O dilema das redes sociais: como combater a desinformação?
O fato de a afirmação falsa se espalhar tão facilmente pela Internet destaca os desafios enfrentados por empresas de redes sociais. O que elas vão fazer?
Bloomberg
Publicado em 5 de outubro de 2020 às 21h52.
Em agosto, um vídeo postado nas redes sociais por uma mulher da Flórida chamada Tina Brown descreveu o que ela alegou serem os riscos potenciais das cédulas eleitorais pelo correio. Brown disse que envelopes para eleitores democratas registrados incluíam um D no código de barras, enquanto os envelopes para republicanos continham um R. Ela então afirmou que um carteiro de esquerda poderia usar os identificadores para suprimir votos republicanos enquanto dizia: “Vamos simplesmente jogar fora”.
Mas o vídeo de Brown omitiu o fato de que as cédulas eram para as primárias de partidos separados, deixando a impressão de que eram para as eleições gerais de novembro.
Mesmo assim, o vídeo do Facebook recebeu 175 mil visualizações de meados de agosto até o fim de setembro e inspirou conteúdo falso semelhante no Facebook , Twitter , YouTube e TikTok . O fato de a afirmação falsa se espalhar tão facilmente pela Internet destaca os desafios enfrentados por empresas de redes sociais como Facebook e Twitter, que tentam combater informações falsas, especialmente sobre as eleições, mesmo enquanto a desinformação continua.
Também mostra os desafios enfrentados por autoridades do governo, que tentam administrar a eleição presidencial em meio à pandemia e um forte aumento de postagens online sobre votação pelo correio. O volume aumentou 91% nos últimos meses, e grande parte envolve informações falsas. Por exemplo, que as cédulas por correio não contam e que esse tipo votação favorece fraudes, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade Clemson.
Um novo estudo da Universidade Harvard - que analisou mais de 5 milhões de tuítes, 75 mil postagens no k e 55 mil artigos de mídia online - concluiu que a campanha de Trump e a Fox News foram a força por trás de falsas alegações sobre cédulas por correio, com certa contribuição das redes sociais. A pesquisa da Clemson revelou que a conta de Trump no Twitter tem sido a mais influente no debate online sobre votação por correspondência.
Facebook e Twitter - ambos anunciaram protocolos mais amplos para promover a precisão das informações eleitorais no mês passado - aplicaram de forma inconsistente suas políticas que tratam o conteúdo que consideram relevante ou de interesse público, de maneira diferente de outras postagens, segundo a análise. No caso do vídeo de Brown, o Twitter removeu todas as postagens contendo o vídeo, exceto uma, mas não agiu em casos em que a mesma afirmação enganosa foi feita em tuítes, de acordo com a Election Integrity Partnership. O Facebook permitiu que o vídeo permanecesse online, mas o etiquetou com links para contexto adicional.
Um porta-voz do Twitter disse que é contra as regras da empresa “usar nosso serviço com o objetivo de manipular ou interferir nas eleições. Isso inclui postar ou compartilhar conteúdo que possa suprimir a participação ou enganar pessoas sobre quando, onde ou como participar de uma eleição.” O Twitter usa “fortes ações de supervisão” e atualiza constantemente suas regras para “proteger o debate público online sobre cédulas por correio”, disse o porta-voz.
Um representante do Facebook disse que a análise da Election Integrity Partnership refletiu bem a empresa em relação a outras plataformas de mídia social. “Implementamos políticas fortes contra a supressão de eleitores que aplicamos uniformemente a todos”, disse a empresa em comunicado. “Estamos constantemente melhorando esses sistemas, mas estamos encorajados pelo progresso que fizemos”, disse o representante.
Em entrevista a uma rede de TV local, Brown disse que postou o vídeo para educar os eleitores e que a reação foi “louca”. A Bloomberg não conseguiu entrar em contato com Brown para comentários.