Como surgiram cinco das maiores inovações da 3M
Empresa americana conta com mais de 55.000 patentes registradas
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2011 às 13h16.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h37.
São Paulo - Aparentemente por acaso, por meio de pesquisas ou com ajuda de outras pessoas, a inovação pode surgir de onde menos se espera. Com mais de 55.000 patentes registradas, a 3M, fundada em 1902 (embora ainda com o nome Minessota Mining & Manufacturing), passou por processos de inovação bastante variados para criar seus produtos.
Com uma política voltada para o processo inovativo, a empresa dá abertura para que os funcionários “pensem fora da caixa”. Seus cientistas têm 15% de seu tempo de trabalho para se dedicarem a projetos pessoais novos, e a troca de conhecimento entre trabalhadores e clientes é constante. Conheça a seguir como foram criados cinco dos itens de sucesso da 3M.
Na década de 20, a 3M iniciou um processo que, hoje, é chamado de inovação aberta para desenvolver a lixa d’água. Na época, a empresa ainda era especializada apenas em lixas para construção, mas enfrentava um problema: o excesso de poeira criado pelo lixamento das superfícies. De acordo com o gerente de marketing corporativo da 3M, Luiz Eduardo Serafim, a solução veio de um inventor da Filadélfia, chamado Francis Okie.
“Ele tinha um vizinho que lixava vidro profissionalmente e não aguentava mais a poeira gerada. Vendo isso, o inventor tentou fazer um lixamento com água e escreveu cartas pedindo amostras de papel e mineral a alguns fabricantes de lixa”, conta Serafim. A 3M foi a única a responder à correspondência, mandou as amostras e destacou um vendedor para acompanhar e colaborar com o processo, que, em 1921, deu origem à Lixa Abrasiva Wetordry, também conhecida como lixa d’água. Depois da invenção, a 3M comprou a patente do produto, pertencente a Okie, e contratou o cientista para ajudar a empresa em novas descobertas.
Visitar o cliente para acompanhar seu trabalho e verificar sua satisfação rendeu outros frutos para a 3M. Segundo Luiz Eduardo Serafim, no início dos anos 20, um cientista foi a uma oficina de carros para estabelecer contato com o cliente. Lá, ele percebeu que o dono da oficina tinha problemas para proteger os vidros e outras partes do carro, na hora de fazer a pintura da lataria.
Naquele tempo, barbante, esparadrapo e cola eram as únicas formas de fixar o papel-jornal usado para proteger a superfície. Porém, todas as alternativas tinham problemas, já que, ou não fixavam bem o material, ou pregavam tanto que deixavam vestígios e danos. Diante disso, o cientista voltou para a companhia com a ideia de fazer uma fita que, ao mesmo tempo, pudesse colar e ser retirada depois sem maiores problemas. “Em 1925, a 3M conseguiu levar para o mercado a fita crepe ou Scotch, fita sensível à pressão e de fácil remoção”, diz Serafim.
O acaso pode ser um ingrediente importante para o processo de inovação, mas não é tudo. O líquido impermeabilizante Scotchgard, criado em 1952, é um exemplo da junção de coincidência, senso de oportunidade e empreendedorismo. Segundo Serafim, um cientista da divisão de produtos químicos estava em um projeto para a indústria aeroespacial, quando, ao manipular o material, deixou cair um pouco em seu sapato. “Quando ele se abaixou para limpar, percebeu que aquele produto repelia água”, afirma.
Diante da descoberta, o cientista falou com seu chefe que aquela poderia ser uma boa oportunidade de negócio e recebeu o aval para dedicar 15% de seu tempo de trabalho no novo projeto. O resultado foi o líquido Scotchgard, usado tanto para fins industriais, quanto domésticos (em carpetes, estofamento de carros, sofás, etc). Luiz Eduardo Serafim aponta que essa descoberta não pode ser atribuída completamente ao acaso, pois, se não fosse a perspicácia do cientista e a disponibilidade da empresa, nada teria surgido daquele “acidente”. “Muitas maçãs caíram antes de Newton perceber o fenômeno da gravidade, então não se pode dizer que foi apenas sorte”, diz.
Criado em 1980, o Post-it é uma invenção quase acidental. O gerente de marketing corporativo da 3M conta que o cientista de uma unidade de produtos adesivos da empresa estava incumbido de criar uma cola muito forte, mas falhou. “Ele colocou esferas de vidro na fórmula e o adesivo acabou ficando muito fraco. Mesmo assim, a empresa tolerou o erro e ele continuou em outros projetos”, afirma.
Esse “fracasso”, no entanto, não foi ignorado. Com as trocas de informações e conhecimentos dentro da companhia, um outro cientista teve acesso ao caso e se interessou. Além de pesquisador, ele cantava em um coral e precisava de um marcador de páginas que não danificasse o papel. Usando 15% de seu tempo fornecido pela empresa para se dedicar à nova invenção, ele criou o chamado Post-it. Até ser lançado no mercado, o papel de recados passou por vários testes de aceitação e, hoje, é um dos maiores sucessos da 3M.
Para o gerente de marketing corporativo da 3M, o grande diferencial deste produto é o fato de ter sido criado no contexto brasileiro, enquanto a maioria das outras inovações foram pensadas nos Estados Unidos. O Líquido Supressor de Poeiras foi elaborado com base no contato com os clientes da área de mineração e com a população de onde sai e por onde passa o minério. Essas redes de conhecimento ajudaram a empresa a perceber a necessidade de um produto que impedisse que o material extraído das minas caísse por onde era transportado.
“Era preciso evitar esse desperdício, porque a empresa perde dinheiro quando cai minério de ferro na estrada ou no trilho do trem e, ao mesmo tempo, as comunidades que vivem perto desses caminhos também sofrem o impacto”, afirma Serafim. Aproveitando o contato com as pessoas de fora da empresa e usando o conhecimento já existente sobre o assunto, a companhia criou uma espécie de “chuveiro” por onde os veículos cheios de minério devem passar antes de começar a viagem. Esse líquido é biodegradável e se transforma em uma película que retém o produto durante todo o percurso.