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AFP
Publicado em 20 de maio de 2019 às 15h02.
Última atualização em 20 de maio de 2019 às 15h18.
O fim das atualizações do sistema operacional Android nos smartphones da fabricante chinesa Huawei pode complicar a vida dos usuários desses dispositivos, e acima de tudo transformar o mercado de aplicativos móveis. número dois do mundo no mercado de celulares, vende dezenas de milhões de aparelhos todos os meses ao redor do mundo: 203 milhões no total em 2018, contra 150 milhões em 2017, segundo a Gartner. No primeiro trimestre deste ano, a Huawei vendeu 59,1 milhões de smartphones, 19% do mercado e mais do que a americana Apple, embora ainda esteja atrás da empresa líder, a sul-coreana Samsung.
Para os usuários da Huawei, as consequências podem ser importantes, pois o Google atualiza regularmente suas diferentes versões do Android, muitas vezes por motivos de segurança. Nos próximos dias, seus smartphones poderão sofrer falhas, a menos que a Huawei decida fazer as atualizações por conta própria. No momento, o Android afirmou que continuará fazendo essas atualizações de segurança.
A outra consequência, mais indireta, é sobre os aplicativos. À medida em que a Google atualiza o Android, as centenas de milhões de aplicativos disponíveis em sua loja de aplicativos também são atualizados.
Essas atualizações dos aplicativos geram uma forma de obsolescência dos aparelhos que não tiveram as últimas atualizações do Android, fazendo que aplicativos não sejam capazes de funcionar.
No curto prazo, a Huawei tem poucas soluções. Em seus dispositivos atuais, é complicado implementar um novo sistema operacional, em vez do Android.
Nos futuros aparelhos uma alternativa também parece difícil: o único sistema operacional que é suficientemente difundido é o iOS da Apple, disponível exclusivamente em iPhones. A Microsoft tentou lançar uma versão móvel de seu famoso Windows em 2010, mas ela só podia ser aplicada em seus próprios telefones. Além disso, o Windows Phone não teve sucesso e a Microsoft abandonou a aventura em 2017.
No médio prazo, essa decisão do Google poderá encorajar a Huawei a seguir o exemplo da Apple e propor seu próprio sistema operacional, uma ideia que já foi levantada por seus dirigentes.
A Huawei, número dois do mundo, dificilmente pode ser ignorada pelos desenvolvedores de aplicativos, que seriam forçados a oferecer uma versão "Huawei" de seus produtos, para não ter que abrir mão de uma parte significativa do mercado.
Sem ir tão longe, a Huawei pode perfeitamente desenvolver um "fork" (versão alternativa) do Android, uma versão que seria sua, mas reutilizando a maioria dos códigos Android, que são "open source", ou seja, livre de direitos. Isso permitiria manter um produto compatível com os aplicativos desenvolvidos para o Android.
Para o Google, a ideia de cortar laços com a Huawei também leva a riscos. À margem dos iPhones, o Google tem uma posição monopolística com a Android, um produto que lhe permitiu desenvolver serviços associados, como a geolocalização com o Google Maps, Gmail, YouTube, entre outros.
Esses serviços são essenciais na captação de dados dos usuários, fundamental em seu modelo econômico baseado nas vendas de espaços de publicidade. No médio prazo, uma ruptura com a Huawei pode fazer a Google perder o acesso a dados de centenas de milhões de usuários.
Mas o que representa um sério risco para o Google é, sobretudo, o desenvolvimento de um sistema próprio da Huawei. Isso dispensaria a necessidade do uso do Android. No entanto, seria preciso motivar toda a comunidade de desenvolvedores a escrever aplicativos para um terceiro sistema operacional.
A disputa entre a Huawei e a Google representa uma advertência para os demais fabricantes chineses (Xiaomi, Oppo, OnePlus...). Em caso de desenvolvimento de um sistemaoperacional pela Huawei, seus competidores podem se animar a adotá-lo, para evitar as pressões americanas.