em que é possível ter uma estrutura própria para prototipar. Eu já fiz programas de intra é essa dor das grandes empresas, não tem espaço dedicado a soluções e passa a depender da área de TI, que já atende toda a companhia.
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Os resultados do intraempreendedorismo aqui são super relevantes, então todas as ferramentas digitais que foram desenvolvidas para facilitar a experiência do cliente passaram pelo intra. Para se ter uma ideia, desde 2019, a Basf tem, ao longo de todos os projetos de intraempreendedorismo, 1,3 milhão de euros calculados em eficiência e otimização, que para organização é superimportante.
Em relação às startups que já existem, qual o maior desafio?
É muito difícil a gente falar de uma tecnologia de inteligência artificial para fazer leitura de imagens, quando você tem um produtor que nem a gestão financeira do negócio é feita, minimamente, no Excel. Muitas startups aqui ainda desenvolvem tecnologia a partir do que vem lá de fora, mas no Brasil deveria ser o contrário. O setor mais relevante do país tem uma diversidade grande com território fértil para testar implantar a desenvolver.
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Além disso, a gente precisa entender também como ecossistema de inovação não é falar só sobre tecnologia agronômica, mas também falar sobre gestão de pessoas. É toda essa parte de pessoas, de educação e de promover essa adoção ao digital primeiro. Eu acho que é menos sobre dinheiro para investir em tecnologia é mais sobre falta de conhecimento dos empreendedores, porque a gente tem startups no Brasil que já podem muito se case de referência para o mundo.
O que vocês miram para o futuro?
Vamos continuar apostando no digital farming, data power e soluções financeiras, para entender como facilitar o acesso do nosso cliente a alavancas financeiras e crédito. Um pilar que a gente tem olhado e estudado com bastante cuidado é a sustentabilidade, com foco em carbono. Também olhamos as novas moléculas, inclusive pela ótica do produto biológico, e os novos modelos de negócios no agro.
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Olhamos também para um modelo de servitização, mas não estou falando de um hub de serviços para o produtor, mas para as outras empresas que estão na cadeia do agro. A gente tem essa expertise em intraempreendedorismo, então todo ator que está na jornada de relacionamento com o produtor pode estar nesse modelo de servitização, porque no fim o cliente é o mesmo, é o produtor.