No caso da "perturbação online", a situação é muito mais complexa. A identificação dos agressores é bem mais difícil, pois seu autor pode criar um perfil falso em um blog, Twitter ou Facebook (Stock Exchange)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2012 às 15h09.
São Paulo - Com o advento da internet e a recente popularização dos computadores pessoais e smartphones, deu-se o ponto de partida para o surgimento do cibridismo, característica marcante do século XXI. O termo CIBER (Digital) + HÍBRIDO (mistura) designa a fusão dos mundos físico e virtual, que só é possível com ajuda da tecnologia - via internet, computadores e inovações digitais. Em certo sentido, podemos dizer que não existe mais somente uma realidade para cada pessoa, pois o mundo físico (off-line ou desconectado) se funde com o virtual (on-line ou conectado) na sociedade contemporânea, criando essa nova realidade híbrida.
Tal fenômeno impacta de modo contundente, especialmente a vida de crianças e jovens. Ambos são chamados de nativos digitais, já que nasceram em um mundo mergulhado em tecnologia, convivendo intensamente no mundo virtual com familiares, amigos e membros de sua comunidade.
Como nessa faixa etária a escola ocupa um lugar central em suas vidas, esse espaço tem um importante papel no processo de desenvolvimento psicossocial, reverberando no cyberespaço vários aspectos do âmbito escolar, em especial a violência. Na maioria dos casos, essa é a matriz geradora do chamado cyberbullying, termo de origem inglesa composto pelas palavras cyber e bullying, tendo bully um significado próximo ao nosso "valentão", originado de Bull (touro), na sua designação literal.
Episódios de violência, sofrimento e humilhação no âmbito escolar caracterizam o bullying, revestindo-se de um componente ainda mais perturbador no contexto do cyberbullying, modalidade de agressão no mundo virtual. Quando há um episódio qualquer de violência no mundo real (seja ele caracterizado ou não como bullying), os agressores são facilmente identificados e confrontados na escola, como em qualquer outro lugar, pois os envolvidos são pessoas físicas, identificáveis e conhecidas.
Já no caso da "perturbação online", a situação é muito mais complexa. A identificação dos agressores é bem mais difícil, pois seu autor pode criar um perfil falso em um blog, Twitter ou Facebook, tornando seu combate mais complexo e perturbador.
Segundo especialistas, a crescente escalada do cyberbullying está ligada a uma cultura individualista e competitiva, que marca o advento da sociedade contemporânea. O combate desse fenômeno será tão mais exitoso quanto maior for a interferência dos variados protagonistas do espaço escolar: pais, professores, gestores e comunidade.
Por isso, defendo o estímulo à convivência com o diferente e a construção de práticas solidárias, por meio do exercício da cidadania, de atividades esportivas e manifestações artísticas, como teatro, dança e sarau de poesias, entre outras. Elas colaboram para fortalecer a solidariedade e o respeito mútuo, criando condições para reduzir as práticas de cyberbullying e minorar seus impactos.
A tarefa dos pais também é gigantesca: criar laços de proximidade na vida dos filhos que não se restrinjam ao mundo físico. Isso, além de acompanhar de perto o mundo virtual deles por meio de diálogo, convívio e cumplicidade, protegendo-os de ameaças virtuais da mesma forma como se preocupam com sua integridade física.
* Claudio Paris é licenciado em Ciências e Biologia e pós-graduado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). É também professor de colégio conveniado ao Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, músico e gestor da Nova Geração, comunidade terapêutica que assiste jovens vítimas de exclusão social e drogadição.