Mandic agora quer criar WhatsApp brasileiro
Aleksandar Mandic, um dos pioneiros da internet no Brasil, quer ser o WhatsApp brasileiro e ganhar 1 bilhão de reais com seu app, veja entrevista completa
Victor Caputo
Publicado em 19 de junho de 2014 às 09h21.
São Paulo - Aleksandar Mandic é um dos pioneiros da internet no Brasil. Em 1990, Mandic deixou a Siemens para abrir um negócio, a Mandic BBS. BBS era um software que permitia que um computador se conectasse usando uma linha telefônica, uma espécie de internet rudimentar.
Depois da BBS, Mandic se juntou a outras pessoas importantes, como o publicitário Nizan Guanaes, e fundou com elas o portal iG. A seguir, criou uma empresa chamada Mandic, para e-mails corporativos. Agora, depois de vender a Mandic para um fundo americano, fez um aplicativo como hobbie. Ele é taxativo quanto diz: "De internet eu entendo". O objetivo com o Mandic Magic (o novo app) é ser o WhatsApp brasileiro. "Quero chegar a um bilhão de reais", diz ele.
Confira abaixo os melhores momentos da conversa de EXAME.com com Aleksandar Mandic.
EXAME.com – O senhor foi um dos pioneiros da internet aqui no Brasil. Hoje ainda está trabalhando com isso e criou um app, o Mandic Magic. O senhor não cansa dessa coisa de internet?
Aleksandar Mandic - De internet eu entendo, então fica mais fácil [risos]. As coisas acontecem por acaso na minha vida. Essa é a terceira vez que tento me aposentar. Eu vendi a primeira Mandic e fundei o iG. Depois que deixei o iG, comecei a segunda Mandic, que vendi para o fundo Riverwood Capital. O Mandic Magic começou como uma brincadeira. Agora, meu sonho é chegar em um bilhão de reais! Isso é possível, é só ver WhatsApp ou o Uber.
EXAME.com – Para esclarecer, o senhor vendeu a Mandic para um fundo americano no ano passado. Qual a sua relação com a empresa hoje?
Aleksandar Mandic - Eu entrei como sócio do fundo, a Riverwood Capital. Com a porcentagem, não teria direito a uma cadeira no conselho, mas com a negociação eles permitiram que eu tenha esse direito.
EXAME.com - Hoje a sua principal atividade é com o Mandic Magic?
Aleksandar Mandic - Sim. Tudo isso aconteceu sem querer. Comecei o app como hobbie e ele virou um monstro. Agora brinco que ele é meu trabalho de meio período: 12 horas.
EXAME.com – E como surgiu a ideia para o Mandic Magic?
Aleksandar Mandic - Eu comecei a anotar as senhas de redes públicas, já que viajo muito. Queria fazer um programinha, mas não achei ninguém para programar para mim. Um dia, um amigo meu, o Eduardo Mauro, disse que programaria. Ele fez um programinha e no primeiro dia foram dois downloads, um dele e um meu. Depois de alguns dias, durante a manhã, o Eduardo disse que o app havia sido baixado 40 vezes. No final do dia eram mil downloads. Fomos a um hotel beber champanhe para comemorar. Quando acabamos o Eduardo checou e o dia ia fechar com três mil downloads.
EXAME.com – E como foi depois disso?
Aleksandar Mandic - Tivemos algumas boas surpresas. A Apple entrou em contato conosco, para que nós vendessemos mídia. A Microsoft também nos procurou para ter uma versão do Mandic Magic. Agora, o nosso sonho é chegar a 100 milhões de usuários. Queremos ser um WhatsApp brasileiro.
EXAME.com – E esse crescimento repentino, vocês sabem de onde saiu? Teve algum anúncio?
Aleksandar Mandic - Não! Foi no boca a boca. O app provavelmente caiu em algum lugar na internet e a coisa disparou. Nunca fizemos propaganda, nem nada. Não temos dinheiro para investir nisso. O app foi traduzido para oito idiomas, mas sempre com a ajuda de usuários.
EXAME.com – E o app faz mais sucesso em qual plataforma hoje?
Aleksandar Mandic - Ele nasceu como um aplicativo de iPhone . Eu e o Eduardo somos usuários de iPhone e esse app era para nós. Somente depois lançamos uma versão para Android . Hoje, os usuários de Android representam 80% da nossa base. Ou seja, somos usuários de iPhone, mas priorizamos o Android.
EXAME.com – O senhor concorreu a um cargo de deputado federal e dizia que levaria Wi-Fi público às pessoas. Agora seu app ajuda nesse sentido. O senhor acredita que a internet deveria ser completamente livre?
Aleksandar Mandic - Eu acredito que se uma população está conectada, ela está mais informada. Esse era o mote da minha campanha. Mas não acredito que o acesso à internet tem que ser completamente livre. O processo tem um custo. Com o app eu estou facilitando o acesso grátis para quem está dando de graça—os restaurantes e cafés, por exemplo. Nos EUA, qualquer lugar tem internet grátis. Aqui é mais fechado e mais caro.
EXAME.com – E qual a opinião do senhor sobre o Marco Civil da Internet?
Aleksandar Mandic - O Marco Civil da Internet é uma coisa inédita no mundo. Aqui no Brasil as coisas são um pouco mais complicadas do que nos EUA, que podemos usar como referência para internet. A constituição de lá é fininha, aqui é uma enciclopédia. Devido a isso, acho que o Marco Civil era algo necessário para nós. Mas eu espero que não compliquem muito o Marco Civil. Acho que não tem como complicar muito já que a internet é algo internacional. Fomos pioneiros em algumas discussões. A neutralidade está sendo discutida nos EUA agora.
EXAME.com – Quais são as suas perspectivas para a internet no Brasil? Até onde podemos crescer?
Aleksandar Mandic - Tem um mundo para a internet no Brasil. Tudo está migrando para isso. E conforme as coisas vão sendo mais viáveis aqui no Brasil, a tendência é que tudo vá para a internet e que esse setor cresça mais. Nós temos uma vantagem por aqui, estamos sempre quatro anos atrás em relação aos Estados Unidos . Pode parecer ruim, mas no final das contas, tudo que vem para o Brasil deu certo por lá. Temos menos testes aqui. Com isso, economizamos bastante.
EXAME.com – Se fala bastante da internet das coisas. O senhor acha que esse é o próximo passo para a internet?
Aleksandar Mandic - Eu acredito que é natural que a sua geladeira tenha um IP em algum momento. E acho que a conexão virá para as coisas pela tomada, o que é possível. Para dentro de casa, essa tecnologia funciona muito bem.
EXAME.com – O Brasil não figura entre os grandes desenvolvedores de apps. O que falta para isso decolar por aqui?
Aleksandar Mandic - Se olharmos para o Mandic Magic, ele tem características para países em desenvolvimento, onde o 3G é caro e a conexão ruim. Isso não é o caso de dos EUA. Ele cai como uma luva para o Brasil, mas não deve fazer muito sucesso nos EUA. Também nos falta um pouco de apoio. Quando se fala de empreender aqui, não é fácil. Outro dia li a coluna do Maílson da Nobrega na Veja, ele escreveu que se o pacote de impostos de microempresa que temos no Brasil fosse igual nos EUA, a Apple e a Microsoft continuariam sendo pequenas empresas.