EXAME.com (EXAME.com)
Maurício Grego
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h39.
Se nada sair errado, em menos de cinco anos você vai poder fazer compras com o controle remoto do televisor, navegar na internet com um celular e um monitor-óculos e ainda usar o notebook o dia inteiro sem ligar na tomada. Veja, a seguir, seis avanços que vão permitir isso e muito mais.
1 Pilha de combustível
Você está no meio de uma conversa importante e, de repente, o celular fica mudo. Acabou a carga da bateria. A fome de energia dos circuitos eletrônicos e a limitada capacidade das baterias conspiram para tornar os aparelhos portáteis muito menos práticos do que gostaríamos. Mas a solução pode estar a caminho. A tecnologia de pilhas de combustível promete triplicar a autonomia de notebooks, câmeras digitais, celulares e outros aparelhos.
Como uma bateria comum, a pilha de combustível tem dois eletrodos separados por um eletrólito. Um fluxo de hidrogênio passa pelo eletrodo negativo e libera elétrons, gerando tensão elétrica. Os prótons que sobram dessa reação combinam-se com o oxigênio do ar no outro eletrodo, produzindo água e calor. Como é difícil armazenar hidrogênio puro, ele geralmente é obtido a partir do metanol ou de outro combustível. Para manter um celular em funcionamento durante um mês, bastam 20 ou 30 mililitros de metanol. É o volume aproximado de um cartucho de tinta usado em canetas-tinteiro.
A primeira pilha de combustível foi construída em 1839, por William Grove, juiz e cientista galês, mas não despertou interesse na época. Nos anos 60, essa tecnologia começou a ser empregada na indústria aeroespacial. Agora, ela parece estar quase pronta para um uso mais geral. Em outubro, a Motorola apresentou um protótipo movido a metanol com o tamanho de um palmtop. A empresa estima que deve demorar de dois a quatro anos até que os primeiros modelos cheguem às lojas. No início, vão ser caros e voltados a aplicações especiais que exigem maior autonomia. Espera-se que o custo caia com o tempo.
2 Monitor orgânico
Os monitores tradicionais de raios catódicos são grandalhões demais, e os de cristal líquido, muito caros. A melhor promessa para sair desse dilema está nos monitores orgânicos. Eles deverão ser mais finos que os de cristal líquido e ainda vão ter menor consumo de energia, melhor qualidade de imagem e um preço de 20 a 50% menor.
A base do monitor orgânico está num dispositivo conhecido como Oled, iniciais em inglês de Diodo Orgânico Emissor de Luz. Como o Oled emite sua própria luz, uma tela orgânica não precisa de retroiluminação como as de cristal líquido. Sua construção é mais simples e barata. A densidade de pixels é maior que no cristal líquido. Isso permite, por exemplo, construir monitores portáteis individuais, em forma de óculos, com excelente resolução.
A Pionner, que licenciou tecnologia da Kodak, já produz mostradores orgânicos para auto-rádios e para alguns celulares da linha Timeport, da Motorola. A Toshiba espera iniciar a fabricação de telas para palmtops e outros pequenos aparelhos em abril de 2002 e a Sony, em 2003. O principal obstáculo ao uso de telas orgânicas em micros e televisores é que a vida útil delas é de apenas 5 mil horas de funcionamento, cerca de um terço da que é oferecida pelos displays de cristal líquido. Se essa limitação for eliminada, o cristal líquido estará com os dias contados e os monitores de raios catódicos deixarão de ser a escolha número 1 em micros de mesa.
3 Reconhecimento de voz
A tecnologia de reconhecimento de voz vem se tornando mais funcional à medida que os processadores ganham potência suficiente para rodar os pesados algoritmos de identificação da fala humana. O resultado prático disso é que, nos próximos anos, ditar textos para o computador ou outro dispositivo e comandá-lo por voz vai ser cada vez mais comum. Isso não significa que o teclado vá desaparecer de repente. Ele deixará de ser usado em algumas situações específicas. Na maioria dos equipamentos, vai conviver com a interface por voz e com outras que ainda vão surgir.
Uma interface que está sendo pesquisada pela IBM é baseada num sensor que detecta os movimentos dos olhos do usuário. Em vez de deslocar o cursor com o mouse e depois clicar para selecionar um objeto na tela, bastará olhar para o objeto e piscar ou dizer alguma coisa. Esse sistema já é usado em algumas câmeras fotográficas da Canon. O fotógrafo olha para um determinado ponto da imagem e a câmera focaliza as lentes nele. A versão para PC é mais complicada porque o sensor precisa varrer uma área maior, e distinguir os olhos de outros objetos à frente. Mas há protótipos funcionando em laboratório. Os primeiros produtos comerciais podem vir em três ou quatro anos.
4 Bluetooth
Apesar da demora em se materializar nas lojas, o Bluetooth continua sendo a melhor aposta para a interligação de dispositivos eletrônicos em redes instantâneas sem fio. Com o Bluetooth, basta aproximar os equipamentos a uma distância de menos de 10 metros um do outro para que eles comecem a conversar por ondas de rádio. As aplicações possíveis para essa interface são inúmeras. Um celular pode usá-la para sincronizar a agenda de telefones com o PC ou palmtop, e uma câmera digital pode enviar fotos à impressora, por exemplo.
Comparado com a interface 802.11 (agora chamada de Wi-Fi), usada em redes corporativas, o Bluetooth tem um alcance menor, é mais lento e menos seguro. Em compensação, consome menos energia e deve atingir um custo menor quando produzido em massa. A empresa americana Allied Business Intelligence prevê que, em 2005, será vendido 1,4 bilhão de equipamentos com Bluetooth no mundo, contra apenas 20 milhões de dispositivos 802.11. Muita gente acha essa previsão otimista demais. Mas o fato é que um grande número de fabricantes de hardware continua investindo em Bluetooth.
Já existem alguns produtos com Bluetooth à venda no mercado internacional. Eles ainda são caros. Um cartão PC Card com interface Bluetooth para notebooks não sai por menos de 100 dólares nos Estados Unidos. Mas basta lembrar quanto custavam os primeiros celulares que chegaram ao Brasil para perceber que o preço pode cair muito à medida que a escala de produção e a concorrência entre os fabricantes aumentam. Dentro de dois anos, muitos equipamentos vão sair da fábrica já com Bluetooth embutido.
5 Celular 3G
Com velocidade de até 2 Mbps, as redes 3G vão oferecer acesso à internet várias vezes mais rápido que as conexões de banda larga que hoje chegam até os micros. Os celulares vão ser totalmente multimídia, permitindo baixar filmes e músicas com rapidez. Com um monitor Oled em forma de óculos e um celular 3G, o usuário vai poder assistir a um filme com excelente qualidade de imagem em qualquer lugar onde esteja. Os jogos online via celular -- hoje primitivos demais para ter alguma graça -- vão ser muito mais divertidos nessa velocidade, possibilitando que os jogadores interajam em tempo real. O celular -- e também os notebooks e palmtops com conexão à rede 3G -- vão ter acesso a uma grande variedade de informações, serviços e lojas de comércio móvel.
Embora as primeiras redes 3G já estejam começando a operar no Japão e na Coréia do Sul, essa tecnologia não deve chegar ao Brasil tão cedo. A implantação da infra-estrutura necessária exige grandes investimentos. As operadoras ainda estão apostando nas redes 2,5G, que operam a até 144 Kbps e só agora começam a funcionar no Brasil. Além disso, essas empresas gastaram 100 bilhões de dólares comprando licenças para telefonia 3G na Europa. Só depois que tiverem recuperado esses investimentos e avaliado melhor o mercado para conexões móveis em alta velocidade é que elas devem partir para a implantação do 3G no Brasil. A previsão é que esse serviço chegue em 2004 ou 2005.
6 Tevê digital
A última vez em que houve um grande avanço na tecnologia da televisão no Brasil foi há trinta anos, quando as cores apareceram pela primeira vez na telinha. Depois disso, os aparelhos se modernizaram, mas a qualidade de imagem e som não mudou muito. Agora, é hora de outra mudança radical. A tevê digital vai ter imagem e som com muito melhor qualidade. Também vai trazer mais interatividade para o telespectador. Vai ser possível, por exemplo, encomendar um produto anunciado com alguns cliques no controle remoto. Em países como a Inglaterra, esse tipo de venda já representa uma porcentagem considerável do comércio eletrônico.
A tevê digital é baseada em tecnologias já estabelecidas. Sua implantação depende mais de fatores econômicos e de padronização que de questões técnicas. Até o dia 18 de novembro, a Anatel, órgão do governo encarregado de estabelecer o padrão a ser adotado no Brasil, ainda não havia divulgado se a opção seria pelo sistema americano ATSC, o europeu DVB-T ou o japonês ISDB-T. O anúncio deve acontecer no início de 2002.
Qualquer que seja o padrão, é provável que as primeiras transmissões digitais aconteçam já em 2002. Mas a transição vai ser gradual. O velho sistema analógico ainda deve continuar ativo por mais uma década.