Brasil terá longa espera por rede 5G, que deve estrear no exterior em 2019
Na América Latina, o 5G só deve chegar em 2020 e não deve se massificar até 2025, prevê associação global de operadoras móveis
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de setembro de 2018 às 10h41.
Última atualização em 22 de setembro de 2018 às 10h41.
Brasília - Países como Estados Unidos, Coreia do Sul e China correm para ser pioneiros no lançamento da tecnologia 5G em 2019. A promessa é de avanços, como a possibilidade de médicos fazerem cirurgias à distância, por meio de robôs conectados à internet. Outra inovação será a Internet das Coisas, que permitirá que eletrodomésticos "aprendam" as preferências de seus usuários com o uso de inteligência artificial. Na América Latina, porém, o 5G só deve chegar em 2020 e não deve se massificar até 2025, prevê a GSMA, associação global de operadoras móveis.
"Ainda não se sabe qual será o primeiro país da América Latina a usar o 5G", disse Sebastian Cabello, diretor regional para a América Latina da GSMA. No caso do 3G, o primeiro experimento se deu no Chile, e o 4G começou no Uruguai.
O Brasil possui hoje 218 milhões de conexões móveis ativas, sendo 79% em smartphones. Pouco mais da metade (55%) já usa o 4G. Apesar de serem os maiores números da América Latina, segundo a GSMA, os dados refletem o atraso da região. No México, sede da Claro, são 109 milhões de conexões móveis ativas, 63% por smartphones e 24% com 4G.
O avanço em direção ao 5G será lento. Para 2025, a associação prevê que apenas 8% das conexões móveis da América Latina se darão pelo 5G e, inicialmente, em negócios entre empresas e nas conexões máquina a máquina.
Diretores da Anatel afirmam que o Brasil deve conviver com uma desigualdade tecnológica por muitos anos a partir do lançamento do 5G. Embora a agência já trabalhe para viabilizar o leilão de faixas para a nova tecnologia em 2019, a prioridade ainda é universalizar o acesso à internet banda larga. O 4G já está em mais de 4 mil municípios, onde vivem 94,5% da população, mas ainda há 2 mil localidades que não têm nem com sinal de celular 2G, tecnologia usada apenas para ligações de voz, sem acesso à web.
A ausência de internet móvel se espalha por todas as regiões do País e afeta 4 milhões de habitantes. São Paulo, por exemplo, possui áreas descobertas nos municípios de Cafelândia, Campo Limpo Paulista, Cananéia, Casa Branca, Cesário Lange, Ilhabela, Lavrinhas e Presidente Bernardes. "Querer que o Brasil esteja na ponta das discussões tecnológicas sem ter feito o dever de casa é vender ilusões", disse o conselheiro da Anatel Anibal Diniz. "Não faz sentido falar em 5G, Internet das Coisas, inteligência artificial e carros autônomos sendo que ainda não conseguimos universalizar o acesso à banda larga."
Recursos. O desafio do 5G será a formatação de um modelo que viabilize capital para a exploração dos novos serviços, disse o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude. A novidade deve ser o slicing, sub-redes dentro de uma mesma rede que vão dar prioridade a alguns aplicativos em detrimento de outros. "Provavelmente esse modelo não estará nas pessoas físicas, mas nas empresas, a partir da Internet das Coisas. Talvez tenhamos algo mais concreto em dois ou três anos", disse.
A prioridade no Brasil é encontrar formas de financiar novas redes de fibra óptica, disse o diretor da Anatel. Neste ano, a agência reguladora enviou ao governo projetos de lei que direcionam taxas pagas por operadoras a esses investimentos. Hoje, a legislação só permite que o dinheiro seja usado nas redes de telefonia fixa.
A despeito do atraso tecnológico, o Brasil faz um trabalho prévio para receber as novas tecnologias. Diniz destacou que a Anatel propôs ao governo taxação zero para a Internet das Coisas. Sem a mudança, seria necessário pagar para habilitar o chip de cada eletrodoméstico conectado - hoje, o valor por chip de celular é de R$ 26. A proposta precisa passar pelo Executivo e também pelo Legislativo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.