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Parceria melhora tratamento de fissura labiopalatina

Trabalho do Laboratório de Fisiologia do Centrinho de Bauru ganhou força e visibilidade graças a colaboração com a Universidade da Carolina do Norte

Medicina: ferramentas ajudaram os pesquisadores a investigar as repercussões fisiológicas de uma técnica cirúrgica conhecida como retalho faríngeo (Getty Images)

Medicina: ferramentas ajudaram os pesquisadores a investigar as repercussões fisiológicas de uma técnica cirúrgica conhecida como retalho faríngeo (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2013 às 10h06.

Raleigh – Com auxílio de técnicas que permitem avaliar a qualidade da fala, da respiração e do sono, um grupo de pesquisadores do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/USP), em Bauru, tem contribuído para aperfeiçoar o tratamento de pacientes com fissura labiopalatina – malformação na região do lábio e do céu da boca conhecida popularmente como lábio leporino.

“Os resultados de nossos estudos contribuíram para que a equipe buscasse métodos alternativos para uma técnica cirúrgica que demonstramos causar problemas respiratórios e para a implantação de uma Unidade de Estudos do Sono no hospital”, contou Inge Elly Kiemle Trindade, coordenadora do Laboratório de Fisiologia do HRAC/USP.

De acordo com Trindade, o trabalho da equipe de fisiologia do Centrinho – como é conhecido o HRAC – ganhou força e visibilidade a partir de meados da década de 1990, quando teve início uma parceria com pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte (UNC), nos Estados Unidos. Alguns dos resultados da colaboração, que perdura até hoje, foram apresentados nesta terça-feira (12/11) na cidade norte-americana de Raleigh, durante a programação da FAPESP Week North Carolina.

“Os dois primeiros equipamentos usados no laboratório foram doados por Donald Warren, diretor do UNC Craniofacial Center na época. O nasômetro serve para avaliar o grau de nasalidade na fala e o rinomanômetro permite mensurar o grau de fechamento do esfíncter velofaríngeo, que separa a cavidade nasal da cavidade oral”, contou Trindade.

As ferramentas ajudaram os pesquisadores a investigar as repercussões fisiológicas de uma técnica cirúrgica conhecida como retalho faríngeo, cujo objetivo é evitar o escape de ar pelo nariz durante a fala, que é responsável pelo som “fanhoso” ou hipernasal característico de pacientes com fissura labiopalatina.


“Mostramos que a técnica era eficaz na eliminação dos problemas de fala, mas, ao mesmo tempo, causava problemas respiratórios significativos. Passamos a suspeitar que essa obstrução das vias aéreas poderia ser a explicação para a incidência acima da média de apneia do sono nesses pacientes”, contou Trindade.

Com base nos resultados desses estudos, foram adotados métodos alternativos menos obstrutivos, como o prolongamento do palato (céu da boca). Além disso, o problema da apneia do sono entre os pacientes ganhou maior atenção com a criação da Unidade de Estudos do Sono.

Com o passar dos anos, e com o apoio de entidades como FAPESP, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o laboratório foi ganhando novos equipamentos, entre eles o sistema de rinometria acústica, que permite avaliar as dimensões de vias aéreas nasais e foi comprado por meio de um Auxílio à Pesquisa – Regular.

O equipamento foi usado para avaliar problemas de fala em pacientes fissurados, durante o mestrado de Andressa Sharllene Carneiro da Silva, realizado com Bolsa da FAPESP. Para isso, foi adotada uma modificação da técnica padrão sugerida pela equipe da UNC.

A aquisição de um sistema de polissonografia – usado para avaliar a qualidade do sono – contribuiu para o doutorado de Leticia Dominguez Campos, também com Bolsa da FAPESP. A pesquisa mostrou que o retalho faríngeo não era, na verdade, o fator obstrutivo mais significativo para o desenvolvimento da apneia do sono em pacientes de meia-idade, fase em que aumenta a incidência da doença.


“Agora estamos investigando a morfologia das vias aéreas para saber se há um estreitamento excessivo da faringe, decorrente da fissura, que poderia ser a origem do distúrbio de sono tanto em indivíduos mais velhos, como também em crianças e adultos jovens”, contou Trindade.

O trabalho está sendo feito com a ajuda de um software que permite usar imagens de tomografia digital para reconstruir em três dimensões as vias respiratórias. Conta ainda com a parceria de Luiz André Freire Pimenta, brasileiro que atualmente ocupa o cargo de diretor odontológico do UNC Craniofacial Center, situado na cidade de Chapel Hill.

“Existem hoje diferentes softwares para fazer a reconstrução volumétrica (3D) das vias aéreas. No projeto conjunto que estamos começando, vamos comparar os resultados do método usado no Centrinho com o sistema adotado pelo UNC Craniofacial Center e ver qual tem a melhor performance”, contou Pimenta, presente no segundo dia da FAPESP Week North Carolina.

De acordo com o pesquisador, os equipamentos de análise tridimensional têm permitido criar uma nova classificação para os casos de fissura labiopalatina e facilitado a comunicação entre os especialistas. “Foram criadas novas maneiras de avaliar os pacientes. Podemos mandar a imagem em instantes para qualquer parte do mundo, não precisamos mais ter o paciente na clínica para uma análise inicial. Com a nova classificação proposta, que em breve será submetida para publicação, médicos e dentistas poderão se comunicar mais facilmente e planejar o tratamento”, contou Pimenta, ex-professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Em sua apresentação, Pimenta – ex-professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – ressaltou a contribuição da FAPESP em sua trajetória acadêmica. “Atuei como professor no Brasil entre 1992 e 2006, quando recebi o convite para ficar na Carolina do Norte. Nesse período, tive 13 projetos de pesquisa financiados pela FAPESP, que resultaram em 18 dissertações de mestrado, 11 teses de doutorado e 54 artigos publicados”, contou.

Projetos internacionais

A visibilidade alcançada pela equipe de fisiologia do Centrinho rendeu o convite para participar em três grandes projetos internacionais – dois deles financiados pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.

Um desses projetos – intitulado “Timing of primary surgery for isolated cleft palate (Tops)” – tem o objetivo de investigar a melhor época para fazer a correção cirúrgica em crianças com fissura de palato isolada (aos 6 meses ou aos 12 meses) em termos de resultados de fala, audição e crescimento craniofacial. Além do Centrinho, participam instituições de seis países da Europa: Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia, Inglaterra e Irlanda.

Considerado referência mundial no tratamento de anomalias craniofaciais, o Centrinho de Bauru atende hoje mais de 60 mil pacientes de todo o Brasil. O tratamento inclui cirurgias plásticas e odontológicas, além de acompanhamento ortodôntico, fonoaudiológico e psicológico. Tem início nos primeiros anos de vida e, se o paciente assim desejar, segue até a idade adulta.

A fissura labiopalatina é uma malformação que ocorre durante a gestação e afeta uma a cada 650 crianças nascidas vivas. Alguns fatores de risco são conhecidos, como exposição à radiação ou certos medicamentos na gravidez e histórico familiar. Mas a ciência ainda investiga as possíveis mutações genéticas por trás do problema.

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