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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2008 às 15h11.
A Amyris, empre de biotecnologia da Califórnia, recebeu um aporte da Votorantim Novos Negócios como parte de um investimento que apoiará a companhia a desenvolver diesel a partir da cana-de-açúcar.
O investimento, que não teve o valor divulgado, coloca a Votorantim como uma das cinco principais sócias da companhia. O presidente da Votorantim Novos Negócios, Fernando Reinach, passa a integrar o conselho de administração da empresa ao lado de outros quatro executivos, entre eles John Doerr, da Kleiner Perkins Caufield, investidor que ficou bilionário ao investir em empresas de tecnologia como Amazon e Google e que agora aposta em energias renováveis.
Segundo John Melo, presidente da Amyris, os recursos serão utilizados para continuar o desenvolvimento da tecnologia para a produção primeiramente do diesel, mas posteriormente também está nos planos a produção de querosene para aviação e gasolina a partir de cana-de-açúcar. A técnica inclui a utilização de uma levedura geneticamente modificada para atuar no estágio da fermentação da cana. Essa levedura permite que o caldo de cana se transforme em diesel em vez de etanol.
A técnica foi gerada a partir da descoberta de uma molécula que reproduz as características do diesel comum. Como essa substância não existe no ambiente natural, a técnica da Amyris foi sintetizá-la a partir do açúcar da cana. “Não vemos esse combustível como um substituto do diesel inicialmente, mas como um complemento importante, já que ele carrega todas as suas propriedades”, diz Reinach.
A Amyris tem hoje 20 pesquisadores no Brasil, instalados em um laboratório na região de Campinas, e deve encerrar o ano com 35. Para a produção brasileira, a companhia pretende montar uma planta piloto em fevereiro de 2009, focada em diesel. Em 2010, a intenção é criar uma base com escala industrial em Sertãozinho, interior de São Paulo, em conjunto com a usina Santelisa. Para 2011, o plano é implementação comercial.
“Para 2011, a previsão é de 400 milhões de litros de diesel produzidos. Em 2012, a estimativa é chegar em 1 bilhão de litros”, diz John Melo, CEO da Amyris. Hoje, o mercado brasileiro consome cerca de 45 bilhões de litros de diesel por mês.
O modelo de negócios prevê parcerias com usinas de cana-de-açúcar que queiram produzir o diesel. As usinas deverão investir no processo produtivo e adaptar parte de sua estrutura para o novo tipo de fermentação. A Amyris vai ser, segundo Melo, vai trazer a levedura de seus laboratórios nos Estados Unidos e distribuir para as usinas interessadas. Entretanto, mais que uma fornecedora da levedura, a empresa quer ser distribuidora em potencial dos combustíveis produzidos.
Os testes de viabilidade do diesel de cana, como os de emissão e de compatibilidade com motores veiculares, já estão sendo feitos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da Universidade de São Paulo. Após esse laudo, a Amyris deverá submeter os resultados e pleitear a certificação do diesel junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O diesel, a querosene de aviação e a gasolina são apenas alguns produtos que podem ser extraídos da cana. Na avaliação de John Melo, existe potencial para desenvolvimento de até 60 substâncias a partir da sacarose no futuro. “O preço de produção do petróleo só tende a crescer no futuro, ao contrário do nosso processo produtivo, que terá um barateamento nos custos”, diz Reinach. Em escala comercial, o barril do diesel de cana deverá chegar a 60 dólares.
Com o aporte da Votorantim, a Amyris totaliza 100 milhões de dólares recebidos nos últimos 12 meses. Essa é a segunda rodada de investimentos de capital de risco que a companhia recebe. A primeira etapa aconteceu em 2006, com o aporte de 20 milhões de dólares. Em 2004, porém, a companhia havia recebido 42 milhões de dólares da fundação Bill e Melinda Gates para pesquisar o desenvolvimento de um medicamento à base de artemisina, substância que pode ser usada na cura da malária. O medicamento, desenvolvido a partir de uma parceria com o laboratório Sanofi Aventis, será comercializado em quatro anos e deverá custar 25 centavos de dólar.
Nos Estados Unidos, a Amyris tem cerca de 200 funcionários, sendo que 75% deles são engenheiros de metabolismo. Um dos projetos dos quais a empresa participa é o cultivo de cana na região do Alabama para atender as exigências da Força Aérea local. Até 2016, 50% do combustível queimado pelas aeronaves da Força Aérea - hoje, esse total está em torno de 10 bilhões de litros por ano - deverá ser composto de combustíveis renováveis. A Amyris pretende fornecer um terço desse volume renovável pretendido pelo órgão americano. “Cultivar a cana nos Estados Unidos chega a ser até 50% mais caro, mas para a Força Aérea, o importante é que esse conhecimento permaneça no país”, complementa Melo.