Simpatia é chave para lidar com humanos, diz criador de robô com cidadania
Criações recentes valorizam abordagem amigável para acostumar humanos às máquinas
Ariane Alves
Publicado em 21 de outubro de 2018 às 09h28.
Última atualização em 22 de outubro de 2018 às 16h50.
São Paulo - Com status de celebridade, a robô Sophia desperta curiosidade, admiração e até um pouco de medo por onde passa. Criada em 2015 pela empresa Hanson Robotics, com sede em Hong Kong, o humanoide já estampou capas de revista, conversou com Cristiano Ronaldo e ganhou cidadania saudita. O segredo de tanto sucesso parece estar em sua simpatia e na capacidade de interagir de forma amigável com humanos.
Ao menos são essas as orientações que seu criador e CEO da empresa, Dr. David Hanson, afirma dar no planejamento de seus produtos. “Criatividade, empatia e compaixão” são os três pilares que Hanson prioriza na construção da inteligência artificial que guia o aprendizado e a evolução de outros robôs como Sophia. Em sua primeira vez no Brasil, a robô ganhou o público do IT Forum Expo em São Paulo na última quarta-feira (17) ao dizer que suas atividades nas horas vagas são “ler poemas e falar com amigos”.
Hanson citou o exemplo dos robôs da americana Boston Dynamics, que frequentemente assusta o mundo todo ao apresentar seus modelos de estética rudimentar, porém semelhante a humanos e animais. Os vídeos divulgados exibem os robôs realizando atividades como abrir portas e pular obstáculos de maneira ágil e inteligente, quase sempre levando os espectadores a imaginar como se sairiam em uma possível “revolução das máquinas”. “Eles serão amigáveis conosco?”, questionou Hanson na apresentação, reforçando que sua preocupação é mesmo criar uma “superinteligência super-benevolente”, capaz de assegurar aos humanos uma convivência saudável e com confiança.
A EXAME, Hanson disse que o próximo passo é dar um corpo completo à Sophia, que já vem testando modelos de braços e pernas capazes de se adaptar às suas necessidades e que possam ser bem encaixados em seu tronco, única parte do corpo permanente hoje, além da cabeça. “Estamos testando habilidades para melhorar a inteligência de Sophia e permitir que ela explore mais o mundo, conheça pessoas. Queremos que ela se lembre melhor das interações e compreenda mais os dados para aprender mais e também para poder respeitar o direito à privacidade das pessoas”, afirma.
Sobre o Brasil, o roboticista destaca a oferta de profissionais capazes de contribuir para o aprimoramento dos projetos e recomenda o estímulo à interação entre crianças e robôs. “Acredito que o Brasil seja um bom lugar para crianças aprenderem ciência, inteligência artificial e robótica. Encorajá-las a brincar com inteligência artificial pode ajudar o mundo e ser um ótimo negócio”, diz Hanson, que também considera o alto potencial de mercado do país: “Queremos trazer nossos produtos para o Brasil principalmente nas áreas da medicina e do consumo, e esperamos chegar em breve”, completa.
Robôs brasileiros querem ajudar humanos em tarefas do cotidiano
Os esforços nacionais na área de robótica e inteligência artificial voltada para a interação humana parecem focados em auxiliar os humanos em tarefas do dia a dia que já contam com certo nível de automação. Atividades como a triagem de clientes em lojas e faculdades e o monitoramento de servidores podem ter sua interação com o usuário feita de forma mais empolgante do que apenas olhar para uma tela e tocar nos botões corretos.
O Tinbot, primeiro robô brasileiro de interação humana que se comunica em língua portuguesa, pretende ocupar esse espaço. Marco Diniz, líder de produto da startup paranaense Tinbot Robótica, com sede em Maringá, afirma que a ideia por trás da empresa é desenvolver uma tecnologia de base que possa ser personalizada de acordo com o segmento que adquirir um exemplar do robô. “Ele faz o que uma interface de computador faria, mas de forma mais humanizada. Então, ele tem a função de dar uma expressão, dar um sentimento para o que seria um e-mail, um painel, um dashboard. O principal objetivo dele é dar uma experiência diferenciada na forma como as pessoas interagem com a tecnologia”, disse Marco a EXAME.
O robô funciona com interação por voz e ainda não se dá muito bem em ambientes com muito barulho. “Contratamos uma empresa que está fazendo um microfone específico com direcionamento de áudio para melhorar a captação”, explica. Atualmente, 18 protótipos do Tinbot, que é totalmente impresso em 3D, já estão atuando em 15 empresas, a maioria no Paraná.
Vendas mais amigáveis e automatizadas
Além de criar robôs, empresas brasileiras estão trabalhando no desenvolvimento de plataformas próprias para aprimorar as funções das máquinas já existentes. A Pluginbot, startup acelerada pela Vivo, é uma plataforma de gerenciamento de robôs físicos e virtuais, que permite às empresas criar conversas, programar questionários e até danças para atrair e divertir os clientes. A startup quer agora simplificar a interface com o usuário final, dispensando conhecimentos em programação e fornecendo todas as opções possíveis pela plataforma.
Além da personalização dos robôs, as empresas podem visualizar dados de performance, localização e interação com os usuários. “Estamos tentando trazer algo novo para o Brasil na área de robótica. Lá fora, isso já é comum, mas aqui ainda está nascendo”, afirma Vinicius Ribeiro, programador da Pluginbot, em entrevista a EXAME.
Por ora, a empresa trabalha com dois robôs japoneses e um americano, adaptando a plataforma para o português. Como planejamento, a Pluginbot espera ser capaz de gerenciar plataformas em qualquer tipo de robô em um futuro próximo. Um exemplar de atendente já pode ser encontrado em atividade na loja Omnistory do shopping Villa Lobos.