Tecnologia

Era (uma vez) digital

Eles são jovens, estão conectados, passam horas nas redes sociais e têm milhares de seguidores interessados em... literatura.

bruno

bruno

DR

Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2014 às 17h42.

Eles são jovens, estão conectados, passam horas nas redes sociais e têm milhares de seguidores interessados em... literatura. Em plataformas como YouTube e Facebook, um grupo cada vez maior desafia os estereótipos da geração Y e usa a web para escrever, compartilhar e aprender sobre os bons e velhos livros.

Bruno Miranda_O BookTuber O estudante de jornalismo Bruno Miranda tem mais de 70 000 inscritos e 3 milhões de visualizações em seu canal do YouTube, o Minha Estante. Aos 17 anos, Bruno é um ativo booktuber, internauta que usa a plataforma de vídeos para falar sobre livros. “Me apaixonei por literatura há quatro anos, quando li Marley & Eu”, afirma Bruno. “Fui buscar na internet outras pessoas com o mesmo gosto e não encontrei.” Daí veio a ideia de criar um blog que, mais tarde, se tornaria o canal de vídeos. Para atualizar o Minha Estante semanalmente, Bruno lê até seis livros por mês. Os vídeos variam entre resenhas, dicas de novos autores e curiosidades, sempre com linguagem simples e bem-humorada. “Quem os assiste tem gosto similar ao meu, e já recebi indicações de ótimos livros”, diz Bruno, morador de Santa Catarina. “As pessoas buscam cada vez mais conteúdo ligado a literatura, e assim a internet vem formando novos leitores.”

Superficiais e apressados. Consumidores de informação na forma de listas. Amantes de conteúdo digital nativo. Esse é o retrato mais comum da geração Y, que nasceu conectada e cresceu em uma sociedade que, segundo dados do Ibope, passa hoje mais de 3 horas e meia por dia nas redes sociais. Desafiando o estereótipo, um grande número de jovens e adolescentes tem usado ferramentas digitais para escrever, comentar e compartilhar conteúdo ligado a uma das mais antigas formas de mídia: o livro. “As redes sociais se tornaram uma ótima plataforma para debates literários e para aproximar leitores e autores”, diz Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Pesquisas sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo.

Malini e sua equipe analisaram a relação entre internet e leitores na pesquisa Facebook: A Economia dos Likes e dos RTs dos Usuários de Literatura Brasileira nas Redes Sociais. Ao medir curtidas, interações e postagens, o estudo concluiu que “a rede se tornou um manancial de novos críticos, de novos mediadores da literatura, por onde as obras da nova geração e dos autores ‘mortos’ ganham vida e sobrevida”.

Os grupos de debate no Facebook, por exemplo, são uma reedição dos antigos clubes de leitura. Essa troca de informações também acontece em plataformas específicas, como a Skoob, rede social que conta com mais de 140 000 usuários por mês interessados em ler e avaliar títulos, participar de grupos e receber livros em casa.

As resenhas literárias também ganharam cara nova por meio do trabalho dos booktubers, internautas que usam a plataforma de vídeos YouTube para falar sobre livros. Com milhões de acessos, esses canais oferecem uma forma fácil de saber mais sobre um título, um autor, ou acompanhar os últimos lançamentos. A popularidade é tanta que, neste ano, um grupo de booktubers foi convidado para fazer parte da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o maior encontro de literatura da América Latina, realizado em agosto.

Muitas experiências literárias que começaram na internet já ganharam vida e fizeram sucesso no mundo do papel. Um exemplo? O best-seller Cinquenta Tons de Cinza, que surgiu de textos que a autora americana E.L. James escrevia em uma página de fanfiction, gênero no qual fãs contam histórias baseadas em artistas, livros, seriados ou filmes. 

No Brasil, uma das mais conhecidas páginas de fanfiction é a Spirit, com mais de 500 000 usuários e quase 1 milhão de histórias publicadas, muitas sobre astros da música pop, como Justin Bieber, ou inspiradas em best-sellers, como Jogos Vorazes. A escolha dos temas evidencia que grande parte dos autores tem menos de 20 anos de idade e parece interessada em escrever textos longos e elaborados. Nem que seja para poder compartilhar depois com os amigos, ganhar likes nas redes sociais e conquistar seguidores aos milhares. 

Selecionamos quatro jovens brasileiros da geração Y conectados que usam diferentes plataformas online e redes sociais para expressar sua paixão pelos livros e pela literatura. 

Anna Baccarat_autora serial Quando tinha 13 anos, Anna Baccarat começou a escrever seu primeiro romance, Encontros e Desencontros em Paris: 1932. Hoje, aos 16, a jovem paulista é autora de oito livros, disponíveis em formato digital na plataforma de autopublicação
Widbook. “Recebo muitos comentários e elogios sobre os textos, mas também críticas, que ajudam a corrigir alguns erros gramaticais. Tudo isso fez minha escrita evoluir”, afirma Anna. A plataforma reúne cerca de 40 000 usuários brasileiros e mais de 200 000 cadastrados no mundo. Atualmente há cerca de 25 000 livros sendo criados. A Widbook mistura conceitos de blog com rede social. O autor consegue fazer postagens e receber comentários e, ao fim, pode consolidar os textos em uma única obra. “Uso a Widbook para conhecer novos autores, principalmente com temas relacionados a romance e filosofia”, diz Anna. 

Roberta Nate_Autora de Fanfiction Ao chegar à última frase da Saga Crepúsculo, a carioca Roberta Nate sentiu-se desapontada. O texto terminou sem dar todos os detalhes que ela gostaria, e Roberta resolveu escrever uma continuação para a história. Hoje, aos 19 anos, a estudante de publicidade dedica 3 horas por dia a escrever contos de fanfiction, gênero que recria histórias de obras famosas. Roberta posta na Spirit, rede social brasileira de fanfiction com mais de 500 000 usuários. Na plataforma, ela já leu mais de 200 histórias e é autora de 12 obras, todas baseadas na série de lobisomen Teen Wolf. A mais popular chegou a 50 000 visualizações. “Meus leitores têm entre 14 e 20 anos e participam da criação dos contos”, afirma Roberta, que, além dos contos virtuais, costuma ler pelo menos três livros por semana. “A internet abre portas para que os jovens tenham mais diversidade na hora de ler e, assim, se apaixonem por literatura”, diz Roberta.

Tiago Morini_Literatura no Facebook Desde que terminou um longo relacionamento, o advogado Tiago Morini, 29 anos, passa os dias em busca de novos romances. E também de contos, crônicas e ensaios. Com o fim do namoro, Tiago também largou os processos judiciais e passou a se dedicar a seu hobby. “Sempre gostei de literatura. Em 2011, decidi criar um blog, que migrou para uma página no falecido Orkut e hoje está no Facebook”, diz. A página Um Livro Qualquer tem mais de 380 000 curtidas e compartilha conteúdo diversificado sobre literatura. O sucesso da fan page está ainda ligado a quatro grupos fechados para leitores na rede social administrados por Tiago. O maior deles, com 8 000 membros, é o Clube dos Leitores Solteiros. “As pessoas que estão carentes, ou que querem conhecer alguém, acabam tendo um engajamento maior”, afirma Tiago, que lançou recentemente seu próprio romance, o e-book Uma Noite e Seis Semanas. 

 

 

Acompanhe tudo sobre:INFOLivros

Mais de Tecnologia

Engenheiro brasileiro cria moto elétrica projetada para o Brasil e custando R$ 24.990

Meta enfrenta novos desafios regulatórios na União Europeia com serviço de assinatura

Pacientes se consultam com hologramas em hospital no Texas

Mais na Exame