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Novos concorrentes da Netflix aquecem a disputa por assinantes

Para executivos e professores da área, os serviços de streaming tendem a achar um nicho consumidor principal para coexistirem no futuro

 (Montagem/logos/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 11 de maio de 2019 às 05h55.

Última atualização em 11 de maio de 2019 às 05h56.

São Paulo - Até o início da última década, a produção cinematográfica em Hollywood parecia ter se dividido em duas áreas principais: os blockbusters, que garantiam o maior tempo em cartaz nas salas de cinema, e os filmes considerados mais conceituais, que saíam dos festivais para permanecer poucas semanas em cartaz. Nesse último caso, toda a campanha de divulgação dos filmes se destinava às premiações.

Os dois estilos de cinema permitiam atingir um público amplo porque, apesar de serem voltados para pessoas com gostos diferentes, podiam ser vistos tanto nas telas do cinema quanto em casa, quando o filme já estava disponível para aluguel.

O cenário começou a mudar quando a antiga empresa de locação de filme pelos correios, a Netflix, fundada nos Estados Unidos em 1997, decidiu mudar para o modelo de filmes digitais. A partir daí, ela expandiu seu negócio globalmente, ampliar seu catálogo de filmes e passou a produzir longa-metragens e séries próprias, como House of Cards, Black Mirror e a brasileira Coisa Mais Linda. Hoje a empresa é uma das maiores produtoras de séries televisivas e filmes do mundo, e suas produções podem ser assistidas no computador, nas smart TVs, em videogames, em celulares e em tablets.

As concorrentes começam a surgir

Mundialmente, hoje a Netflix tem mais de 158 milhões de assinantes, que assistem a conteúdos originais a hora que quiserem. Mas esse nicho consumidor não se restringe apenas à empresa. Serviços de streaming como HBO Go, Amazon Prime Video e GloboPlay também cresceram significativamente no Brasil, principalmente pela qualidade de suas produções originais: Game of Thrones, American Gods e Ilha de Ferro são, respectivamente, séries populares exclusivas desses canais de transmissão que atraem assinantes aos serviços.

"O que estamos vendo é uma reação das empresas tradicionais diante da disrupção provocada pelas empresas digitais", diz Luis Bonilauri, diretor-executivo de entretenimento da empresa global de consultoria Accenture. Mas enquanto a HBO criou uma plataforma online para distribuir suas séries e filmes -- que já tinham uma audiência gigante na televisão --, a Netflix atua como ao mesmo tempo como produtora, emissora e distribuidora, o que lhe dá uma vantagem maior diante das tradicionais.

Para Carlos Augusto Calil, professor de audiovisual da Universidade de São Paulo, a atuação da Netflix em todas as etapas do processo de criação audiovisual -- produção, emissão e distribuição -- remete a um modelo que era muito comum em Hollywood até os anos 1950 e que depois foi substituído por uma cadeia descentralizada. "O que vemos agora é um retorno a esse modelo de concentração, que tende a eliminar a autonomia do produtor", diz.

Bonilauri, da Accenture, no entanto, demonstra ter uma opinião um pouco diferente. Para o executivo, se a empresa possui o controle da cadeia por completo, ela passa a reunir informações detalhadas sobre os hábitos de consumo dos assinantes. Isso permite que a Netflix produza conteúdos mais direcionados a cada tipo de público, com base em seus gostos pessoais e utilizando o algoritmo de coleta e análise de dados.

O que isso significa para os consumidores?

O fato de que cada uma das empresas de streaming está buscando se diferenciar uma da outra não é novidade. A Netflix continua atraindo milhões de assinantes com suas séries originais e filmes, enquanto a HBO encontra-se focada em disponibilizar seu conteúdo de ficção e dramas. A última temporada de Game of Thrones, por exemplo, está trazendo cerca de 17 milhões de telespectadores por episódio só nos Estados Unidos. Já as demais plataformas como GloboPlay e Amazon Prime Video têm o catálogo dividido entre originais e não-originais, assim como a Netflix.

O domínio desse mercado pela Netflix deve ser abalado quando o serviço de streaming da Disney, o Disney+, estrear no fim de 2019 nos Estados Unidos. O serviço, que foi anunciado há dois anos, promete apelar para o lado nostálgico e emocional de seus consumidores. Ele vai trazer todos os títulos que a maior empresa de animação produziu desde 1937 -- começando com o clássico Branca de Neve e os Sete Anões. Além disso, ele terá tudo o que engloba os universos de Star Wars, Pixar, Marvel e os canais National Geographic e FOX, incluindo a série animada Os Simpsons.

"O que fará a diferença é a curadoria, isto é, a garantia de que encontraremos programação de qualidade no serviço escolhido", diz Roberto Moreira, professor de audiovisual da Universidade de São Paulo. Segundo o professor, o futuro promete ser variado. Ele aposta que existirão de três a quatro provedores globais principais que contarão, cada um, com 300 milhões de assinantes fiéis.

Já Bonilauri, da Accenture, acredita que, por mais que seja difícil prever como os consumidores vão se comportar daqui para frente, o hábito de cancelar e renovar diversas vezes as assinaturas dos serviços deve se tornar mais comum daqui para frente. "A gente vai poder optar cada vez mais. Acredito que esses serviços, ao longo do tempo, vão ter uma segmentação mais clara", diz.

Em vez de serviços que reúnem todos os tipos de gêneros e produções é possível que surjam mais sites de streaming focados em um único público. Isso deve fazer com que as empresas possam construir a sua própria identidade e não serem engolidas pelo crescente poder da Netflix ou da Disney, que, com o sucesso de Vingadores: Ultimato, acaba de emplacar o seu sexto longa-metragem no ranking das 10 produções com a maior bilheteria da história.

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