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Como os smartphones da Xiaomi lentamente sumiram do Brasil

Empresa chegou ao Brasil com estratégia focada em vendas online, mas agora é praticamente impossível comprar um novo produto da marca no país

Xiaomi: Empresa lançou dois modelos de smartphones no país (Getty Images/Reprodução)

Xiaomi: Empresa lançou dois modelos de smartphones no país (Getty Images/Reprodução)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 15h25.

Última atualização em 19 de janeiro de 2017 às 16h24.

São Paulo – A Xiaomi chegou como uma fabricante promissora de tecnologias de consumo para o mercado brasileiro em 2015 e praticamente desapareceu no ano seguinte. A empresa abandonou a sua loja online e ficou praticamente impossível adquirir um dispositivo novo da marca no Brasil.

A proposta inicial da companhia era vender seus dois primeiros smartphones por seu próprio site, eliminando as varejistas da jogada, dessa forma, reduzindo o custo para o consumidor.

Porém, a companhia mudou de estratégia e passou, primeiro, a vender os aparelhos chamados Redmi 2 e Redmi 2 Pro na operadora Vivo e, poucos meses depois, no varejo.

Após disso, já no segundo semestre do ano passado, quando tentávamos comprar um dos produtos no site da Xiaomi, éramos direcionados a sites de varejistas parceiras. Já não era mais possível comprar na página oficial.

O preço também mudou nesse período. Se antes o Redmi 2 custava 550 reais e a versão Pro saia por 799 reais, somente o primeiro modelo era encontrado ao custo de 659 reais.

Vale notar que os outros produtos que a Xiaomi lançou do país também sumiram do mercado: a pulseira inteligente Mi Band e a bateria portátil Mi Power Bank.

O blog Bastidores das Empresas, da IstoÉ Dinheiro, apurou que a Xiaomi vendeu quase 40 mil celulares em 2015. Esse resultado deixa a companhia bem abaixo de grandes rivais, como Samsung e Lenovo – e até mesmo da Asus, que vendeu 20 milhões de aparelhos em 2016.

O ano em que a Xiaomi chegou ao Brasil não foi um dos mais favoráveis para as fabricantes de hardware. Por exemplo, além da crise política e econômica que assolou o país no ano passado, houve ainda a derrubada da Lei do Bem para ajudar a contenção de gastos públicos.

A Lei do Bem dava algumas isenções fiscais para empresas que vendiam celulares com preço máximo de 1.500 reais. Essa medida estava garantida até 2017, mas foi derrubada no segundo semestre de 2015 e voltou a funcionar, por meio de uma liminar, no início de 2016. Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, isso abalou o planejamento das fabricantes de hardware e ainda hoje gera incerteza nas estratégias pelo risco da liminar ser revogada a qualquer momento.

Além desse problema, a Xiaomi enfrentou a dificuldade de internacionalizar-se sem apostar em lojas físicas. A Quantum, que é uma marca dentro do Grupo Positivo criada com estratégia de vendas similar, conseguiu sobreviver bem ao seu primeiro ano de existência por ter estandes em shoppings para que os consumidores pudessem experimentar o produto.

Em uma conversa com EXAME.com no ano passado, Hélio Rotenberg, presidente do Grupo Positivo, indicou essa medida como uma das chaves do sucesso da Quantum no Brasil, que agora já conta com diversos modelos de smartphones, como o Quantum Go, o MUV e o Fly.

Diferentemente do que fez a Quantum, que oferece um sistema Android livre de modificações e muito simples de ser adotado por quem já teve contato com outros smartphones com sistema Android, a Xiaomi apostou muitas fichas no seu sistema Mi UI. A Xiaomi chegou a se definir publicamente como "uma empresa de software que vende hardware".

Com visual ao estilo iOS, do iPhone, o Android da fabricante chinesa trazia uma tonelada de recursos adicionais que podem até ser interessantes para entusiastas de tecnologias, mas não são artigos desejados pelo grande público – que era o foco da companhia, dada sua apertada margem de lucro.

Até segunda ordem, a Xiaomi não tem previsão de lançar smartphones no Brasil. A empresa nem sequer se manifestou na Black Friday ou anunciou promoção de natal. Aliás, a última publicação na página da marca no Facebook data de 29 de junho de 2016 – e ela era a principal arma para promover seus produtos e interagir com os fãs, que eram chamados de "Mi Fãs".

Segundo uma reportagem de maio de 2016 do site Manual do Usuário, a produção de smartphones na fábrica de Jundiaí (SP) havia cessado há meses.

EXAME.com apurou que o SAC segue em funcionamento no país.

A Xiaomi enfrenta problemas não só no Brasil, mas internacionalmente também. Antes detentora da alcunha "Apple Chinesa", hoje ela perde espaço rapidamente para seus compatriotas. A OPPO e a vivo são duas empresas que se destacam atualmente no mercado chinês.

Edward Tse, fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, escreveu um artigo no site Tech In Asia no qual indica que os consumidores da Xiaomi queria mais além de smartphones bons e baratos. No entanto, ela simplesmente não conseguiu atendê-los, abrindo espaço para rivais tomarem a liderança do mercado e para derrubar suas vendas em 5% no primeiro trimestre de 2016 e 38% no segundo.

Apesar dos pesares, a Xiaomi não afirma ter saído oficialmente do mercado brasileiro. EXAME.com tentou contato com a empresa para comentar o caso, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

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