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ONU recorre à tecnologia nuclear na luta contra fome

Esterilizar insetos, melhorar os cultivos e acelerar as colheitas são algumas das aplicações da energia nuclear para combater a fome


	Plantação de alimentos: a maioria dos países subdesenvolvidos necessita obter novos cultivos com melhores condições para elevar a produção agrícola
 (Fr Antunes/Creative Commons)

Plantação de alimentos: a maioria dos países subdesenvolvidos necessita obter novos cultivos com melhores condições para elevar a produção agrícola (Fr Antunes/Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2014 às 06h24.

Viena - Esterilizar insetos, melhorar os cultivos e acelerar as colheitas são algumas das aplicações da energia nuclear que a ONU coloca à disposição dos países pobres para ajudar no combate à desnutrição, que afeta 12% da população mundial.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) iniciaram uma série de programas de colaboração em matéria de agricultura e alimentação para auxiliar os países subdesenvolvidos.

Os dois organismos da ONU colaboram no uso da tecnologia nuclear para ajudar os agricultores a melhorar suas colheitas, combater as pragas, aumentar a fertilidade do solo e elevar a qualidade dos produtos.

"A tecnologia funciona muito bem, já que reduz os danos, aumenta a qualidade e, às vezes, a exportação", relatou Jorge Hendrichs, chefe de controle da seção de Luta contra Pragas e Insetos da AIEA/FAO, em entrevista à Agência Efe.

Segundo o especialista mexicano, o mais importante é "ajudar o camponês a reduzir o forte uso de pesticidas".

"Nós entramos com o pacote tecnológico, enquanto os países-membros (da ONU) com o orçamento", acrescentou.

Hendrichs é responsável pela técnica do inseto estéril (TIE), que consiste em criar insetos machos, "às vezes até 2 bilhões semanais", esterilizados com radiação.

Uma vez esterilizados, os insetos se dispersam de maneira sistemática na zona afetada, onde se acasalam com as fêmeas sem conseguir reproduzir. O resultado é a eliminação da praga e, por consequência, a redução do uso de pesticidas.

O programa TIE contribui para atenuar os danos relacionados às pragas, responsáveis por perdas entre 8% e 20% da produção agrícola e criadora de gado do mundo.

Uma das pragas que há mais de 15 anos é combatida com esta técnica é a da mosca tsé-tsé, causadora da doença do sono nos humanos e no gado, e cujo genoma acaba de ser decifrado graças, em parte, ao trabalho em conjunto da AIEA e da FAO.

Este inseto transmite a doença do sono entre os humanos, um mal que, se não for tratado adequadamente, pode causar a morte.

Além de afetar os humanos, essa doença também afeta três milhões de cabeças de gado, o que limita a capacidade de trabalhar no campo e reduz a produtividade agrícola.

Graças ao programa TIE, o Senegal, um dos países africanos mais afetados por esta doença, espera anunciar sua erradicação em meados deste ano.

O sequenciamento do genoma da mosca tsé-tsé abre caminho para melhorar a técnica TIE e entender melhor como funciona a biologia e o comportamento deste inseto, aumentando as estratégias de controle da praga.

A maioria dos países subdesenvolvidos necessita obter novos cultivos com melhores condições para elevar a produção agrícola. Neste aspecto, entra em cena outro dos programas da AIEA/FAO: o de Fitomelhoramento e Fitogenética de cultivos.

Países como Iraque, Líbano, Omã, Arábia Saudita, Síria e Iêmen se beneficiam da técnica nuclear de fitomelhoramento por mutações, usada para aumentar a qualidade dos alimentos e dos cultivos.

Esta técnica favorece a criação de variedades de cultivos melhorados geneticamente, que são mais resistentes a mudanças climáticas, fungos e pragas.

Assim, na Jordânia, por exemplo, a AIEA aplica técnicas de melhoras genéticas ao trigo e à cevada, que alimentam grande parte do país e que se veem ameaçados continuamente por doenças e secas.

Para mudar uma planta e conseguir uma nova variedade, os técnicos bombardeiam a semente com raios X ou Gama durante um minuto. Este tratamento modifica o DNA do cultivo, mas não a contamina com radioatividade.

Um caso recente é o que afeta a banana nanica (que representa 95% das bananas vendidas no mundo), que se vê atacada pelo fungo Sigatoka, responsável por grandes perdas para os agricultores.

"Utilizamos mutações induzidas", contou Pierre Lagoda, chefe de controle da seção de Fitomelhoramento e Fitogenética de AIEA/FAO.

O uso da radiação não faz mais do que encurtar o processo de mutação que se dá na natureza e tem como resultado a produção de uma nova variedade de fruta, explicou o especialista.

"Estas radiações não são perigosas para o ser humano", assegurou Lagoda, que insiste que esta é uma tecnologia segura.

No mundo há cada vez mais pessoas que necessitam ser alimentadas, explicou o especialista, que ressaltou que o uso destas tecnologias é "neutro" e "bom" para produzir mais alimento.

As técnicas do inseto estéril e a mutação induzida são apenas dois exemplos do programa de cooperação técnica com o qual a AIEA está há mais de 50 anos ajudando seus Estados-membros a conseguir um melhor desenvolvimento socioeconômico através do uso de técnicas nucleares.

"Além da energia nuclear para criar bombas, há uma parte muito maior que é o uso de toda esta tecnologia para a paz", finalizou Hendrichs. 

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