Fim da Buser e 4Bus? PL que limita funcionamento dos apps é aprovada
O projeto foi orientado pelas empresas tradicionais de ônibus, que pediam por restrição aos novos concorrentes
André Lopes
Publicado em 18 de dezembro de 2021 às 09h46.
Última atualização em 18 de dezembro de 2021 às 09h52.
O Senado concluiu na sexta, 17, a votação de um projeto que deve restringir a entrada de novas empresas de transporte de ônibus e limitar o funcionamento de apps como Buser e 4Bus. O texto irá para sanção presidencial.
O projeto foi encampado pelas empresas tradicionais de ônibus, que tem concessões para transportar passageiros em trajetos interestaduais e intermunicipais, diante da concorrência de empresas como Buser e 4Bus, que conseguem oferecer passagens a preços mais baratos ao reunir passageiros por plataformas online e fretar um ônibus para fazer o transporte (sem a necessidade de manter itinerários diários, mesmo com os ônibus sem lotação).
Relatado pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO), o projeto original era bastante restritivo e prometia fechar o segmento à competição e suspender milhares de novas linhas de transporte rodoviário de passageiros criadas desde 2019.
Ao chegar à Câmara, a proposta foi desidratada com apoio do governo, que rejeitava o texto original. A versão aprovada pelo Senado ontem ainda assim traz empecilhos para novas companhias.
O texto manteve um artigo polêmico que prevê limite para o número de autorizações concedidas no setor em casos de "inviabilidade operacional e econômica". Para especialistas, ambos os conceitos são imprecisos e de difícil cálculo.
Parentes de Gurgacz são donos de duas empresas de ônibus consolidadas há anos no mercado, a Eucatur e a Solimões. No Senado, o projeto original contou com o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também parente de sócios de companhias do setor. Pacheco já afirmou não tinha "interesse pessoal algum" com a proposta, "só o de cumprir a Constituição". Gurgacz também já disse que sua preocupação era com o usuário.
Trâmite
A primeira versão da proposta foi aprovada pelo Senado no fim de 2020, seguindo para a Câmara onde enfrentou resistência. Técnicos do governo e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e empresas de tecnologia do segmento também rejeitavam a proposta.
Um dos trechos mais polêmicos era o que vetava aplicativos de fretamento, conhecidos como "uber de ônibus". Votada nesta semana pelos deputados, a proposta original foi desidratada pelo parecer de Hugo Motta (Republicanos-PB), que negociou o texto com o Ministério da Infraestrutura.
Motta retirou, por exemplo, a previsão de que as multas aplicadas às companhias seriam de, no máximo, R$ 3 mil. A lei atual prevê autuações de até R$ 10 milhões.
No entanto, a sanção da nova lei obrigará a ANTT a rever pontos do novo marco regulatório do transporte rodoviário, proposto em novembro com base na legislação atual. As normas da agência já iriam passar por uma revisão após a diretoria do órgão enviar o processo para área técnica.