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Para CEO do Duolingo, aprender inglês é como ir à academia

Luis von Ahn diz competir pelo tempo que as pessoas passam jogando Candy Crush

 (EneasMx/Wikimedia Commons)

(EneasMx/Wikimedia Commons)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 2 de fevereiro de 2019 às 05h59.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2019 às 10h16.

São Paulo -- Depois de vender a empresa de verificação de autenticidade online reCaptcha ao Google, Luis von Ahn, cofundador e CEO do Duolingo, assumiu a missão de oferecer ensino de idiomas gratuito.

Com o aplicativo, disponível para Android, iPhone e web, a meta é derrubar a barreira da distância para o aprendizado e também para a certificação no idioma inglês.

A empresa não deixa de ganhar dinheiro. Recentemente, ela ligou suas ferramentas de monetização: anúncios e assinaturas. Só com publicidade, passou a faturar 10 milhões de dólares ao ano.

No entanto, o ensino de idiomas permanece totalmente gratuito. Na disputa pelo tempo das pessoas, o aplicativo considera como rivais jogos à la Candy Crush e redes sociais, como Facebook e Instagram.

Confira a entrevista a seguir.

EXAME: O que mudou no ensino de idiomas desde a criação do Duolingo?

Luis von Ahn: Mais do que nunca, as pessoas usam dispositivos móveis para aprender. Antes, esse modelo de ensino era desacreditado. Fora isso, os aplicativos passaram a oferecer um primeiro contato com idiomas diferentes. Mais da metade das pessoas que usam o Duolingo não estavam aprendendo uma língua antes do download do aplicativo. Muitos dos nossos usuários são pessoas que não estão muito comprometidas em aprender uma língua nova. Esse é o público que trocou o Candy Crush pelo Duolingo porque percebem que não estão perdendo tempo.

EXAME: Esse misto de ensino com gameficação é crucial?

Luis von Ahn: Para nós, sim. Aprender um idioma é muito difícil. Leva anos para ser fluente, então, você precisa permanecer motivado. É como ir à academia com regularidade. Todo mundo quer, mas é muito difícil de adquirir o hábito. Sem a gameficação, não estaríamos onde estamos hoje. A retenção de uso do Duolingo é muito alta.

Não nos comparamos a aplicativos de educação, porque eles são terríveis nesse aspecto, nos comparamos com jogos casuais. Junto com Facebook e Instagram, esses são os nossos principais rivais. Competimos pelo tempo das pessoas.

EXAME: O Duolingo passou a exibir publicidade. Como tem sido a aceitação dos usuários?

Luis von Ahn: Melhor do que o esperado. Os anúncios foram colocados porque precisamos ganhar dinheiro. O jeito mais simples seria cobrar pelo uso do aplicativo, mas isso é contra nossa missão, que é oferecer ensino de idiomas gratuito.

A publicidade nos permite ganhar dinheiro e manter a gratuidade. Também temos uma assinatura para eliminar os anúncios, mas você pode continuar a aprender de graça. O segredo para ter uma boa aceitação da publicidade foi colocá-la ao final de cada lição, é o método menos incômodo. Só com a publicidade, conseguimos mais de 10 milhões de dólares por ano.

EXAME: Como vocês chegaram ao preço de 33 reais pela assinatura do Duolingo, enquanto outros aplicativos, como a Netflix, têm preços mais baixos?

Luis von Ahn: Primeiro testamos os preços nos Estados Unidos. Inicialmente, apenas convertemos o preço de 10 dólares. Depois, fizemos testes com preços mais baixos, porque o Brasil tem poder de compra menor. O fato curioso é que isso foi pior.

Nossa conclusão é de que a maioria das pessoas no Brasil não paga por aplicativos, e vamos ganhar dinheiro com elas por meio dos anúncios. As pessoas que pagam são relativamente ricas e a diferença de preço não faz diferença. Mas também acho que há o fato de que você pode ter acesso a tudo, menos às aulas off-line, sem precisar de uma assinatura.

EXAME: Vocês oferecem um certificado de inglês. Onde ele é aceito e o que motivou a empresa a criá-lo?

Luis von Ahn: Nossa ideia é competir com o Toefl. O certificado de inglês era um dos principais pedidos dos nossos usuários. O teste do Toefl custa caro e requer que você vá a um centro especial para isso. Se você não mora em uma cidade grande, você precisa marcar hora e viajar até lá. Sou da Guatemala. Eu tive que voar até El Salvador para fazer o teste para poder imigrar para os Estados Unidos. O desafio do nosso teste é garantir que as pessoas não colem.

Para isso, gravamos tudo com a webcam do computador do usuário. Hoje, o teste, que custa 50 dólares, é aceito em 250 universidades nos Estados Unidos, como Yale, Harvard e Columbia.

O Brasil está entre os dez país que mais fazem o teste. Uma curiosidade: os brasileiros são os únicos que fazem o teste até sem camisa. Em outros países, as pessoas usam até terno.

EXAME: Como lidar com diferentes alfabetos no ensino de idiomas por aplicativo?

Luis von Ahn: Precisamos melhorar isso. Quando o idioma tem um alfabeto diferente, a retenção de usuários é muito baixa. Uma das soluções seria usar recursos de nosso outro aplicativo, o Tinycards, que é um jogo da memória, para deixar o ensino de línguas como mandarim, japonês e hebraico mais simples.

EXAME: Qual é o próximo passo do Duolingo?

Luis von Ahn: Salvar línguas que estão desaparecendo. Sempre que adicionar um idioma ameaçado ao aplicativo, muitas pessoas começam a aprendê-la. O irlandês, por exemplo, corre perigo. Cerca de 90 mil pessoas sabem a língua. Quando ela foi para o Duolingo, mais de um milhão de pessoas começaram a aprendê-la. Não poderemos salvar todas, mas tentaremos fazer isso por algumas.

Foto: Wikimedia Commons/EneasMx

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