A lição que Zuckerberg deveria aprender com Jeff Bezos
Apesar de mediana salarial do Facebook ser quase 10 vezes superior à da Amazon, empresa precisa contratar mais com salários menores para corrigir problemas
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Carolina Unzelte
Publicado em 23 de abril de 2018 às 20h25.
Última atualização em 23 de abril de 2018 às 20h51.
*Texto analítico
Depois do informante da Cambridge Analytica , Mark Zuckerberg está enfrentando um novo inimigo no Reino Unido . Martin Lewis, fundador do popular website britânico de finanças pessoais MoneySavingExpert.com, afirma estar processando o Facebook por difamação devido ao uso não autorizado de sua imagem em dezenas de anúncios.
Como é de costume, a gigante das redes sociais deu uma resposta bastante desgastada: “não permitimos anúncios enganosos ou falsos no Facebook.” A declaração evidentemente é enganosa e falsa. Se não fossem permitidos anúncios desonestos no Facebook, eles não estariam no Facebook. Mas estão. E, no entanto, isso não impede o Facebook de usar essa resposta repetidamente.
A empresa de Zuckerberg deixa para os usuários o ônus de denunciar os anúncios, e promete derrubá-los. Martin Lewis afirma que faz exatamente isso, mas que as propagandas continuam aparecendo -- e algumas delas são golpes. E, como noticiou meu colega Zeke Faux, o Facebook se envolveu com anunciantes de má reputação no passado recente.
O problema está no cerne do modelo de negócio do Facebook. Praticamente todos os anúncios da plataforma são tratados de modo automatizado. A empresa conta com apenas 25.000 funcionários e cada um deles gera US$ 1,6 milhão em receitas, em média. É assim que a empresa consegue pagar uma mediana salarial de US$ 240.430 por ano.
Em outubro, o Facebook anunciou a contratação de mais 1.000 pessoas para analisar e remover anúncios. Mas ainda assim o grupo é reativo. Ele remove os anúncios que já estão no ar, e pessoas como Lewis continuam encontrando o problema. O grupo tenta examinar os anúncios antecipadamente usando a aprendizagem de máquina, mas esta tecnologia está longe da perfeição. Às vezes, um conteúdo bom é bloqueado, enquanto postagens e anúncios prejudiciais continuam aparecendo.
A mediana salarial da Amazon.com, de US$ 28.446 por ano, irritou os defensores dos profissionais com baixos salários na semana passada; é compreensível, considerando o enorme valor da empresa. Mas Zuckerberg poderia aprender uma lição com Jeff Bezos . Apesar de a mediana salarial do Facebook ser quase 10 vezes superior à da Amazon , a empresa precisa urgentemente contratar mais olhos, com salários não tão altos, para corrigir os problemas que não consegue identificar com a automação.
Cada anunciante deveria no mínimo ser examinado antecipadamente -- como o Facebook prometeu fazer com os anúncios políticos. A medida reduzirá a rentabilidade, mas uma empresa cuja força vital são os dados dos usuários e a publicidade não pode suportar tantos golpes à reputação.
Pelo andar da carruagem, a semana certamente será interessante para a empresa em Londres. Parlamentares britânicos interrogarão o diretor de tecnologia da empresa, Mike Schroepfer, na quinta-feira. Será um evento muito diferente das duas sessões de Zuckerberg no Capitólio, nas quais os senadores receberam cinco minutos e os deputados, apenas quatro minutos cada. Zuckerberg pôde oferecer respostas muitas vezes tão evasivas quanto à resposta dada a Martin Lewis.
O comitê britânico é composto por apenas 12 membros, que terão mais tempo cada e poderão fazer perguntas pontuais complementares. Os comitês especiais do Parlamento têm uma reputação bastante digna de responsabilização das empresas, e a Europa tem se empenhado em enfrentar as potências do Vale do Silício. Enquanto Zuckerberg não fizer mudanças profundas na estrutura de funcionários da empresa, não adianta esperar nenhum alívio.