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David Cameron nega acordo com Murdoch, apesar de SMS

Caçador caçado, o primeiro-ministro depôs na comissão Leveson sobre a ética na imprensa

O comparecimento de Cameron põe fim a uma semana durante a qual a comissão interrogou também dois de seus predecessores, Gordon Brown e John Major (Mark Richards/AFP)

O comparecimento de Cameron põe fim a uma semana durante a qual a comissão interrogou também dois de seus predecessores, Gordon Brown e John Major (Mark Richards/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2012 às 15h33.

Londres - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, obrigado a se explicar nesta quinta-feira diante de uma comissão de investigação sobre seus vínculos com o grupo de Rupert Murdoch, negou qualquer acordo entre seu partido e este império midiático, apesar da divulgação durante a audiência de um SMS incômodo.

Caçador caçado, o primeiro-ministro depôs na comissão Leveson sobre a ética na imprensa, grupo que ele mesmo criou depois que o agravamento do escândalo das escutas forçou o fechamento do popular dominical News of the World.

Um exercício difícil para o primeiro-ministro, convocado a se justificar durante seis horas, ao vivo pela televisão e sob juramento, sobre suas relações com o poderoso magnata dos meios de comunicação e com outros dirigentes de seu grupo.

Cameron considerou absurda a "ideia de acordos explícitos" entre seu partido e Murdoch, suspeito de ter sido bem tratado pelos conservadores em troca de uma cobertura midiática favorável e, em particular, do apoio de seus periódicos durante a campanha eleitoral de 2010 que os levou ao poder.

"Também não dou crédito algum à teoria de um acordo secreto", acrescentou o primeiro-ministro.

Ele admitiu, no entanto, que os vínculos entre a imprensa britânica e o poder são "muito estreitos" e que, no futuro, será preciso "um pouco mais de distância".

Sua declaração soava como uma confissão para o chefe de governo, que enfrenta, sobretudo, uma nova prova de sua proximidade com uma protegida de Murdoch, Rebekah Brooks, ex-conselheira delegada da News International, a subsidiária encarregada de seus periódicos britânicos.

Brooks enviou em 2009 um SMS de apoio a Cameron, então líder da oposição conservadora, antes do discurso que pronunciaria na conferência de seu partido.


"Estou totalmente contigo para amanhã", escreveu, "não apenas porque somos amigos, mas também porque profissionalmente estamos nisto juntos".

A jornalista também prometia a ele um "jantar no campo" para falar sobre um tema referente ao Times, uma das principais publicações de Murdoch.

No início de maio, Rebekah Brooks, uma das primeiras acusadas na investigação derivada das escutas, revelou que o chefe de governo assinava "com muito amor" as mensagens que enviava a ela durante o escândalo.

Cameron também se esforçou para justificar a contratação de um ex-diretor do News of the World, Andy Coulson, como chefe de comunicação. Pressionado pelas recentes revelações, Coulson precisou renunciar no início de 2011.

O News of the World, que fechou de forma precipitada em julho do ano passado, é acusado de ter grampeado os telefones de cerca de 800 pessoas com o objetivo de obter exclusivas.

Mas o episódio politicamente mais desagradável para o primeiro-ministro é o projeto de compra - abortado - da totalidade da plataforma televisiva britânica BSkyB por parte do grupo de Murdoch.

Cameron foi acusado por testemunhas de ter colocado o tema nas mãos de um ministro, o titular de Cultura e Meios de Comunicação, Jeremy Hunt, apesar de saber que ele era favorável à oferta do magnata.

O antecessor de Hunt, o ministro de Comércio Vince Cable, foi afastado depois de afirmar que "declarou guerra" a Murdoch.

O comparecimento de Cameron põe fim a uma semana durante a qual a comissão interrogou também dois de seus predecessores, Gordon Brown e John Major.

Os dois contradisseram as declarações feitas por Murdoch, que assegurou diante deste mesmo painel que nunca pediu nada a um primeiro-ministro.

Major contou que em 1997, poucos meses antes das legislativas, o magnata havia pedido para mudar sua política europeia se quisesse seu apoio.

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