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O apagão da minha vida

Uma pequena besteira no PC destruiu tudo o que produzi nas duas últimas décadas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h22.

Grandes desastres não acontecem por acaso. Uma tempestade feroz é a combinação de pressões atmosféricas, direção de ventos, temperaturas, tipos de nuvens. Minha Grande Catástrofe de 2001 aconteceu por uma rara combinação de burrice, incompetência e fatalidade. A burrice foi minha. Estava com dois HDs no micro, um deles desativado -- o disco D. Com poucas diferenças, as centenas de pastas e subpastas guardadas em Meus Documentos estavam duplicadas no HD desativado. Por via das dúvidas, alguns arquivos mais importantes eram triplicados num disco ZIP de 100 MB. Alguns arquivos tinham mais de 20 anos -- como o que registra cada um dos 420 vôos que realizei desde 1980.

Já contei minha frustrante experiência com o Windows XP. Tive de voltar para o Windows Me. Como o XP não se desinstala, tive de submeter meu pobre Pentium III a mais uma radical cirurgia. Amnésia. Apagão total. Dorme como XP, acorda como Me. Tem de aprender quase tudo de novo. Para realizar a cirurgia com segurança, transportei meu pobre "Frank" para a clínica do doutor R. Pedi a ele que passasse os arquivos incluídos nos Meus Documentos do disco D (o desativado) para o C. Fiquei tão relaxado que esqueci de tirar o disco ZIP. No dia seguinte, todo sorridente e pimpão, lá fui eu buscar o "Frank". Cheguei em casa, reinstalei os periféricos, religuei na internet, aquelas coisas. Chequei o Windows Explorer. A superpasta Meus Documentos estava vazia. A primeira coisa que fiz foi verificar o disco ZIP. Estava vazio. Zero. Tremendo nas bases, telefonei: "O que aconteceu, doutor?!" "Eu estava distraído e fiz uma pequena besteira", avisou. "Achei que estava transferindo os arquivos e acabei apagando." Tudo bem, doutor R, o senhor apagou os arquivos no disco C, mas eles ainda estão no disco D, não? Diga que eles estão lá, por favor... Mas o doutor R não está disposto a me dar nenhuma boa notícia. "Eu apaguei os dois discos. Foi uma distração. Apaguei até o disco ZIP." A pequena besteira do doutor R destruiu tudo o que produzi nas duas últimas décadas. Todos os meus artigos e colunas. Projetos de livros, novelas e shows. Roteiros para cinema. O catálogo de minha coleção de CDs, a lista dos filmes a que assisti, letras de música que compus, fragmentos de projetos para a tevê, scripts de duas campanhas políticas. Textos para serviços eróticos. O trabalho de tantas madrugadas.

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O erro foi do doutor R. A estupidez de não ter um backup da minha obra é privilégio meu. Cansado de chutar paredes para descontar meu ódio e frustração, fiquei sabendo que pelo menos uma empresa se especializou em recuperar dados apagados em discos rígidos. O serviço não era garantido. Nem barato. Por menos de 500 reais podia perder as minhas esperanças.

Um grande amigo meu, gênio da informática, garantiu que pode me fazer o mesmo: descobrir nos meandros de um disco formatado os arquivos aparentemente perdidos para sempre. E mais: disse que faz de graça. Será que vai dar certo? Para um leigo como eu, está acima da possibilidade de compreensão. Virou uma questão de fé.

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