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Conheça o mago dos efeitos especiais de filmes como A Origem

O britânico Paul Franklin conta como criou os efeitos visuais de filmes das séries Batman e Harry Potter, além de A Origem, que concorre ao Oscar de melhor filme

O filme A Origem combina efeitos mecânicos e digitais (Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2011 às 06h00.

São Paulo — O especialista britânico Paul Franklin é mestre em transformar o imaginário em realidade. Supervisor de efeitos visuais de filmes das séries Batman e Harry Potter, além do recente A Origem, um dos filmes mais rentáveis de 2010, ele é cofundador da produtora Double Negative, de Londres.

Franklin, hoje com 44 anos, estudou escultura na universidade e apaixonou-se pelo teatro e pela computação gráfica. Juntando essas três áreas, especializou-se em criar mundos digitais, primeiro para a indústria de jogos e depois para os estúdios de cinema. Nesta entrevista, ele fala sobre a tecnologia por trás das grandes produções cinematográficas.

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O que há de mais avançado em efeitos visuais hoje?

São os seres humanos criados digitalmente por meio do que chamamos de fotorrealística. É uma técnica que abre muitas possibilidades. Você pode ter várias versões do mesmo ator. Estrelas de cinema do passado podem ser ressuscitadas. Os atores podem dirigir suas versões digitais rejuvenescidas ou bem mais velhas - como no filme O Curioso Caso de Benjamin Button. Além disso, podemos inserir atores em situações que seriam impossíveis de filmar. O desafio é criar algo que tenha a complexidade e a sutileza de uma pessoa real. Isso requer um modelo digital extremamente detalhado dos atores. Eles precisam criar a ilusão de um ser humano em pleno funcionamento. No momento, isso é muito, muito difícil de fazer. Gasta-se muito tempo e dinheiro para chegar a um resultado ainda modesto.

Como foram criados os efeitos usados em A Origem?

Eu tive duas horas para ler o roteiro num esquema superfechado de segurança em Los Angeles. O diretor Christopher Nolan me telefonou logo após perguntando: “O que você achou? Onde os efeitos visuais podem entrar?” Depois disso, levei três meses para pensar onde os efeitos se encaixariam. Nessa etapa, o diálogo com o diretor é essencial para poder criar, sugerir ou mesmo limitar as ideias. A etapa seguinte é longa e inclui tanto a criação dos efeitos no computador como a construção das instalações físicas para as cenas especiais. Em A Origem, filmamos 560 cenas de efeitos visuais. Dessas, 500 foram aproveitadas no filme. Para Batman Begins, produzimos 620 cenas. No total, 230 pessoas trabalharam nos efeitos visuais de A Origem.


Como você criou a sequência em que uma rua de Paris é dobrada sobre si mesma em A Origem?

Ariadne, interpretada por Ellen Page, demonstra sua habilidade para controlar o mundo dos sonhos, dobrando as ruas sobre si mesmas. O script dizia: “A rua dobra-se ao meio, transformando a cidade num cubo, aderindo aos planos gravitacionais”. Não havia nenhuma indicação no script de como faríamos aquilo. Chris queria essa cena o mais real possível. Nossa equipe passou uma semana documentando o local onde filmaríamos em Paris. Um grande trabalho de digitalização dos edifícios do local foi feito por uma empresa de Seattle (Estados Unidos), utilizando um scanner de precisão. Eles nos entregaram dados detalhados. A partir dessas informações, nossa produtora construiu uma série de blocos de apartamentos parisienses virtuais. As ruas que se dobram, incluindo carros e pessoas, são geradas pelos computadores. Esse é o desafio criativo do filme: tornar real o roteiro imaginado por Chris.

Quais equipamentos e aplicativos foram usados?

A espinha dorsal da nossa linha de efeitos visuais é o aplicativo Maya, da Autodesk. É o nosso principal pacote de modelagem e animação em 3D. Para composição em 2D, usamos o Shake, da Apple, e o Nuke, da Foundry. Eles se parecem com o After Effects, da Autodesk. E o RenderMan, da Pixar, é o software que realmente desenha imagens em computação gráfica. Temos computadores com Windows, MacOS e Linux. Boa parte do que fazemos se baseia no Linux, que, além de ser barato e confiável, é ideal para grandes configurações de rede. Utilizamos o Mac para tarefas pesadas em estações de trabalho. Mas cada artista tem um PC equipado com Linux.

Como foi sua relação com Christopher Nolan nesse trabalho?

É fantástico trabalhar com o Chris. Ele é exigente e sempre desafia a equipe a ter muitas ideias. Ele nos envolve na discussão criativa e faz cada um se sentir responsável pelas decisões tomadas no filme. Como tínhamos uma ótima relação desde os filmes do Batman, ele teve muita confiança em mim para criação e experimentação em A Origem. Chris é muito envolvido com a construção dos efeitos visuais. Ele quer ver diariamente o resultado do trabalho feito.

Quais são os efeitos mais difíceis de realizar?

O mais difícil é recriar elementos que existem na realidade, como árvores, cidades e pessoas. Esses objetos têm detalhes complexos e são de fácil identificação pelo público. Dois exemplos são as ruas de Paris em A Origem e as de Londres em Harry Potter. Já a criação de um personagem imaginário, um monstro ou algo fictício é bem mais fácil. Nesse caso, o público não tem parâmetros para compará-los com a realidade. Assim, o nível de perfeição exigido é menor.


O que acontece com as cidades virtuais que você cria depois que o filme é concluído?

Há um arquivo digital onde elas ficam armazenadas. Mas o copyright pertence à empresa que realiza o filme. Esse material pode ser reutilizado em algum outro trabalho dessa empresa. Por exemplo, por motivos financeiros, algumas das ruas de Gotham City, em Batman Begins, foram recicladas da rodovia onde se deu a famosa perseguição de Matrix Reloaded.

Quanto do que vemos no cinema existe apenas virtualmente?

Em alguns casos, os elementos virtuais predominam. Um ótimo exemplo é o recente Zona Verde (com Matt Damon, sobre a invasão do Iraque). Quando você vê Bagdá na tela, tudo ali foi gerado por computador - as ruas, as palmeiras, a explosão dos palácios de Saddam Hussein e cada um dos tanques e helicópteros, com exceção de um. O filme foi filmado no Marrocos e na Espanha. Recriamos Bagdá com base em fotos.

Como foi seu trabalho na série Harry Potter?

Começamos a trabalhar a partir do filme Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (o terceiro da série). Nessa franquia, um comitê planeja a criação dos efeitos visuais com o diretor. Eles já têm ideia do que querem. Nós tivemos de criar muitos detalhes, especialmente em Harry Potter e a Ordem da Fênix. Porém, o objetivo aqui é diferente. A questão está menos em criar e mais em estilizar, mas sempre com a necessidade de parecer real. Passamos boa parte do tempo pensando em como elevar aquela magia do filme anterior a um nível mais alto no próximo longa. J.K. Rowling, a autora, está sempre envolvida no processo.

Quais são os filmes que mais o impressionaram pelos efeitos visuais?

O Parque dos Dinossauros realmente me surpreendeu. A cena em que o Tiranossauro Rex aparece pela primeira vez, durante uma tempestade, à noite, é uma fabulosa combinação de computação gráfica, efeitos especiais mecânicos e ótima direção. Spielberg é brilhante. Além desse, o primeiro filme Matrix foi um divisor de águas nessa área. E O Exterminador do Futuro 2 foi certamente marcante. Esses caras planejam os efeitos pensando como um filme vai ficar na tela daqui a 20 anos.

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