Consumidor confia mais em robôs para cirurgias que para finanças
Enquanto apenas 7% dos entrevistados confiariam suas economias a um robô, 14% se submeteriam a uma cirurgia cardíaca feita por uma máquina
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2017 às 10h13.
Última atualização em 24 de maio de 2017 às 10h16.
Andy Maguire enfrenta um desafio: encarregado de atualizar os sistemas de banco digital do HSBC, ele descobriu que os clientes são duas vezes mais propensos a confiar em um robô para uma cirurgia cardíaca do que para escolher uma conta poupança.
“Acho isso um pouco estranho”, disse o diretor de operações do maior banco da Europa, em referência à pesquisa com mais de 12.000 consumidores em 11 países, publicada nesta quarta-feira.
Apenas 7 por cento dos entrevistados confiariam suas economias a um robô, enquanto 14 por cento estariam dispostos a se submeter a uma cirurgia cardíaca feita por uma máquina.
“Seria possível imaginar que o mundo havia avançado ou que estava se movendo mais rapidamente que isso”, disse Maguire, em entrevista. Os consumidores tendem a confiar naturalmente em profissionais médicos , mas “o nível de exigência é muito elevado” para os bancos que lidam com o dinheiro das pessoas, disse ele.
Bancos de todo o mundo estão investindo bilhões de dólares para reforçar sistemas de computadores ruins em uma tentativa de repelir startups concorrentes e reduzir despesas operacionais de longo prazo.
Mas os consumidores e órgãos reguladores estão exigindo padrões cada vez mais altos de segurança e conveniência, elevando o custo das reformulações e possivelmente corroendo qualquer economia.
A pesquisa do HSBC sobre as atitudes em relação à automatização dos bancos apontou que apesar de quatro entre cinco pessoas acreditarem que a tecnologia facilitará suas vidas, algumas ferramentas que estão sendo adotadas pelo setor financeiro ainda não ganharam a confiança dos consumidores.
Menos da metade dos entrevistados disse confiar no reconhecimento de impressões digitais como substituto para as senhas e apenas um quinto utiliza a ferramenta.
Apenas 6 por cento dos consumidores utilizam reconhecimento de voz, independentemente dos benefícios de segurança, segundo o relatório.
Ataque hacker
As conclusões do relatório surgem em um momento potencialmente embaraçoso para o HSBC, uma semana depois de um repórter da BBC ter enganado o software de reconhecimento de voz do banco.
O incidente mostrou os riscos enfrentados pelos bancos ao tentarem inovar em um setor que, quase uma década após a crise financeira global, ainda sofre com o baixo nível de confiança por parte do público em geral.
“Estou um pouco indiferente a isso porque estamos tentando fazer algo genuinamente bom para os clientes”, disse Maguire. “Esses caras se juntaram para tentar invadir uma conta. Se o tivessem feito com pins e senhas, teriam entrado sem que ninguém soubesse.”
O HSBC pegou 4 milhões de libras (US$ 5,2 milhões) em tentativas de fraude desde a introdução da ferramenta de reconhecimento de voz, há pouco mais de um ano, e fará algumas melhorias após o incidente da BBC, disse Maguire. “Podemos tornar o banco completamente seguro, mas também ficaria impossível lidar com ele”, acrescentou.
A expansão da indústria financeira em termos de investimento em tecnologia surge em um momento em que as startups pressionam para roubar clientes dos grandes bancos.
Mas Maguire disse que a tendência não afetará a rentabilidade do HSBC porque o banco pode trabalhar com as empresas de tecnologia financeira para melhorar seus próprios serviços.
“O HSBC é um ótimo lugar para as empresas de tecnologia financeira virem e ficarem ricas”, acrescentou.
Este conteúdo foi originalmente publicado na Bloomberg.