Florian Hagenbuch (esquerda) e Mate Pencz, fundaram a Loft em 2018 e agora a empresa já vale 2,2 bilhões de dólares (Germano Lüders/Exame)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 23 de março de 2021 às 07h30.
Última atualização em 23 de março de 2021 às 09h01.
A Loft acaba de receber um aporte de 425 milhões de dólares. Conforme antecipado pela EXAME, a startup paulistana do setor imobiliário concretizou uma rodada de captação de série D e agora passa a ter valor de mercado de 2,2 bilhões de dólares. Esta é a maior injeção de capital já recebida por uma startup brasileira, superando os 400 milhões de dólares recebidos pelo Nubank em janeiro. O investimento faz a Loft se tornar a décima startup mais valiosa do setor imobiliário residencial no mundo, e a primeira fora dos Estados Unidos e da China.
A rodada é liderada pelo fundo D1 Capital Partners, do bilionário Dan Sundheim, que já investiu em empresas como a SpaceX, de Elon Musk, e Instacart, um aplicativo americano de entrega de compras de supermercado avaliado em 39 bilhões de dólares. A rodada conta ainda com investidores estrangeiros de peso, como os fundos de private equity Tiger Global, Advent, DST Global, Altimeter e Silver Lake e que já investiram em negócios que vão desde as operações brasileiras de Nubank, Locaweb e a Stone até gigantes globais como Facebook e Alibaba. O GIC, fundo soberano de Singapura, e o CPP, fundo de pensão do Canadá, também estão envolvidos na nova rodada de captação, além de outros investidores, como Tarsadia Capital e Emerging Variant.
“A gente já tem um relacionamento de longa data com vários investidores, mas os que estão sentando na mesa agora enxergaram o nosso modelo como vencedor”, diz Mate Pencz, empreendedor que fundou a Loft ao lado de Florian Hagenbuch ainda em 2018. Antes da aventura com o setor imobiliário, a dupla já havia fundado e vendido a Printi, startup que presta serviços de gráfica online.
O valor recebido pela Loft é expressivo, principalmente quando convertido para a moeda brasileira – acima de 2,3 bilhões de reais. Além de ser a maior injeção de capital já recebida por uma startup brasileira, o valor também é superior ao que muitas empresas captaram com ofertas públicas iniciais de ações (IPOs). Para efeito de comparação, a Locaweb, por exemplo, levantou pouco mais de 1,2 bilhão de reais com sua oferta pública inicial.
Entretanto, os aportes na Loft não devem parar por aí. Segundo fontes do mercado ouvidas pela EXAME, a rodada continua aberta e um investimento complementar de 100 milhões de dólares pode ser realizado nas próximas semanas, elevando o valor de mercado da startup para 3 bilhões de dólares ou mais.
O que atrai os investidores é a possibilidade de participar de um mercado trilionário, de compra e venda de imóveis, que ainda é carente de tecnologia . A solução desenvolvida pela Loft busca agilizar as transações e facilitar a busca por apartamentos, de forma mais assertiva.
A rodada de investimentos também conta com os atuais investidores da Loft, como os fundos Andreessen Horowitz e Vulcan Capital, que já aportaram 175 milhões de dólares na operação da startup no ano passado, além dos fundos Caffeinated Capital, Fifth Wall Ventures, Monashees, QED Investors, e Zigg Capital. Quando recebeu o investimento em janeiro de 2020, a Loft atingiu o valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares – alçando-a à categoria de unicórnio. Ao todo, contando este aporte mais recente, a Loft já recebeu 700 milhões de dólares em investimentos.
O dinheiro recebido pela Loft já tem ao menos dois destinos definidos. Parte será utilizada para fortalecer a infraestrutura da plataforma transacional, principalmente em análise de dados. Também serão realizados investimentos para fortalecer a experiência do consumidor. “O cliente passou a exigir um padrão de excelência maior e quem quiser ser líder de mercado vai precisar ter uma experiência digital transparente e eficiente”, diz Pencz.
Atuando com a compra, reforma e venda de imóveis pela internet, a startup cresce rapidamente no Brasil, mesmo que ainda opere somente em duas cidades: São Paulo e Rio de Janeiro. A prova é que a empresa atingiu valor de mercado de mais de 10 bilhões de reais com menos de três anos de operação. “Existe uma robustez no mercado imobiliário brasileiro como um todo, um voto de confiança no Brasil”, afirma o empresário.
A companhia ganha dinheiro revendendo imóveis pela internet. São duas formas de negócio. Uma consiste em comprar, reformar e vender os apartamentos por conta própria. A outra é baseada no modelo de marketplace, em que a Loft faz o meio de campo para que terceiros vendam imóveis usando plataforma – e lucra com as transações.
Ainda deficitária, a Loft vem tentando aumentar suas formas de obter receita. Em julho do ano passado, a companhia deu seu primeiro passo em direção ao mercado de aluguéis com a compra da Uotel, que mais tarde viria se chamar Nomah. A startup realizou um investimento de 50 milhões de reais na plataforma especializada na locação de curta e média duração.
Meses depois, mais uma aquisição. Agora com a compra da Invest Mais, fintech especializada em crédito imobiliário e que faz mais de 1.000 financiamentos de imóveis por ano. De valor não revelado, esta foi a quarta negociação concretizada pela Loft no intervalo de um ano – a empresa já havia comprado, além da Uotel, as startups Spry, que faz análise de dados, e Decorati, de decoração de ambientes.