Por que Musk sai ileso e o Uber é punido por elo com Trump
Uber perdeu clientes e motoristas e foi alvo de uma campanha de boicote, enquanto as críticas escorregaram pela Tesla sem pegar
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2017 às 14h12.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2017 às 17h26.
Enquanto o Uber ficou abalado por seu vínculo com o presidente dos EUA, Donald Trump, a fabricante de carros elétricos e concorrente ocasional Tesla resistiu confortavelmente à sua associação com um presidente que tem as taxas de aprovação mais baixas que qualquer outro antecessor em seus primeiros dias no cargo.
O Uber perdeu clientes e motoristas e se tornou alvo de uma campanha no Twitter que estimulava as pessoas a eliminar o aplicativo da empresa.
Essa oposição compeliu o CEO do Uber, Travis Kalanick, a desistir do Fórum de Estratégias e Políticas Econômicas de Trump.
A Tesla, por sua vez, enfrentou reações negativas relativamente ínfimas, e não houve nenhuma iniciativa comparável para boicotar os produtos da empresa. O CEO da Tesla, Elon Musk, disse que não pretende abandonar o comitê.
O contraste é visto como uma dupla moral dentro da sede do Uber, em São Francisco.
Em conversas particulares, executivos seniores e investidores se queixaram de que Musk tenha saído ileso de suas associações com um presidente que causa divisões e de sua participação no mesmo grupo de assessoramento empresarial que Kalanick teve de abandonar, de acordo com pessoas envolvidas nessas conversas.
“Isso não representa o que nós sentimos”, disse Jill Hazelbaker, porta-voz do Uber. “Nenhuma das pessoas que trabalham no Uber gostaria que outra companhia passasse pelo que nós passamos nas últimas semanas.”
Não é a primeira vez que o Uber observa com inveja Musk contornando os mesmíssimos obstáculos enfrentados pelo gigante do setor de transporte compartilhado.
Em dezembro, o Uber implementou uma pequena frota de carros autônomos em São Francisco sem solicitar uma licença para veículos autônomos.
Quando o Departamento de Veículos Motorizados (DMV, na sigla em inglês) da Califórnia reclamou, o Uber apontou para a Tesla, alegando que simplesmente seguia os passos da fabricante de veículos.
“O que estamos fazendo hoje é exatamente a mesma coisa que a Tesla faz”, disse na época Anthony Levandowski, diretor do Grupo de Tecnologias Avançadas da companhia, que supervisiona carros autônomos e outros projetos.
As autoridades discordaram. O DMV revogou o registro dos carros do Uber, mas os motoristas dos carros da Tesla continuam deixando que seus veículos robóticos os levem por aí.
Em vez de apresentar a papelada como mais de 20 empresas de tecnologia e fabricantes de carros fizeram — inclusive a Tesla, que fez isso para o sistema autônomo que está sendo testado, mas não para os carros com o recurso Autopilot — o Uber transferiu seus veículos para o Arizona.
Cada uma das empresas é moldada pela enorme reputação de seu fundador. Enquanto Kalanick é visto como um brigão e fã de Ayn Rand que defende os mercados livres, Musk é um mago que traz foguetes, carros elétricos, túneis para acabar com engarrafamentos, energia solar e outras maravilhas futuristas para a humanidade.
“Elon Musk criou a marca Tesla com base em sua marca pessoal”, disse Daniel Binns, diretor administrativo da empresa de consultoria Interbrand, pertencente à Omnicom Group.
“Há uma enorme predisposição positiva em relação à marca, então, se houvesse algum sentimento de negatividade, eles conseguiriam lidar com isso.”
A marca Tesla — e, por extensão, a marca de Musk — representa “um desejo nobre: sua visão é tornar o mundo mais sustentável ao oferecer fontes renováveis de energia, carros e fontes de bateria”, disse Binns.
“O Uber não tem isso. Não é uma organização famosa por ser voltada a uma missão.”
A Tesla preferiu não comentar. Hazelbaker, do Uber, disse: “Sabemos que nós cometemos erros antes e estamos trabalhando arduamente para atender a passageiros, motoristas e cidades do mundo inteiro”.