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Facebook vira ferramenta para troca de mantimentos na Venezuela

Milhares de pessoas se comunicam por grupos na rede social para conseguir, por compra ou troca, alimentos e remédios que escasseiam no país em crise

Facebook: artigos como telefones celulares, sapatos, fraldas e relógios também são submetidos a escambos (Chris Jackson/Getty Images)

Facebook: artigos como telefones celulares, sapatos, fraldas e relógios também são submetidos a escambos (Chris Jackson/Getty Images)

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EFE

Publicado em 21 de março de 2017 às 14h50.

Caracas - Keila, um dona de casa venezuelana que vive em Trujillo, resolveu a escassez de farinha de milho pré-cozido em sua casa por meio de uma troca feita pela internet na qual ofereceu um creme dental, um artigo cujo preço é inferior ao da farinha, mas ainda mais raro no país.

Como Keila, milhares de pessoas filiaram-se a grupos criados no Facebook para conseguir, por compra ou troca, os alimentos e os remédios que escasseiam na Venezuela no meio de uma severa crise econômica.

Estes grupos estão segmentados por entidade política e até por cidade a fim de facilitar e acelerar os encontros entre os que participam das trocas - operações que não se regem pela relação entre o valor de venda de um artigo ou outro, mas pela necessidade do que oferece ou necessita.

Assim, Keila pôde trocar uma das quatro pastas de dente que comprou nesta semana a um preço de 22 bolívares cada uma, equivalentes a US$ 0,03, por dois pacotes de farinha, cujo valor total é 36 vezes mais caro que o de sua parte na troca.

A escassez e intermitência de remédios e alimentos, muitos deles sob o controle de preços do governo de Nicolás Maduro, fazem com que os venezuelanos passem horas em filas nos arredores de farmácias e supermercados para caçar produtos a baixos preços e que, embora não os necessitem, possam servir para trocas.

A Agência Efe pôde comprovar que existem dezenas de grupos no Facebook destinados à troca de comida, produtos de asseio e higiene pessoal e remédios, e que, quanto maiores são as regiões do país onde estes grupos têm cobertura, maior é o número de pessoas inscritas.

Por exemplo, uma destas comunidades, que se intitula "Compras, Vendas e Trcas (Caracas exclusivo)", conta com quase 150.000 membros e representa uma plataforma apenas para os que queiram comprar, vender ou trocar artigos na capital do país.

Nesta página são postados quase 100 anúncios diariamente, e pelo menos um terço deles pertence a usuários que ofertam algum produto de preço regulado e geralmente raro no país em troca de outro com as mesmas características.

Por sua vez, Keila realiza suas transações através do grupo "Compra-Venda-Trocas-Valera-Trujillo", que tem 12.000 assinantes, um número de certa forma proporcional à população desta cidade que representa menos de um terço dos quase dois milhões e meio de pessoas que vivem em Caracas.

Outras comunidades digitais como "Trocas Sem Restrição Maracaibo", com 50.000 assinantes, ou "Mudanças e Trocas Bolívar", com 11.000 membros, registram diariamente ofertas que seduzem rapidamente os cidadãos que andam em busca de comida e remédios.

Artigos como telefones celulares, sapatos, fraldas e relógios também são submetidos a escambos nestes grupos e seus anúncios concorrem com a cada vez mais popularizada troca de alimentos e com a já tradicional oferta de bens raros a um preço muito superior ao estabelecido pelo governo.

No caso dos remédios, estes são trocados por outros medicamentos, por comida ou por quase qualquer coisa que necessite quem os oferece, como Johana Bracho, uma usuária do Facebook que em um grupo de troca exibiu vários fármacos em uma fotografia com uma mensagem: "Troco por fraldas, leite, ou creme dental".

Neste mercado digital, onde a necessidade é decisória e o dinheiro não tem lugar, convergem também os que publicam anúncios em busca de algum produto raro sem oferecer nada em troca ou quem oferte alimentos e remédios que já foram parcialmente consumidos. E, embora pareça inverossímil, surgem interessados.

Enquanto as estimativas mais conservadoras localizam o índice de escassez no país em cerca de 30%, associações de produtores, economistas e partidos políticos opositores ao governo asseguram que oscila entre 50% e 80%.

O presidente Maduro, por sua parte, insiste em denunciar uma guerra econômica, uma tese do chavismo que culpa opositores e empresários pela crise, o desabastecimento generalizado e até pela queda dos preços do petróleo, a principal fonte de financiamento do país.

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