Pokémon GO faz um ano e atrai só fãs 'fiéis'
"A febre não passou. O jogo ainda movimenta as pessoas e faz a gente sair de casa até em dias frios", defende um dos jogadores
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de julho de 2017 às 17h07.
Última atualização em 22 de julho de 2017 às 17h07.
São Paulo - Nem a temperatura de 14º C ou o vento frio de inverno intimidou um grupo de cerca de 50 pessoas do Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, na tarde da última quinta-feira. Em um ponto pouco movimentado do parque, a turma de amigos - de idades e profissões diversas - se reúne diariamente para capturar criaturas no jogo de realidade aumentada Pokémon Go .
O grupo de fãs do game agora é pequeno, quando comparado às centenas de pessoas que saíam para caçar pokémons em locais como a Avenida Paulista e o próprio Ibirapuera, em agosto de 2016, quando o jogo foi lançado no País.
Para muitos que circulavam no parque, o grupo causava certo estranhamento. Em meio às pessoas que estavam ao parque para se exercitar, o grupo parado, mirando a tela do celular, chegou a ser motivo de espanto.
"São aquelas pessoas que se vestem de desenho animado?", arrisca a empresária Edna Soarez, de 71 anos, que fazia caminhada até ser questionada pelo Estado sobre o grupo.
Ao ser informada que eram jogadores de Pokémon Go, Edna disse: "Ainda jogam isso?". O questionamento, no entanto, não é surpreendente: o jogo virou febre em todo mundo durante cerca de dois meses, mas o interesse das pessoas foi diminuindo com o passar do tempo.
Para os usuários, a dinâmica do game foi perdendo a graça, porque as pessoas conseguiam pegar a maioria dos monstrinhos e não havia novos desafios a superar. Por isso, só quem é fã mesmo da franquia japonesa se manteve fiel.
Proprietário de um estacionamento, Jeffrey William Lobão, de 27 anos, é fã de Pokémon desde a década de 1990, quando o jogo das criaturas japonesas para o portátil Game Boy só podia ser encontrado em versão japonesa no Brasil. Hoje, ele continua um aficionado do game de realidade aumentada e acredita que ele ainda é popular.
"Quando o jogo chegou ao Brasil, o Parque do Ibirapuera era uma loucura. Todo mundo correndo para todo lado", lembra. "Hoje, as pessoas estão mais tranquilas. Ficam sentadas e comem um salgado enquanto esperam algum pokémon raro."
Paz
Há um ano, quando aparecia um pokémon raro, era melhor sair da frente: pessoas corriam de todos os lados atrás da criatura virtual.
Agora, uma pessoa avisa o restante do grupo quando avista um novo pokémon ou uma batalha começa. As pessoas caminham sem correr para o local, em uma espécie de procissão. Com isso, o jogo ganhou um aspecto social importante, que não existia um ano atrás, quando imperava o silêncio e a concentração entre o jogadores.
"Tenho um grupo no WhatsApp com mais de cem pessoas interessadas e que conversa todo dia para saber de novidades do jogo", afirma André Medeiros, que é chef de cozinha e costuma ir para o parque antes do trabalho.
"Quando a gente vem para o Ibirapuera, passa o dia conversando. E não é apenas por causa do Pokémon Go. Nós criamos um grupo com pessoas que se veem pelo menos uma vez por semana. É divertido e faz o estresse passar antes de um dia de trabalho puxado que vem pela frente."
Com isso, o clima dentre os jogadores no Ibirapuera é o de uma equipe praticando um esporte coletivo, no qual todos se ajudam; antes, cada um estava preocupado em melhorar seu desempenho individual. Exemplo do novo espírito é a competição que começa neste fim de semana em todo mundo: jogadores vão se reunir para caçar o maior número de criaturas e, ao final, desbloquear um pokémon lendário - extremamente raro e forte no jogo -, que deverá ser derrotado em conjunto. Os organizadores dos grupos de fãs de Pokémon Go estimam que 3 mil pessoas participarão do evento no Ibirapuera.
O estudante Paulo Mário, de 15 anos, está ansioso pela data. Acompanhado da mãe, ele não escondia o entusiasmo enquanto caçava pokémons no parque junto com o grupo de fãs do jogo. "No sábado vou chegar cedo e ficar até as 21h", conta o rapaz, sob o olhar cansado da mãe, que o espera sentada numa cadeira portátil, enquanto come salada de frutas.
"A febre não passou. O jogo ainda movimenta as pessoas e faz a gente sair de casa até em dias frios", defende Mário. "O que eu estaria fazendo agora, nas férias, se eu não estivesse jogando Pokémon Go?"