Tecnologia

Accenture: Brasil está atrasado em inteligência artificial

Mais de 56% das empresas não estão pensando nos impactos que a inteligência artificial trará aos negócios

Paulo Ossamu: Inteligência artificial precisa estar na pauta dos presidentes das empresas (foto/Divulgação)

Paulo Ossamu: Inteligência artificial precisa estar na pauta dos presidentes das empresas (foto/Divulgação)

RK

Rafael Kato

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 18h43.

Última atualização em 21 de setembro de 2017 às 14h36.

A consultoria Accenture acaba de realizar um estudo global sobre como empresas de todo o mundo estão utilizando a inteligência artificial (IA) em seu negócios. A conclusão é que essa nova tecnologia — capaz de automatizar os mais variados processos de uma empresa — não se trata mais de uma iniciativa esparsa ou uma promessa do futuro. As empresas que estão ativamente utilizando IA verificam retornos financeiros e, mais importante ainda, estão tomando a dianteira de seus seguimentos de atuação. Paulo Ossamu, diretor da Accenture responsável pela implementação de soluções digitais em empresas do Brasil e da América Latina, afirma que as empresas do país estão, no entanto, atrasadas na adoção de IA, que seria uma ajuda bem-vinda na recuperação da economia brasileira.

Quais tipos de empresas estão tirando melhor proveito da inteligência artificial?

Pesquisamos mais de cinco mil empresas, ouvindo não só os executivos de tecnologia, mas também presidentes. A pesquisa foi realizada em mais de 30 países para tentar entender qual é o grau de familiaridade ou de utilização da inteligências artificial (IA) nessas empresas. Concluímos que há dois eixos para a IA: o quão criativo é o uso versus qual é o nível de colaboração no desenvolvimento da tecnologia. O nível de colaboração é importante para saber se as empresas estão fazendo sozinhas ou se estão usando um ecossistema de startups e parceiros. Quase 20% das empresas pesquisadas têm conseguido trabalhar de forma inventiva e colaborativa. Isso traz resultados e ganhos de eficiência. Essas empresas cresceram em 4% em seu valor desde de 2013 só por conta da IA — as empresas que não utilizam IA cresceram apenam 2%, em cooperação. Isso mostra que não é uma coisa do futuro distante, é algo que pode ser aplicado agora e pode ser usado como um valor de diferenciação.

Mas 56% das empresas do estudo são classificadas como observadoras. O que isso representa?

Sim, de fato mais da metade está esperando para ver onde a IA vai dar, um teste aqui e falando com um outro parceiro ali. Mas de verdade não estão pensando como a IA vai impactar a estratégia do negócio. O risco é que está acontecendo uma guerra por dados. E os dados são essenciais para a IA. Quem está apenas observando não está se organizando para acumular dados.

Esta não é uma estratégia arriscada, uma vez que essas empresas podem ficar para trás no desenvolvimento tecnológico?

Além da guerra de dados, há uma guerra por pessoas. Não existem cientistas de dados suficientes para criar modelos estatísticos, que são a base da IA. Repito, não existe. Quando falamos em IA, são as pessoas que dão a cola entre dados, capacidade de processamento e modelos matemáticos. As grandes empresas de tecnologia estão contratando absurdamente no mercado. Quem não está olhando para essa necessidade de pessoal não vai conseguir ser criativo e nem colaborar. O desenvolvimento da IA não é linear, mas exponencial. A postura de que vai entrar na IA apenas quando estiver mais seguro não funciona, pois, quando você for tentar desenvolver algo, seu concorrente já estará muito na frente.

 As empresas estão utilizando a IA em quais áreas?

A IA é um conjunto de tecnologias. A base, como disse, é formada por dados, ter diferentes modelos matemáticos, e colocar esse modelos para rodar. Isso é o que chamamos de aprendizado de máquinas e de redes neurais, que possibilitam fazer análises de vídeo, reconhecimento de voz, traduções. Uma parte importante disso é a automação de processos. É o uso de IA em tarefas repetitivas que hoje necessitam de várias pessoas, como tirar um pedido de venda e enviar a solicitação ao estoque. Essa é a aplicação mais prática e real.

Como as empresas brasileiras estão neste processo?

No Brasil temos um desafio um pouco maior. Aqui, esse quadrante de observadores é maior do que 56%. Nesses últimos dois anos, com a crise econômica, investimentos deixaram de vir para o país, e pessoas e startups da área saíram. Vamos entrar atrasados nessa onda. Não quero dizer que isso não está acontecendo, mas poderíamos estar em outro patamar. As empresas aqui não decidiram rever as estratégias de negócio à luz do impacto da IA. Estão muito na observação, testando aqui e ali. Só que isso não vai levar a lugar algum. IA não é o assunto do cara de tecnologia. É assunto do presidente da empresa.

Há um risco das empresas brasileiras que estão com esse comportamento passivo de serem atropeladas pelas empresas de fora?

O que tenho falado para meus clientes é que eles devem começar a se antecipar. As empresas brasileiras ainda estão usando métodos antigos para sobreviver à crise, como a redução de pessoal. Sim, isso faz parte. Mas não é só isso. Uma hora a crise acaba e é preciso estar preparado. Elas poderiam usar a IA para lançar as fundações para crescer, lançar novos produtos, atacar outras indústrias. Essa inércia do Brasil pode ser mais prejudicial ainda. É preciso coragem para fazer o que precisa ser feito.

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