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Deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft, diz CEO

Paula Bellizia, CEO da Microsoft Brasil, fala sobre machismo na tecnologia e o seu papel na melhoria do quadro de diversidade da empresa

Paula Bellizia: "Eu acho que eu sou uma história que pode ser referência para outras mulheres" (Divulgação/Microsoft)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2016 às 12h40.

São Paulo – Microsoft, Facebook e Apple têm algo em comum: as três empresas já tiveram Paula Bellizia em seu quadro profissional.

No Facebook, ela foi diretora de vendas para pequenas e médias empresas na América Latina e, na Apple, foi presidente das operações brasileiras.

Desde junho do ano passado, ela ocupa o cargo de CEO da Microsoft Brasil – empresa pela qual já havia passado entre 2002 e 2012.

Em entrevista a EXAME.com, Bellizia fala sobre um grande desafio: aumentar o número de mulheres dentro da companhia.

Entre os funcionários da área de tecnologia, apenas 16,9% são mulheres na Microsoft (número global). Nesse quesito, a empresa está atrás de concorrentes como Apple (que tem 22% de mulheres em cargos de tecnologia) e Google (que tem 18% de mulheres nesses cargos).

"Não temos 50% de mulheres na sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft". Veja a conversa com Paula Bellizia abaixo.

EXAME.com: Quando você fez faculdade de ciências da computação na Fatec/Unesp, sentiu preconceito por ser mulher?

Paula Bellizia: Quando eu entrei na Fatec, mulheres eram minoria. Em uma turma de 36 ou 40 alunos, seis eram mulheres. Mas eu nunca sofri preconceito lá. Muitas professoras eram mulheres e uma das diretoras também. Desse modo, eu via um equilíbrio.

Quando fui para o mercado de trabalho eu senti um pouco do preconceito, pois percebi que era um ambiente menos feminino. Mas nunca alguém me disse: “você não serve para esse trabalho”. Além disso, eu também nunca senti um não-incentivo por parte da minha família, que é uma questão que as mulheres normalmente enfrentam.

Você acha que é um exemplo devido à sua trajetória?

Eu acho que sou uma história que pode ser referência para outras mulheres. Exemplo é uma palavra muito forte, mas eu sou uma história que ajuda a mostrar que, sim, é possível se você tiver um plano de carreira, se você souber o que você busca, se você não deixar que outras opiniões externas lhe tirem do seu caminho.

Eu posso ajudar outras mulheres que queiram trabalhar nessa área. Eu represento uma empresa que tem isso na cultura e sou uma porta-voz por ter passado por tantas empresas de tecnologia.

Tenho dois filhos, inclusive uma menina que eu quero incentivar a fazer a carreira que quiser. Uma das coisas com que eu mais me preocupo é se eu dou o mesmo incentivo a minha filha que eu dou a meu filho. Por isso, quero ajudar outras mulheres a buscar um objetivo de carreira.

O que mudou para as mulheres na tecnologia desde quando você fez faculdade?

A evolução tecnológica trouxe uma possibilidade ainda maior para as mulheres. Hoje, temos um ambiente mais inclusivo para mulheres. Eu acho que quando uma mulher decidia ser programadora naquela época, era muito mais hardcore: laboratórios, CPD, grandes máquinas e processos longos. Hoje, você pode programar de qualquer lugar usando a nuvem.

A tecnologia é muito mais orgânica hoje em dia, pois você tem de olhar muito mais a parte de interface, o fluxo dos sites, a experiência do consumidor. Por isso, eu acredito que essa revolução tecnológica é um convite às mulheres.

De 2014 para 2015, houve diminuição no número de mulheres na área de tecnologia da Microsoft (de 17,1% para 16,7%). A empresa regrediu nesse sentido?

A questão da diversidade na Microsoft vai além das mulheres. Nós queremos pessoas que se complementem, que tragam impacto do ponto de vista de negócios e sabemos que isso muda o resultado da empresa.

Temos uma grande representatividade de mulheres no conselho da Microsoft Brasil. 30% dos conselheiros são mulheres. As pessoas que se  reportam diretamente a mim são 60% mulheres. E isso é o resultado de uma cultura. Mas eu acho que ainda tem muito trabalho a ser feito.

Como chamar mais mulheres para trabalhar na Microsoft?

Em uma das primeiras semanas da minha volta à Microsoft, nós revisamos o plano de diversidade. Queremos ampliar a mensagem de que somos uma empresa cuja cultura é a da diversidade. Aliás, 42% dos nossos estagiários são mulheres e, no próximo ciclo de estagiários, nós queremos alcançar o número de 50% de mulheres.

Outra coisa na qual temos trabalhado é a retenção de talentos. A Microsoft usa a tecnologia para ter flexibilidade no dia a dia. Isso é incrível para homens e, principalmente, para mulheres. Nós queremos desenvolver nossos talentos. Por isso, dou mentoria a vários dos nossos talentos femininos e conto minha história para mostrar que é possível.

Nós acreditamos que as meninas e mulheres têm grande responsabilidade na sua trajetória profissional. A gente quer colocar todas as nossas ferramentas e a nossa cultura de diversidade à disposição, mas tem uma questão pessoal de a mulher realmente querer.

Qual proporção de mulheres você gostaria de alcançar na Microsoft Brasil?

Metade. Não temos 50% de mulheres na nossa sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft.

Como incluir as mulheres pode melhorar a Microsoft?

Eu acho que incluir a mulher na Microsoft melhora o nosso resultado do seguinte ponto de vista: a diversidade nos ajuda a refletir sobre os nossos projetos e a ver o que os nossos clientes querem.

Os homens, por exemplo, às vezes não se preocupam com algumas questões de desenvolvimento de produtos que as mulheres se preocupam. Por isso, a integração desses dois times diversos acaba contribuindo para um produto melhor, mais ergonômico, mais adequado que deixe os clientes mais felizes.

Você acha que as mulheres são mais desestimuladas a trabalhar com tecnologia no Brasil do que no resto do mundo?

Acho que o quadro é parecido no mundo todo. Tem muito ainda a ser trabalhado para chegarmos aos 50% de participação nas empresas. Alguns relatórios mostram que, no mundo inteiro, nós não fizemos muito progresso nessa questão.

Eu acho que é uma questão de sociedade e acredito que algumas empresas têm isso como pauta, mais do que outras. Elas têm um papel muito importante de acelerar essa transformação e essa é uma das grandes prioridades que eu tenho aqui com o meu time: promover essa grande pauta de diversidade como forma de fazer negócio e não de alcançar um número.

Desde que o Satya Nadella assumiu o comando da Microsoft, a empresa passou por grandes mudanças. Desde a chegada dele, a Microsoft se tornou uma empresa mais aberta?

Eu acho que tem uma questão de abertura. Diversidade já fazia parte da nossa cultura havia muitos anos, inclusive antes de eu sair da Microsoft. Mas eu acho que a Microsoft é uma empresa mais aberta agora do ponto de vida de plataforma.

Hoje, nós somos uma empresa totalmente operável em todos os sistemas. Se você olhar a parte de open source, usamos uma parte do código aberto para o desenvolvimento do nosso produto.

Nós somos uma empresa que roda em qualquer sistema operacional. O Office 365, por exemplo, roda no iOS, no Android e no Windows. Assim, nós somos, sim, uma empresa mais aberta e mais inclusiva hoje em todos os termos e quem aumentou essa visão foi o Satya.

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São Paulo – Microsoft, Facebook e Apple têm algo em comum: as três empresas já tiveram Paula Bellizia em seu quadro profissional.

No Facebook, ela foi diretora de vendas para pequenas e médias empresas na América Latina e, na Apple, foi presidente das operações brasileiras.

Desde junho do ano passado, ela ocupa o cargo de CEO da Microsoft Brasil – empresa pela qual já havia passado entre 2002 e 2012.

Em entrevista a EXAME.com, Bellizia fala sobre um grande desafio: aumentar o número de mulheres dentro da companhia.

Entre os funcionários da área de tecnologia, apenas 16,9% são mulheres na Microsoft (número global). Nesse quesito, a empresa está atrás de concorrentes como Apple (que tem 22% de mulheres em cargos de tecnologia) e Google (que tem 18% de mulheres nesses cargos).

"Não temos 50% de mulheres na sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft". Veja a conversa com Paula Bellizia abaixo.

EXAME.com: Quando você fez faculdade de ciências da computação na Fatec/Unesp, sentiu preconceito por ser mulher?

Paula Bellizia: Quando eu entrei na Fatec, mulheres eram minoria. Em uma turma de 36 ou 40 alunos, seis eram mulheres. Mas eu nunca sofri preconceito lá. Muitas professoras eram mulheres e uma das diretoras também. Desse modo, eu via um equilíbrio.

Quando fui para o mercado de trabalho eu senti um pouco do preconceito, pois percebi que era um ambiente menos feminino. Mas nunca alguém me disse: “você não serve para esse trabalho”. Além disso, eu também nunca senti um não-incentivo por parte da minha família, que é uma questão que as mulheres normalmente enfrentam.

Você acha que é um exemplo devido à sua trajetória?

Eu acho que sou uma história que pode ser referência para outras mulheres. Exemplo é uma palavra muito forte, mas eu sou uma história que ajuda a mostrar que, sim, é possível se você tiver um plano de carreira, se você souber o que você busca, se você não deixar que outras opiniões externas lhe tirem do seu caminho.

Eu posso ajudar outras mulheres que queiram trabalhar nessa área. Eu represento uma empresa que tem isso na cultura e sou uma porta-voz por ter passado por tantas empresas de tecnologia.

Tenho dois filhos, inclusive uma menina que eu quero incentivar a fazer a carreira que quiser. Uma das coisas com que eu mais me preocupo é se eu dou o mesmo incentivo a minha filha que eu dou a meu filho. Por isso, quero ajudar outras mulheres a buscar um objetivo de carreira.

O que mudou para as mulheres na tecnologia desde quando você fez faculdade?

A evolução tecnológica trouxe uma possibilidade ainda maior para as mulheres. Hoje, temos um ambiente mais inclusivo para mulheres. Eu acho que quando uma mulher decidia ser programadora naquela época, era muito mais hardcore: laboratórios, CPD, grandes máquinas e processos longos. Hoje, você pode programar de qualquer lugar usando a nuvem.

A tecnologia é muito mais orgânica hoje em dia, pois você tem de olhar muito mais a parte de interface, o fluxo dos sites, a experiência do consumidor. Por isso, eu acredito que essa revolução tecnológica é um convite às mulheres.

De 2014 para 2015, houve diminuição no número de mulheres na área de tecnologia da Microsoft (de 17,1% para 16,7%). A empresa regrediu nesse sentido?

A questão da diversidade na Microsoft vai além das mulheres. Nós queremos pessoas que se complementem, que tragam impacto do ponto de vista de negócios e sabemos que isso muda o resultado da empresa.

Temos uma grande representatividade de mulheres no conselho da Microsoft Brasil. 30% dos conselheiros são mulheres. As pessoas que se  reportam diretamente a mim são 60% mulheres. E isso é o resultado de uma cultura. Mas eu acho que ainda tem muito trabalho a ser feito.

Como chamar mais mulheres para trabalhar na Microsoft?

Em uma das primeiras semanas da minha volta à Microsoft, nós revisamos o plano de diversidade. Queremos ampliar a mensagem de que somos uma empresa cuja cultura é a da diversidade. Aliás, 42% dos nossos estagiários são mulheres e, no próximo ciclo de estagiários, nós queremos alcançar o número de 50% de mulheres.

Outra coisa na qual temos trabalhado é a retenção de talentos. A Microsoft usa a tecnologia para ter flexibilidade no dia a dia. Isso é incrível para homens e, principalmente, para mulheres. Nós queremos desenvolver nossos talentos. Por isso, dou mentoria a vários dos nossos talentos femininos e conto minha história para mostrar que é possível.

Nós acreditamos que as meninas e mulheres têm grande responsabilidade na sua trajetória profissional. A gente quer colocar todas as nossas ferramentas e a nossa cultura de diversidade à disposição, mas tem uma questão pessoal de a mulher realmente querer.

Qual proporção de mulheres você gostaria de alcançar na Microsoft Brasil?

Metade. Não temos 50% de mulheres na nossa sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft.

Como incluir as mulheres pode melhorar a Microsoft?

Eu acho que incluir a mulher na Microsoft melhora o nosso resultado do seguinte ponto de vista: a diversidade nos ajuda a refletir sobre os nossos projetos e a ver o que os nossos clientes querem.

Os homens, por exemplo, às vezes não se preocupam com algumas questões de desenvolvimento de produtos que as mulheres se preocupam. Por isso, a integração desses dois times diversos acaba contribuindo para um produto melhor, mais ergonômico, mais adequado que deixe os clientes mais felizes.

Você acha que as mulheres são mais desestimuladas a trabalhar com tecnologia no Brasil do que no resto do mundo?

Acho que o quadro é parecido no mundo todo. Tem muito ainda a ser trabalhado para chegarmos aos 50% de participação nas empresas. Alguns relatórios mostram que, no mundo inteiro, nós não fizemos muito progresso nessa questão.

Eu acho que é uma questão de sociedade e acredito que algumas empresas têm isso como pauta, mais do que outras. Elas têm um papel muito importante de acelerar essa transformação e essa é uma das grandes prioridades que eu tenho aqui com o meu time: promover essa grande pauta de diversidade como forma de fazer negócio e não de alcançar um número.

Desde que o Satya Nadella assumiu o comando da Microsoft, a empresa passou por grandes mudanças. Desde a chegada dele, a Microsoft se tornou uma empresa mais aberta?

Eu acho que tem uma questão de abertura. Diversidade já fazia parte da nossa cultura havia muitos anos, inclusive antes de eu sair da Microsoft. Mas eu acho que a Microsoft é uma empresa mais aberta agora do ponto de vida de plataforma.

Hoje, nós somos uma empresa totalmente operável em todos os sistemas. Se você olhar a parte de open source, usamos uma parte do código aberto para o desenvolvimento do nosso produto.

Nós somos uma empresa que roda em qualquer sistema operacional. O Office 365, por exemplo, roda no iOS, no Android e no Windows. Assim, nós somos, sim, uma empresa mais aberta e mais inclusiva hoje em todos os termos e quem aumentou essa visão foi o Satya.

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