Tecnologia

Especialista brasileiro prevê morte do Orkut

Para Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, rede do Google cairá por falta de inovação e modelo de negócio

Faltam modelo de negócio e inovação no Orkut, diz Silvio Meira  (Reprodução)

Faltam modelo de negócio e inovação no Orkut, diz Silvio Meira (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2011 às 17h06.

São Paulo -- Sete em cada dez brasileiros conectados à internet acessaram o Orkut em abril, segundo dados da empresa de métricas ComScore. São mais de 50 milhões de pessoas, que visitam perfis e compartilham confidências, fotos e vídeos – também bisbilhotam a vida alheia, é claro. A situação deveria deixar o Orkut em posição confortável. Essa não é, contudo, a opinião de Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e um dos responsáveis pela criação do Porto Digital, polo tecnológico da capital pernambucana.

Além do rápido avanço do Facebook no Brasil, Meira prediz a morte do Orkut a partir da observação das próprias falhas do site mantido pelo Google. "Ele está morto do ponto de vista da inovação e do negócio", diz. Por isso, na visão do especialista, a rede pode seguir os mesmos passos funestos do MySpace, que fez sucesso em meados da década passada, mas perdeu o caminho da inovação e, consequentemente, o contato com seus usuários. Acabou atropelado pelo Facebook, um campeão em inovação, que, segundo Meira, está se tornando uma espécie de internet dentro da internet: "A ideia da rede de Zuckerberg é permitir que o usuário faça todas as suas atividades na web a partir do Facebook, o que já é possível". Leia a seguir a entrevista com o especialista.

O Orkut conseguirá frear o crescimento do Facebook no Brasil?

Meira – O Orkut ainda ganha novos adeptos no país, mas, nos últimos meses, seu crescimento tem sido vezes inferior ao registrado pelo Facebook. Há explicação para isso. Hoje, há uma ascensão social de pessoas que até bem pouco tempo não tinham acesso a computador, redes sociais e jornais. Para esse grupo, o Orkut é uma porta de entrada para a internet. Contudo, ele está morto do ponto de vista da inovação e do negócio. Ele nunca recebeu atenção estratégica do Google e sequer conta com um plano de negócio, que preveja como vai evoluir. O cenário permite antever a hegemonia do Facebook no Brasil.

O Orkut pode ter o mesmo destino do MySpace?

Meira – A dinâmica de redes sociais é muito delicada. Após adquirir o MySpace, a News Corp. tentou transformar o site em um canal do grupo de mídia. Seus gestores imaginaram que, mantendo interface e recursos imutáveis, manteriam a audiência. Estavam errados. A situação do Orkut é parecida. Falta à rede do Google uma proposta coerente para chegar a algum lugar. Ele sempre foi um site secundário para o Google.


É possível dizer, então, que Facebook e Google têm diferentes propostas?

Meira – O Facebook possui um conjunto de estratégias bem articuladas para conectar pessoas e marcas. Eles pensam 24 horas por dias nisso. O Google tem outras atenções. Ele já não é mais uma empresa jovem (o gigante de buscas completa 13 anos em 2011) e quer proteger o seu legado: organizar a informação. Mais: nos últimos meses, a empresa de Mark Zuckerberg começou a mostrar interesse no terreno de organização, ao fechar uma parceria com o Bing, buscador da Microsoft - e sócio minoritário da rede social. Na prática, ao fazer pesquisas no Bing, o usuário cadastrado no Facebook visualiza links compartilhados por seus amigos.

Mas o maior rival do Facebook não é o Google?

Meira – Por ora, não. No Ocidente, o Facebook monopoliza as redes sociais. Não há nenhuma plataforma com mais de 700 milhões de usuários cadastrados. O Google pode até querer frear o avanço da empresa de Mark Zuckerberg, mas seu espaço de competição é com Apple e Microsoft. Recentemente, dois dos projetos mais ambiciosos da empresa envolviam navegadores, sistemas operacionais em notebooks e dispositivos móveis.

O usuário do Facebook pode encontrar quase tudo ali: amigos, empresas, serviços. Não parece que a rede busca ser uma espécie de internet dentro da internet?

Meira – Sim. A América On-line e a própria Microsoft (com a rede Networks, hoje transformada em MSN) usaram este artifício no passado, mas fracassaram. A ideia da rede de Zuckerberg é permitir que o usuário faça todas as suas atividades na web a partir do Facebook, o que já é possível: consigo comprar passagens aéreas, roupas, acessar notícias, conversar com meus amigos, me divertir com jogos, acompanhar vídeos diretamente - tudo a partir de um único site. E o melhor: todo o conteúdo consumido é compartilhado com meus amigos. Hoje, acredito que o site seja uma máquina universal de criação e compartilhamento de conhecimento e informações entre pessoas e empresas.

O que podemos esperar para o futuro em matéria de redes sociais?

Meira – Não podemos virar refém de plataformas. Particularmente, sobre o domínio do Facebook, tenho até uma sugestão: se eu fosse Mark Zuckerberg, promoveria a competição no setor, auxiliando a criação e o crescimento de uma nova. A Microsoft fez isso de forma inteligente com a Apple no passado. Isso evitaria o monopólio.

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