Como será o transporte no futuro
Algumas iniciativas pelo mundo mostram como a automação e o acesso à informação vão transformar o jeito como nos locomovemos
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2015 às 10h27.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 12h32.
Você já pensou em quanto tempo – e dinheiro – perde toda vez que fica parado em um congestionamento? Estimativa do Instituto Akatu aponta que o Brasil deixa de gerar 90 bilhões de reais por ano com a perda de produtividade dos trabalhadores que passam pelo menos meia hora por dia no trânsito. É o equivalente a 2,5% do PIB.
Uma maneira de driblar o problema é investir em melhorias para o sistema de transporte público. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os moradores das nove maiores regiões metropolitanas do país gastam, em média, 1 hora e 22 minutos por dia no transporte coletivo. “Nossas cidades ainda precisam avançar muito para melhorar isso”, diz Ricardo Corrêa, dono da TC Urbes, empresa que faz projetos de mobilidade urbana.
A tecnologia tem um papel fundamental para garantir que os sistemas de metrô, trem e ônibus sejam cada vez mais eficientes. Em países como França, Espanha e Alemanha, meios de transporte automatizados têm garantido um salto de qualidade que se reflete em aumento da capacidade, menos tempo de espera, maior segurança na operação e diminuição no impacto ambiental.
Conheça algumas tendências dos sistemas de transporte inteligentes – e entenda por que eles mostram como será a mobilidade no futuro.
Direção automatizada
Trens e metrôs operados remotamente por meio de softwares de controle proporcionam mais conforto, rapidez e segurança aos usuários. É o que os especialistas conhecem como sistemas driverless, literalmente sem motorista. A automação possibilita programar a velocidade e o intervalo dos trens conforme a necessidade, e até determinar o tempo de abertura das portas. As informações também ajudam a evitar contingências, já que o programa determina quando é preciso fazer uma manutenção preventiva.
O metrô de Paris, na França, é um bom exemplo dos benefícios do modelo driverless. Inaugurada em 1900, a linha 1, a mais tradicional da cidade, concluiu a migração de sistema em 2013. A mudança aconteceu depois que bons resultados foram alcançados na linha 14, inaugurada em 1998. Na linha 1, os intervalos entre um trem e outro foram reduzidos de 105 segundos para 85 segundos – o que permitiu aumentar a capacidade de passageiros em quase 50%. Como os trens estão perfeitamente sincronizados, é menor a necessidade de fazer paradas bruscas, o que fez o consumo de energia cair 15% em ambas as linhas.
Planejamento em tempo real
Programas de análise de dados em tempo real têm transformado a rotina do trânsito ao redor do mundo. Os sistemas de monitoramento permitem mudar os padrões do tráfego, reprogramando o intervalo dos semáforos para aliviar congestionamentos. A alemã Berlim, por exemplo, possui um sistema que cruza informações fornecidas por órgãos oficiais para fazer cálculos de curto prazo e assim informar os usuários sobre a situação do trânsito no momento. As informações são exibidas nas paradas de trens e ônibus, estacionamentos públicos e displays espalhados pela cidade.
Alguns desenvolvedores criaram sistemas de gestão que não requerem complexos centros de controle. Pelo tablet ou pelo smartphone, um engenheiro de tráfego é capaz de dar comandos que aliviam o fluxo de automóveis. Cidades menores que não requerem grande capacidade de processamento de dados têm utilizado esse tipo de sistema. É o caso de Viena, a capital austríaca, que possui 1,7 milhão de habitantes, e a alemã Düsseldorf, cuja população não chega a 600 000 pessoas.
Recentemente, a cidade de Petaling Jaya, na Malásia, adotou um sistema que permite simular como a infraestrutura de transporte seria impactada caso mais gente passasse a usar o sistema público. O objetivo é ajudar as autoridades locais a planejar os investimentos em infraestrutura urbana. Atualmente, um quinto da população utiliza transporte coletivo. Até 2030, o governo estima que 40% da população se locomoverá pelo sistema público.
Conexão com o usuário
Em 2013, pela primeira vez, o número de smartphones vendidos no mundo ultrapassou a marca de 1 bilhão de aparelhos, segundo a empresa de pesquisa IDC. No mesmo ano, os smartphones representaram mais de 55% do total de telefones móveis vendidos, uma marca inédita. O acesso a celulares com mais tecnologia tem tornado os usuários mais conectados e isso abre caminho para sistemas que permitem ao cidadão acompanhar em tempo real o trânsito nas cidades.
Aplicativos de metrô são cada vez mais corriqueiros nas cidades que oferecem esse tipo de transporte. As funcionalidades são inúmeras. Há os que apenas orientam o passageiro a escolher a melhor rota até os que são abastecidos em tempo real com informações úteis para a viagem, como problemas na linha ou manifestações que geram aglomerações nas estações.
Em cidades com sistemas de mobilidade inteligente, os aplicativos são capazes de mostrar o panorama geral da rede de transporte, integrando informações sobre ônibus, metrôs, táxi ou trem. É o caso de Barcelona, na Espanha, onde o órgão responsável pelos serviços de transporte urbano implantou um sistema de gestão que calcula os tempos percorridos por ônibus e trens e mantém essa informação permanentemente atualizada e acessível nos sete aplicativos que dispõe.
Com esse sistema, 90% dos ônibus conseguem cumprir seu horário, mais que o dobro da média de 10 anos atrás. Os passageiros, por sua vez, contam com estimativas de tempo mais precisas para planejar sua viagem, o que aumenta a comodidade.