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Múmias auxiliam medicina na luta contra a tuberculose

Múmias húngaras de mais de 200 anos que sofreram de tuberculose são usadas em pesquisa contra a doença


	Múmias húngaras de mais de 200 anos que sofreram de tuberculose são usadas em pesquisa contra a doença
 (Bela Szandelszky/ AP)

Múmias húngaras de mais de 200 anos que sofreram de tuberculose são usadas em pesquisa contra a doença (Bela Szandelszky/ AP)

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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2015 às 07h42.

Budapeste - Mais de dois séculos após sua morte, os corpos mumificados de centenas de pessoas que sofreram de tuberculose ajudam a entender melhor a natureza desta doença e abriram as portas para novas vias de pesquisa.

As múmias foram achadas em 1994 na cidade húngara de Vác, em uma igreja da ordem dos Dominicanos, onde eram enterrados os moradores mais poderosos, relatou à Agência Efe a antropóloga Ildiko Szikossy, do Museu de Ciências Naturais de Budapeste.

São os corpos mumificados de 265 pessoas, das quais 90% sofreram de tuberculose e um terço morreu por conta da doença.

A origem dos corpos, que datam dos séculos XVIII e XIX, está bem documentada e são conhecidos os nomes e as histórias de muitos deles.

Entre essas histórias está a da família Hausmann. A irmã mais velha, Terézia, morta em 1797, cuidava de sua mãe e de sua irmã mais nova.

As três morreram de tuberculose mas, como apontou Szikossy, causada por três cepas diferentes da doença.

"Isto é importante, já que foi demonstrado que naquela época coexistiam diferentes cepas", o que é uma das descobertas mais valiosas das pesquisas nas quais colaboram a Universidade de Medicina de Warwick, o University Collage de Londres e o Museu de Budapeste, afirmou Szikos.

Ao desenhar a "árvore da evolução" do DNA da tuberculose, uma doença que convive com a humanidade há milhares de anos, foi demonstrado que um dos tipos teve sua origem no Império Romano.

O excelente estado de conservação dos corpos permitiu realizar análises muito exatas sobre como morreram e analisar os vestígios deixados pela doença.

Szikossy contou que os nomes dos mortos, e inclusive detalhes como a causa da morte, foram escritos nos caixões e que esta informação, junto aos arquivos eclesiásticos, forneceram aos pesquisadores uma importante base de dados.

Os corpos foram enterrados na cripta entre os anos 1730 e 1838, aproximadamente.

Na década de 1780 o rei José II proibiu os enterros nas criptas, onde os caixões eram colocados uns sobre outros, sem separação, o que aumentava o risco de infecções.

Os moradores de Vác não atenderam à proibição e continuaram com os enterros na cripta, até que em 1838 o lugar foi emparedado e caiu no esquecimento.

Foi uma sorte para os cientistas, já que as condições da cripta, com uma temperatura constante de entre 8 e 11 graus, uma umidade relativa de 90% e uma leve corrente de ar, foram perfeitas para que os corpos se mumificassem de forma natural.

Szikossy disse que inclusive os órgãos internos ficaram bem conservados, o que permite a análise de DNA das bactérias da tuberculose presentes nos corpos.

"Assim foram possíveis novas rotas de pesquisa médica", que poderiam ser utilizadas pela medicina moderna, declarou Szikossy.

As informações obtidas têm mais importância ainda se for levado em conta que as bactérias analisadas são de tempos anteriores ao uso dos antibióticos, ou seja, que ainda não tinham sofrido as mutações que geraram esses remédios na doença, o que torna possível compará-la com as cepas atuais.

Hoje em dia a tuberculose, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, é a segunda causa de mortalidade provocada por um agente infeccioso, depois da Aids, e em 2013 nove milhões de pessoas padeceram deste mal e 1,5 milhão morreram. 

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