Terapia online virou hábito em 2020 por conta da pandemia do coronavírus (Olga Strelnikova/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 3 de setembro de 2021 às 09h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2021 às 10h07.
Semanas antes de o coronavírus se tornar manchete principal no Brasil, os colegas Fabio Iamazaki e Flavio Vaz de Oliveira decidiram pôr em ação um plano que cultivavam há alguns anos: montar uma plataforma para psicólogos e pacientes consultarem virtualmente, tornando a terapia mais acessível para quem nunca teve acesso.
Os sócios não tinham como imaginar que o vírus não só tornaria obrigatório o atendimento online, como também afetaria a saúde mental de milhares de pessoas pelo Brasil. Na medida que a pandemia se tornava mais concreta, os três sócios perceberam que podiam usufruir da plataforma para ajudar quem precisasse.
Foram noites incansáveis de trabalho até nascer a Buscoterapia, conta Oliveira, psicólogo clínico há 10 anos e um dos sócios da startup. “Fizemos uma campanha no Instagram para atingir pessoas que estavam sofrendo na pandemia. Muitos psicólogos se juntaram a nós e fizemos diversos atendimentos gratuitos.”
A campanha “Plantão Psicológico”, como foi chamada, durou gratuitamente até dezembro de 2020. Teve foco na ansiedade porque o nervosismo “de não saber o que vai acontecer no próximo dia trouxe às pessoas esse sofrimento”, conta Oliveira. “E a ansiedade desencadeia outras coisas, como depressão, violência doméstica ou separação.”
Mesmo antes da pandemia, a OMS indicava que o Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo, além de ser o país com a maior incidência de depressão na América Latina. No quesito individual, o contexto trazido pela quarentena não é melhor: houve um crescimento do consumo de bebidas alcoólicas e cigarros, enquanto hábitos como exercícios físicos e sono de qualidade perderam espaço.
A Buscoterapia também prioriza a privacidade dos usuários. Idealizada pelo sócio Iamazaki e o Diretor de Tecnologia, Henrique Albanese, a plataforma já foi criada de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A lei estabelece as regras sobre o uso dos dados pessoais dos brasileiros e prevê advertências, bloqueios e multas diárias que podem chegar a 2% do faturamento líquido, em um teto de até 50 milhões de reais. “A Buscoterapia já nasceu com esse conceito de segurança by design”, disse Iamazaki. “As outras empresas acabaram tendo que se adaptar, realizando “remendos” no sistema de segurança de dados.”
Além de estar em conformidade com a LGPD, a empresa promete o sigilo absoluto dos prontuários dos psicólogos: “Nunca reaproveitamos banco de dados quando atualizamos o funcionamento da plataforma”, garante o sócio.
A startup vai muito além da videochamada e tem em sua plataforma uma espécie de consultório virtual. “Criamos conexão entre aqueles que precisam de terapia e aqueles que não têm como se divulgar, como profissionais que acabaram de concluir o ensino superior e ainda não possuem uma rede de pacientes consolidada”, explica Oliveira.
A plataforma possui uma agenda unificada de pacientes para o psicólogo cadastrado, um painel de controle financeiro, uma plataforma própria para chamadas de vídeo, lembretes pré-consulta e prontuário (com uso de hashtags para facilitar a busca de palavras-chave).
“Nós também deixamos disponível para o psicólogo trazer os pacientes particulares para a plataforma sem custo nenhum”, conta Oliveira. “Isso é dar a ele a possibilidade de se logar na Buscoterapia de manhã e só precisar deslogar à noite.”
Para ingressar na plataforma como psicólogo, é preciso ter registro no CRP e no Ipsi, que serve como autorização para o atendimento online. Existem três opções de pagamento mensal, que vão de 70 a 120 reais, mas até o pacote mais básico oferece todas as ferramentas disponíveis na plataforma.
Os usuários podem pesquisar por terapeutas de acordo com perfil, preço, região (real ou virtual) e disponibilidade de horário.
Empresas também podem entrar em contato com a Buscoterapia. Em 2020, foram 576 mil pessoas afastadas do mercado de trabalho por conta de adoecimento mental, um aumento de 26% em comparação a 2019, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Portanto, acaba sendo mais vantajoso buscar por uma solução em companhias de saúde mental.
Seguindo o Plantão Psicológico, a Buscoterapia continua encontrando maneiras de oferecer atendimento terapêutico a quem precisa. “Está dentro do nosso DNA o trabalho voluntário”, disse Oliveira. “Saber que pessoas simples tiveram acesso a um atendimento de qualidade, para a gente, é motivo de muito orgulho.”
Em 2022, a empresa planeja lançar o Buscosocial, projeto que visa não só o atendimento psicológico, mas também assistência social e parcerias com outros projetos. “Dentro da nossa primeira campanha, conscientizamos os psicólogos que é importante doar um pouco do tempo para contribuir para a sociedade, e o Buscosocial vai vir nessa pegada.”