Tecnologia

Purificador de água pode ser esperança para África e América

10.000 famílias do Haiti, Bolívia, Gana e Chile podem se beneficiar com aparelho revolucionário que transforma água em plasma


	Torneira: "o que nós buscamos é romper o paradigma e demonstrar que a tecnologia e a pobreza conversam, sim. A tecnologia não chega aos pobres, ou chega até eles quando está obsoleta", disse cientista
 (Joe Raedle/Getty Images)

Torneira: "o que nós buscamos é romper o paradigma e demonstrar que a tecnologia e a pobreza conversam, sim. A tecnologia não chega aos pobres, ou chega até eles quando está obsoleta", disse cientista (Joe Raedle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de maio de 2014 às 19h07.

Um purificador revolucionário, desenhado no Chile, que transforma a água em plasma e consegue eliminar todos seus vírus e bactérias, beneficiará antes do fim do ano cerca de 10.000 famílias de Haiti, Bolívia, Gana e Chile.

Essa é apenas uma pequena parte dos 768 milhões de pessoas no mundo que não têm acesso à água limpa, segundo dados das Nações Unidas.

O chileno Alfredo Zolezzi, à frente dos laboratórios do Advance Innovation Center (AIC), de Viña del Mar (costa central), é autor de uma experiência científica que, pela primeira vez, torna água contaminada em plasma, o quarto estado da matéria além do líquido, sólido e gasoso.

O plasma é obtido com a ionização dos átomos, que perdem sua cobertura de elétrons e ficam todos desordenados.

Estrelas como o Sol se encontram em estado plasmático, e o plasma também é usado para gerar luz em fluorescentes e em modernos aparelhos de televisão.

Diferentemente dos purificadores atuais, o dispositivo criado por Zolezzi acelera a água, aplicando-lhe uma descarga elétrica, transforma-a em plasma e destrói todos os vírus e bactérias em um processo com o qual se obtém água mais pura do que a que chega às nossas casas.

O dispositivo, um tubo de 30 centímetros de comprimento, é alimentado com eletricidade, mas também poderia sê-lo com baterias dotadas de requisitos específicos.

Além disso, o cientista afirmou que exige muito pouca energia e infraestrutura, condições ideais para ser usado em aldeias remotas e pobres.

Embora Zolezzi tenha deixado claro em seu laboratório de inovação que não é um filantropo e que quer ganhar dinheiro com sua invenção, sua meta agora é fazer uma aliança com grandes empresas e organizações internacionais que garanta que a tecnologia chegue aos mais necessitados.

Diálogo entre tecnologia e pobreza

"O que nós buscamos é romper o paradigma e demonstrar que a tecnologia e a pobreza conversam, sim. A tecnologia não chega aos pobres, ou chega até eles quando está obsoleta, e o que queremos é, justamente, desenvolver ciência avançada e conectá-la com problemas reais", disse Zolezzi, entusiasmado.

"O desafio está em fazer as grandes companhias verem que é eficaz um modelo de negócios que ponha a inovação primeiro a serviço dos mais necessitados e depois busque aplicações comerciais", afirmou.

Zolezzi não quis vender essa descoberta. Simplificou-a para que seja fácil de usar em qualquer lugar e se assegurou de que essa tecnologia possa mudar a vida dos que têm menos antes de ser comercializada em larga escala.

Ele também concebeu variações do purificador para que possa, no futuro, ser fabricado em impressoras 3D.

O projeto avançou neste último ano: foram selecionados os países onde vai ser produzido em larga escala e onde será testado com ajuda do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da ONG Fundação Avina. Ambos capacitarão a população de cada país e documentarão as dificuldades antes de uma distribuição global, que chegaria em 2015.

"Não é o mesmo tê-lo na África, em um lugar de muito calor e baixa umidade, ou no altiplano boliviano. Tecnicamente, poderiam representar desafios diferentes", explicou Zolezzi.

Depois, medirão o impacto. "Levar água é higiene, higiene é saúde, saúde é desenvolvimento, desenvolvimento é dignidade", destacou.

"Água é vida"

Antes de preparar o purificador para viajar pelo mundo, Zolezzi testou seu funcionamento com várias famílias do acampamento San José de Cerrillos, um bairro precário de Santiago onde não havia água potável corrente.

"A água saía suja, e tínhamos muitos problemas de saúde, sobretudo, estomacais. Embora tivéssemos água, ficávamos doentes do mesmo jeito", explicou à AFP Rosa Reyes Vargas, ex-líder comunitária do assentamento.

"A água do purificador era cristalina, saía limpinha, tinha um gosto bom. Quando o purificador chegou, não tínhamos medo de fazer suco", contou a mulher, que desde então foi realocada, junto com outras famílias, para um bairro de casas populares de Santiago.

Agora que não mora mais no assentamento, Rosa diz sentir falta do aparelho.

"Na vida, é melhor viver sem luz, mas com água, porque a água é a vida, você precisa dela para viver", afirmou.

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