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Steve Jobs pensa como consumidor, tem imaginação e curiosidade de sobra sobre tecnologia e habilidade de reunir de reunir pessoas inteligentes para executar seus projetos. Esse é o segredo da Apple, diz autor de biografia

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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2009 às 19h11.

Se existe uma lição principal que Steve Jobs tem a dar aos demais CEOs da indústria de tecnologia, ela é a forma de pensar como consumidor. Não apenas na retórica, como é padrão para boa parte deles, com o discurso desgastado sobre a importância de ouvir o cliente. Jobs pensa, age e reclama como consumidor - na prática. E o resultado disso são produtos inovadores como os da Apple. Essa relação intrínseca com os produtos e a tecnologia é uma das características que o tornam "Steve Jobs: a mente brilhante por trás da Apple", conforme diz o título do livro recém-publicado do escritor norte-americano Anthony Imbimbo. Em entrevista por telefone a EXAME, Imbimbo explicou detalhes sobre a personalidade genial e contraditória do principal líder da Apple. Veja os principais trechos:

Seu livro é chamado "Steve Jobs: a mente brilhante por trás da Apple". Como você poderia descrever esse executivo?
A coisa incrível sobre ele é que Jobs é um visionário. Ele é capaz de ver o valor das novas tecnologias muito antes de outras pessoas. Ele entende a tecnologia. Sua curiosidade o levou a desenvolver coisas como o computador pessoal. Ele consegue ver valor estético, tornando um objeto mais atraente, o que muitas pessoas não conseguem fazer. Ele está sempre perguntando a si mesmo: “como consigo tornar esse aparelho mais legal?”. Funcionalidade é uma grande questão para ele também.

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Quando ele pensa em um novo produto, qual é o consumidor que ele está imaginando?
Ele é seu próprio consumidor e é o mais animado do que qualquer um sobre as inovações. Uma vez que ele tem uma idéia, nada consegue destituí-lo. Ele tenta descobrir como fazer. A Apple olhava para o Mac como uma central digital, um lugar no qual você poderia interagir com informação digital, fotos, filmes, música. Isso foi perto do ano 2000. Depois, vieram os software iPhoto, iMusic e a loja de músicas iTunes, que mostrou que ele é além de um visionário de tecnologia, um grande estrategista.

Qual estratégia de Jobs você considera a mais importante de todos os tempos?
Existia muito medo das gravadoras sobre a digitalização da música. Existia realmente temor sobre a distribuição em massa pela internet. O que acontece é que Steve Jobs chegou para elas e disse: “nós resolvemos os problemas para vocês. As pessoas poderão baixar música para o Mac e nós ficaremos encarregados de cobrar por download”. Para as companhias, que estava lutando há anos para combater a distribuição ilegal de música, isso foi uma solução real. É necessário lembrar que para Steve Jobs vender música não é um negócio muito lucrativo. Ele tem margens baixas sobre as vendas, mas por outro lado, pode ganhar muito dinheiro com a venda de iPods.

Quais as principais lições que Jobs dá ao CEOs das empresas de tecnologia?
Se fosse possível ir a um laboratório e criar um Steve Jobs sintético, seria criada uma pessoa que pensa como consumidor, tem imaginação e curiosidade de sobra sobre tecnologia e tem habilidade de reunir de reunir pessoas inteligentes para executar seus projetos. Ele pensa no futuro, está cinco anos à frente. Estuda o que será possível até lá, quão pequenos serão os processadores e colocam os desenvolvedores para trabalhar sobre aquela realidade. Mas é importante dizer também que ele cometeu enganos. Quase vendeu a Pixar, por não ter percebido seu valor logo cedo. Apesar dos enganos, porém, ele fez algumas grandes apostas em tecnologia e já podemos ver para onde vai a indústria.

Em um discurso na universidade de Stanford, Jobs menciona duas situações de rejeição que enfrentou, uma quando foi colocado à adoção pela mãe biológica e outra quando foi forçado a sair da Apple, na década de 80. Alguns analistas dizem que sua recusa de admitir sua doença hoje está relacionada ao temor de enfrentar mais uma rejeição, de não ser visto como o homem forte e cheio de brilho que participa das apresentações da Apple. Você compartilha essa opinião?
Acho que o sigilo sobre a doença não tem relação direta com a rejeição. Aqueles sentimentos iniciais de abandono nos estágios iniciais de sua vida tiveram definitivamente impacto sobre ele, mas foram superados. Talvez ele tenha percebido ao tornar-se o líder da Apple que para cada pessoa que possivelmente o rejeitava, havia outra que o recebia bem. Ele tem sentimentos muito fortes em relação à sua mãe biológica e acredito que ele lidou com esse sentimento de rejeição há muito tempo. Ele já fez muitas coisas na vida. O sigilo agora é mais sobre o desejo de apresentar a Apple do melhor ângulo possível e ele também, de seu melhor ângulo, não deixando a doença em evidência. Ele faz isso para proteger a empresa e as informações que considera importantes.

Você acha que por ser uma empresa aberta, a Apple deveria ser mais transparente sobre as condições de saúde de Jobs, que é a cabeça da companhia?
Os investidores acham que têm o direito de ter acesso a essas informações, mas Steve discorda. Qual lado nesses dois grupos está certo ainda é uma questão. Uma vez que você é a pessoa mais importante em uma companhia pública, você tem que renunciar à privacidade de alguma forma. Eu não sei se ele vai voltar, mas se não retornar, a Apple vai ter muitas questões para garantir a mesma onda de criatividade que seguirá na companhia.

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