Brasil pode se tornar um dos maiores exportadores de algodão, após vencer a praga
Na produção, o Brasil vai passar os EUA no ano safra 2023/2024, segundo o departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA)
Agência de notícias
Publicado em 25 de setembro de 2023 às 09h43.
Última atualização em 25 de setembro de 2023 às 10h27.
Depois de ser devastada por uma praga chamada bicudo, a produção de algodão no Brasil passou por grandes transformações nos últimos anos. Até os anos 1980, por exemplo, o Brasil era exportador de algodão. A fibra era produzida em São Paulo e no Paraná em pequenas propriedades e colhida manualmente.
Na época,a praga acabou com a produção e o País passou a ser importador de algodão nos anos 1990,conta Miguel Faus, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). A volta às exportações ocorreu com o cultivo do algodão no Centro-Oeste, em grandes propriedades, com colheita mecanizada.
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A partir dos anos 2000, os agricultores do Centro-Oeste começaram a plantar algodão como segunda safra, em rotação com o milho. “No Mato Grosso, que é o maior produtor, 80% do algodão hoje é plantado em segunda safra”, diz o presidente da Anea.
Na produção, o Brasil vai passar os EUA no ano safra 2023/2024, segundo o departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA). A produtividade do algodão brasileiro é hoje de 1,9 mil quilos por hectare, mais que o dobro da dos Estados Unidos (900 quilos por hectare). “Na próxima safra, deveremos ter incremento de área de algodão, pois os preços estão bons, a produtividade é excelente e o milho está hoje com margem negativa”, observa Faus.
Consumo interno
No entanto, ultrapassar os Estados Unidos nas exportações e se tornar líder nas vendas externas é uma possibilidade, se, de fato, a quebra da safra no Estado americano do Texas for maior do que o esperado, diz o presidente da Anea. Um obstáculo para romper essa barreira é que o consumo interno de algodão no Brasil é grande (cerca de 700 mil toneladas) e supera o dos EUA, que é de 468 mil toneladas. “O excedente exportável lá é maior do que aqui”, frisa.
De toda forma, além dos ganhos de produtividade, o setor tem investido em qualidade e na sustentabilidade da fibra, uma das exigências dos compradores internacionais.
Faz três anos que a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a Anea iniciaram um programa chamado Cotton Brazil para promover o produto brasileiro no exterior. O programa tem um escritório em Singapura e foram realizadas sete missões internacionais, que trouxeram representantes de 150 indústrias para conhecer como o algodão brasileiro é produzido, isto é, seguindo os critérios de sustentabilidade e qualidade.
Faus diz que o algodão brasileiro está trabalhando em silêncio. Na sua opinião, a commodity já está repetindo o efeito que a soja provocou no agronegócio brasileiro. “Passar os Estados Unidos é um detalhe para nós.”
‘Não tem para ninguém’
No caso do milho, as perspectivas também são promissoras. “No médio prazo não tem para ninguém, só nós, mesmos”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira. Segundo ele, até 2050, o Brasil poderá produzir 400 milhões de toneladas de milho por ano, impulsionado pelo aumento de área e ganhos de produtividade.
Os EUA podem ganhar em produtividade no curto prazo, mas o aumento de área será mais restrito. Isso porque, se ampliarem a área com milho, terão de reduzir a de soja. “Área e produtividade no Brasil não têm limites e, se o preço melhorar, muitos produtores que não estão plantando milho na segunda safra vão começar a plantar.”
No entanto, no curto prazo, o Brasil poderá perder a liderança na próxima safra. Ele afirma que, por causa da grande safra atual, o preço do grão está em baixa. E isso desestimula o plantio dos produtores brasileiros. Mas ele acredita que esse retrocesso seja transitório. Nos próximos anos, Silveira diz que o País vai se consolidar na liderança mundial das exportações de milho.
Apesar das perspectivas favoráveis a médio prazo, o diretor da Abramilho destaca que a falta de armazéns para estocagem tem sido um problema para o setor. “Não adianta crescer demais a produção e não ter onde armazenar: o preço cai demais e o produtor é obrigado a vender a qualquer preço.”