Exame Logo

Como construir robôs industriais que não matem humanos

Trágico acidente em fábrica da Volkswagen ressaltou um grande desafio tecnológico: como atingiremos um ponto no qual os robôs e os humanos possam coexistir?

Robô Industrial: a interação segura e eficiente de robôs e humanos tem o poder de transformar as linhas de montagem, o trabalho doméstico, a saúde e a logística (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2015 às 21h57.

Em junho deste ano, um homem morreu esmagado por um robô em uma fábrica da Volkswagen na Alemanha.

O operário de manutenção de 22 anos ficou preso entre um grande braço robótico e uma placa de metal, em uma área normalmente fora do limite para os humanos.

O trágico acidente ressaltou um grande desafio tecnológico: à medida que caminhamos em direção a um mundo cada vez mais automatizado, como atingiremos um ponto no qual os robôs e os humanos possam coexistir, dividindo espaço e colaborando nas tarefas?

A interação segura e eficiente de robôs e humanos -- chamada de “robótica colaborativa” ou “cobótica” -- tem o poder de transformar as linhas de montagem, o trabalho doméstico, a saúde e a logística.

As fabricantes de veículos e as gigantes aeroespaciais -- já bastante automatizadas -- foram as primeiras a adotar a tecnologia. A BAE Systems anunciou no início deste mês o plano de usar a cobótica para construir aviões de guerra.

Segregação

Atualmente, os robôs industriais são muito perigosos para dividir espaço com os humanos -- e foram relacionados a mais de 20 acidentes fatais apenas nos EUA --, por isso eles tendem a ser protegidos por grandes barreiras.

“Eles são ótimos para movimentar coisas pesadas a altas velocidades em funções monótonas, mas se movimentam cegamente e sem inteligência. Se mantêm contato com um humano, eles podem causar uma lesão séria e pessoas podem morrer”, diz José Saenz, do Instituto Fraunhofer para Operação e Automação Fabril, da Alemanha.

Diferentemente das gerações mais antigas de robôs, os “cobôs” têm sensores e recursos de segurança que permitem detectar e reagir a humanos próximos. Cria-se, assim, a dupla perfeita: a força e a precisão das máquinas se unem à capacidade dos funcionários de ver, sentir, pensar e adaptar.

Evitando lesões

Uma das precursoras da cobótica é a BMW. Em 2013, a empresa instalou robôs fabricados pela Universal Robots, da Dinamarca, em sua fábrica na Carolina do Sul, nos EUA, para ajudar os trabalhadores humanos a isolar e impermeabilizar as portas dos carros.

O robô espalha e cola o material enquanto o humano o mantém no lugar. Sem o robô, seria uma tarefa fisicamente incômoda que leva a lesões no pulso.

“Estamos interessados na ergonomia e na segurança. Um robô pode realizar tarefas repetitivas, como empurrar ou puxar, sem se machucar e ter que sair da linha de montagem por isso”, diz Rich Morris, da BMW, chefe de montagem e logística. “Os robôs trabalham junto com os funcionários e eles adoram”.

O que acontece se um humano se aproxima demais da máquina? “Primeiro ela te diz que você está chegando muito perto”, diz ele, “e depois ela para”.

Aprendendo por meio de demonstração

Os cobôs mais avançados são flexíveis do ponto de vista funcional, por isso o mesmo modelo pode facilmente alternar entre várias tarefas, como classificação, carregamento e manuseio de materiais.

O Baxter, da Rethink Robotics, tem dois braços e um rosto animado em uma tela que parece uma cabeça.

“Ele” pode aprender a realizar tarefas por meio de demonstração: o humano manipula os braços em uma sequência de posições uma vez e a máquina, então, repete a ação.

As expressões faciais na tela ajudam a sinalizar para os humanos que estão perto em que a máquina está focada e quando ela está confusa por causa de algum evento inesperado.

O primeiro robô Baxter a trabalhar fora do laboratório de pesquisa foi empregado na gigantesca confeitaria australiana Haigh's Chocolates, em fevereiro de 2015. Lá, “ele” não trabalha confinado, e sim lado a lado com os funcionários, pegando chocolates com bombas de sucção da linha de produção.

Quando estiverem bem estabelecidos e testados na indústria, os cobôs começarão a aparecer no ambiente doméstico, mas essa mudança apresentará desafios únicos.

“Em um ambiente industrial, as pessoas têm mais de 18 anos, aceitam trabalhar lá e utilizam óculos e sapatos de segurança. Em casa, as coisas se tornam mais complicadas com animais de estimação e bebês engatinhando pelo chão”, diz Saenz. “Mas o mercado é ainda maior”.

Com cada vez mais sistemas sendo criados para automatizar tarefas, diversas pesquisas mostram que muitos empregos serão afetados pela presença das máquinas, como os robôs. Mas, existem certas áreas que nem mesmo o computador mais eficiente conseguiria dominar. É isso o que mostra um levantamento feito pelo site de notícias norte-americano NPR, o qual calculava as chances de algumas profissões passarem a ser automatizadas pelos próximos 20 anos, com base em dados de uma pesquisa da Universidade de Oxford. Para criar essas projeções, os especialistas classificaram empregos em 21 industrias sob nove possíveis aspectos, entre eles inteligência, negociação, capacidade de ajudar o próximo e de caber em espaços pequenos. Quem trabalha com saúde, por exemplo, pode ter seu espaço garantido por muito mais tempo do que se imagina. Ficou curioso para saber se sua ocupação será afetada? Dê uma olhada na galeria a seguir:
  • 2. 25º Técnico da Ciência Forense

    2 /22(Getty Images)

  • Veja também

    Indústria: Ciências sociais e físicas Porcentagem de chance de automatização: 1%
  • 3. 24º Artista maquiador

    3 /22(Getty Images)

  • Indústria: serviços e cuidados pessoais Porcentagem de chance de automatização: 1%
  • 4. 23º Engenheiro mecânico

    4 /22(Getty Images)

    Indústria: arquitetura e engenharia Porcentagem de chance de automatização: 1,1%
  • 5. 21º Antropologista e arqueólogo

    5 /22(Getty Images)

    Indústria: ciências sociais, seres vivos e física Porcentagem de chance de automatização: 0,8%
  • 6. 20º Professor do ensino médio

    6 /22(Getty Images)

    Indústria: ciências sociais, seres vivos e física Porcentagem de chance de automatização: 0,8%
  • 7. 18º Gerente de Serviços Sociais

    7 /22(Getty Images)

    Indústria: gestão Porcentagem de chance de automatização: 0,7%
  • 8. 17º Gerente de serviço de saúde e medicina

    8 /22(Getty Images)

    Indústria: gestão Porcentagem de chance de automatização: 0,7%
  • 9. 16º Curador

    9 /22(Getty Images)

    Indústria: educação Porcentagem de chance de automatização: 0,7%
  • 10. 14º Analista de Sistemas de Computador

    10 /22(Getty Images)

    Indústria: computação e matemática Porcentagem de chance de automatização: 0,6%
  • 11. 13º Gestor de Educação

    11 /22(Getty Images)

    Indústria: gestão Porcentagem de chance de automatização: 0,5%
  • 12. 12º Cientista Médico

    12 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde e ciência Porcentagem de chance de automatização: 0,5%
  • 13. 11º Psicólogo clínico

    13 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde e ciência Porcentagem de chance de automatização: 0,5%
  • 14. 10º Pedicure

    14 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,5%
  • 15. 9º Cenógrafo

    15 /22(Getty Images)

    Indústria: arte, design, entretenimento, esportes e mídia Porcentagem de chance de automatização: 0,5%
  • 16. 8º Professor de Ensino Fundamental

    16 /22(Getty Images)

    Indústria: educação Porcentagem de chance de automatização: 0,4%
  • 17. 6º Cirurgião bucomaxilo

    17 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,4%
  • 18. 5º Nutricionista

    18 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,4%
  • 19. 4º Cirurgião

    19 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,4%
  • 20. 3º Dentista

    20 /22(Getty Images/EXAME.com)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,4%
  • 21. 1º Terapeuta ocupacional

    21 /22(Getty Images)

    Indústria: saúde Porcentagem de chance de automatização: 0,3%
  • 22. Agora veja as melhores empresas de tecnologia para trabalhar

    22 /22(Simon Dawson/Bloomberg)

  • Acompanhe tudo sobre:IndústriaIndústrias em geralRobôs

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Tecnologia

    Mais na Exame