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Não há nada virtual no gasto de energia elétrica do bitcoin

Todos os computadores tentando minerar as moedas estão em uma corrida para achar uma resposta específica para um algoritmo matemático

MINERAÇÃO DE BITCOIN NA ISLÂNDIA: criar uma única moeda exige o consumo de energia de dois anos de uma família americana (Richard Perry/The New York Times)
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EXAME Hoje

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 16h51.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2018 às 16h51.

São Francisco – Para criar um bitcoin é preciso energia elétrica. E muita.

No mundo das moedas virtuais, o processo de criar uma moeda se chama mineração. Não há uma escavação física, já que os bitcoins são estritamente virtuais. Mas a energia gasta pelo computador para criar cada moeda digital é pelo menos a média de consumo de um lar americano em dois anos, de acordo com nomes como Morgan Stanley e Alex de Vries, economista que analisa o uso de energia na indústria.

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Os computadores conectados à rede de bitcoins consomem diariamente a mesma energia que alguns países de tamanho médio – quais são esses países depende de qual estimativa é levada em conta. E a rede que sustenta a Ethereum, a segunda moeda virtual mais valiosa, devora a quantidade de energia de mais um país a cada dia.

O consumo de energia desses sistemas foi aumentando conforme os preços das moedas virtuais disparavam, levando a um vigoroso debate entre entusiastas do Bitcoin e do Ethereum sobre o gasto de tanta eletricidade.

O criador da Ethereum, Vitalik Buterin, lidera o teste de uma forma mais eficiente de criar moedas, em parte por sua preocupação sobre o efeito que o uso de eletricidade da rede possa ter sobre o aquecimento global.

“Ficaria pessoalmente muito desapontado se minha principal contribuição para o mundo fosse adicionar a quantidade de energia gasta pelo Chipre ao aquecimento global”, disse Buterin.

Muitos aficionados pelas moedas virtuais argumentam que o consumo de energia vale a pena pelo bem maior de garantir a segurança das redes de Bitcoin e Ethereum e para construir um novo tipo de estrutura financeira, livre da interferência de bancos e governos.

“O uso da eletricidade é realmente essencial. Por causa dos custos, sabemos que as pessoas que participam são sérias, estão investindo economicamente. Isso cria um incentivo à cooperação”, disse Peter Van Valkenburgh, diretor de pesquisa do Coin Center, grupo de defesa das tecnologias de moeda virtuais.

O debate tem suas raízes nos complexos sistemas que produzem moedas como o bitcoin, a ether, da Ethereum, e muitas outras moedas virtuais.

Todos os computadores tentando minerar as moedas estão em uma corrida computacional para achar uma resposta específica, mas um tanto aleatória, para um algoritmo matemático. O algoritmo é tão complicado que só possível encontrar respostas chutando vários palpites. Quanto mais tentativas, mais chances tem o computador. Mas, cada vez que o computador faz uma tentativa, usa capacidade de processamento e eletricidade.

A busca por novos bitcoins encoraja as pessoas a usar muitos computadores rápidos e muita eletricidade para encontrar a resposta correta e desbloquear novos bitcoins, que são distribuídos a cada dez minutos mais ou menos.

A corrida da mineração foi planejada para ser difícil, assim ninguém consegue dominar o cálculo e falsificar os registros. No artigo de 2008 que primeiro descreveu o bitcoin, Satoshi Nakamoto, o misterioso fundador da moeda, escreveu que o sistema foi projetado para frustrar um ataque ganancioso que quisesse alterar os registros e roubar a remuneração de investidores. Por conta das regras de mineração e contabilidade, o responsável pelo ataque “acharia mais lucrativo jogar de acordo com as regras”.

Essas regras mantiveram os criminosos à distância desde a criação da rede há nove anos. A maioria dos cientistas da computação concorda que, sem esse processo, o bitcoin não funcionaria.

Mas há discordância sobre o valor real do bitcoin e da rede que o sustenta.

Para quem considera o bitcoin nada mais que uma bolha especulativa – ou uma bolha especulativa que possibilitou a venda de drogas on-line e pagamentos de resgate –, qualquer nova contribuição ao aquecimento global não vale a pena.

Já os fãs do bitcoin dizem que a moeda possibilitou a criação da primeira rede financeira sem governo ou empresa no comando. Em países como o Zimbábue e a Argentina, o bitcoin chegou a ser um investimento mais estável do que manter o dinheiro na moeda local. E em países com economias mais estáveis, o bitcoin levou a uma enxurrada de novos investimentos, empregos e startups.

“Rotular a mineração de bitcoins como ‘desperdício’ é incapacidade de ter uma visão geral”, escreveu o minerador e analista Marc Bevand em seu blog, acrescentando que, a geração de empregos é um impacto direto, mensurável e positivo que o bitcoin já provocou na economia.

Mas até alguns que se interessam por toda essa inovação se preocupam com o enorme gasto energético.

De Vries, que acompanha o uso de energia no site Digiconomist, estimou que atualmente cada transação de bitcoin gasta 80 mil vezes mais eletricidade para ser processada que uma transação com o cartão de crédito Visa, por exemplo.

Muitos agentes da indústria começaram a se preocupar com o uso de eletricidade. As moedas virtuais Ripple e Stellar, criadas depois do bitcoin, foram projetadas para ter uma mineração mais econômica.

Talvez a maior mudança possa vir de um novo processo de mineração proposto pela Buterin para a Ethereum, o mesmo que algumas moedas menores já estão usando. Conhecido como “proof of stake”, ele distribui novas moedas para aqueles que conseguem provar que já são donos de moedas já mineradas – o “steak” (a fração) que possuem no sistema.

O método atual, tão dependente da capacidade de processamento, é chamado “proof of work”. Por esse método, as contas e as pessoas que recebem novas moedas não precisam ter moedas preexistentes. Só precisam de muitos computadores para participar da corrida virtual.

A questão da energia não é o único fator encorajando o movimento. Buterin também acredita que o novo método, que provavelmente será lançado no ano que vem, permitirá que uma rede menos centralizada de computadores supervisione o sistema.

Mas ainda não está claro se o método será tão seguro quanto o usado pelo Bitcoin. Buterin tem sido fortemente atacado por defensores do bitcoin, que dizem que sua proposta irá diminuir as propriedades que fazem da moeda virtual algo valioso.

Van Valkenburgh disse que, por enquanto, utilizar muita capacidade de processamento – e a energia que isso gasta – é a única solução encontrada pelo bitcoin para resolver os problemas.

“No momento, se você quer uma segurança robusta, precisa de ‘proof of work”, disse ele.

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